Sim, houve 1 mil e quinhentas prisões, o que não é pouco, e mais de 1 mil golpistas terroristas bolsonaristas fascistas e outros istas permanecem presos. Sim, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi afastado do cargo. Sim, o comandante da PM foi substituído e está preso. Sim, o secretário de Segurança do DF, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, está preso.
É verdade esse bilete.
Mas…, e Bolsonaro, o mentor, o incentivador, o grande responsável por tudo o que aconteceu? Vai continuar impune, livre, leve e solto, passeando na Flórida e usando as redes sociais para manter acesa a chama da insurreição antidemocrata que turbinou os ataques aos três poderes basilares da República no dia 8 de janeiro?
Durante os quatro anos de seu tenebroso desgoverno, Bolsonaro pavimentou sistematicamente o terreno para a ação terrorista que resultou na destruição dos plenários e das instalações das sedes dos três poderes, além da perda de bens culturais de valor inestimável. Sem falar que contribuiu e deu a inspiração para a ocorrência de cenas deploráveis e nojentas como a do bolsonarista infame que usou a mesa diretora do Senado como tobogã. Ou a do cretino irresponsável que se deixou filmar defecando no Palácio do Planalto. Em cada ato desses estão nítidas as dez digitais de Bolsonaro. Durante todo o seu mandato, ele e os filhos ameaçaram – e até tentaram, como ocorreu no 7 de setembro de 2022 – dar um golpe de estado. Como disse o ministro Alexandre Padilha, “Bolsonaro e o bolsonarismo são os mentores intelectuais da tentativa de golpe”. (…) Bolsonaro vem incentivando isso ao longo de quatro anos. Criou um ambiente contra o STF, atacou a integridade física dos ministros”. Parêntese: diferentemente do ministro Padilha, recuso-me a usar a expressão “mentor intelectual” em relação a Bolsonaro por não identificar nele qualquer vestígio de intelectualidade. Fecha parêntese.
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EFalta alguém em Nuremberg m 1947 o jornalista David Nasser lançou um livro que rapidamente virou best-seller, chamado Falta alguém em Nuremberg, no qual detalhou as atrocidades cometidas pelo chefe de Polícia de Getúlio Vargas, Capitão Filinto Sirubling Müller, e seus agentes, que executaram as mais torpes torturas contra presos políticos durante o Estado Novo, entre eles Carlos Marighella. O título do livro remete ao tribunal de Nuremberg, a cidade alemã onde os algozes nazistas responsáveis pelo holocausto que assassinou mais de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra foram julgados e condenados.
Neste momento, no Brasil, falta alguém em Nuremberg. É revoltante saber que a mais serena impunidade protege Bolsonaro, mentor e incentivador das atrocidades cometidas contra o patrimônio público e à cultura brasileira com a destruição ou dano irreversível de diversas obras de arte instaladas nos prédios que abrigam os três poderes e que foram alvo da insânia de uma corja de vândalos. Corja que se inspirou nele, um capitão golpista desde a raiz, expulso do exército por insuflar ações terroristas e que foi alçado à presidência da república por um desses acasos eleitorais que a democracia permite. Durante sua estadia no Palácio do Planalto, fez jus ao epíteto de “genocida” pela forma irresponsável e criminosa como tratou a pandemia, em razão da qual foi denunciado ao tribunal internacional de Haia. E não é por menos. Bolsonaro contribuiu decisivamente para tirar a vida de pelo menos 480 mil pessoas vítimas de sua sabotagem contra as vacinas e seu ostensivo descaso com os cuidados sanitários. Debochou dos mortos e de suas famílias ao imitar a falta de ar das vítimas da Covid e se lixar para que m morreu. “E daí? Eu não sou coveiro”. Sustentou dia e noite uma retórica golpista tosca, simbolizada no espetáculo deprimente daquele desfile de fumacentos tanques de guerra em frente ao Palácio do Planalto nas “comemorações” do 7 de setembro de 2021. Celebrou e enalteceu dia e noite o armamentismo e homenageou os piores torturadores do regime militar.
Há um aspecto que ainda não foi devidamente capturado nas análises dos atos terroristas do dia 8 de janeiro. É o de que não se tratou de uma manifestação exclusivamente anti-Lula. Fosse assim os ataques teriam se resumido à invasão do Palácio do Planalto, sede do poder Executivo. A ação orquestrada, planejada, patrocinada e insuflada por Bolsonaro e seus asseclas visou a própria democracia, pois se estendeu simultaneamente às sedes dos três poderes. E é bom que fique claro que a ação, que diversos analistas afirmam ter resultado no fortalecimento de Luiz Inácio Lula da Silva, precisa ser igualmente – e humildemente – avaliada como uma vitória dos que a planejaram e a executaram. Vitória, sim, porque o objetivo foi plenamente alcançado, com a ocupação e a vandalização de espaços públicos simbólicos às estruturas democráticas do país. Ou seja: os idealizadores atingiram seu objetivo. Foi como se dissessem: “Viram do que somos capazes?”
Por isso, é urgente que um Xandão desses faça chegar os rigores da lei a Bolsonaro, o “capo de tutti capi”, esteja ele onde estiver. Já passa da hora de serem tomadas providências para seu retorno ao Brasil. Ressalva: evito usar a palavra “extradição” porque ela só se aplica aos processados ou condenados, o que infelizmente ainda não é o caso de Bolsonaro. Mas é urgente, essencial e inadiável que o capitão seja alcançado pela lei e pague pelos crimes que cometeu por meio de seus agentes, seja durante os longos quatro anos de presidência, seja nos dias em que, mesmo fora dela, fomentou os acontecimentos deploráveis e repulsivos do dia 8 de janeiro. Sim, entendo que não é fácil pelas enormes implicações que um ato desses teria, mas a prisão de Bolsonaro ao desembarcar em território brasileiro seria não apenas um ato de justiça, mas igualmente um ato pedagógico e simbólico para o futuro das instituições democráticas. Sem prejuízo, é claro, de uma reforma profunda das instituições militares, onde viceja a planta maligna do golpismo plantado ali desde a Guerra do Paraguai. Não à toa, até hoje são lidas ordens do dia todo 31 de março, com loas à ditadura militar de 64. Mas a prisão – e a condenação exemplar de Bolsonaro e sua corja, sem direito a qualquer tipo de anistia – seria avaliada pelas futuras gerações como se a democracia, renovada e fortalecida em suas bases, dissesse, em resposta aos que a vandalizaram:
-Viram do que sou capaz?
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