A eleição presidencial de 2014 poderá incluir uma batalha dos netos: o do comunista Miguel Arraes (Eduardo Campos, PSB) contra o do conservador Tancredo Neves (Aécio Neves, PSDB).
O primeiro avô, um bravo guerreiro, resistiu como pôde aos golpistas de 1964.
O segundo avô é suspeito de, embora fosse oposicionista (moderado), haver tramado a derrota das diretas-já, para depois obter a Presidência da República pela via indireta.
Político sem carisma para uma vencer uma disputa nacional nas urnas (nem de longe era páreo para Leonel Brizola), teria fechado acordo com aqueles filhotes da ditadura dispostos a tudo para manterem-se no poder após a derrocada da dita cuja. Até de votarem contra a Emenda Dante de Oliveira e, no momento seguinte, darem uma guinada de 180º, abandonando a canoa furada dos fardados e indo ajudar o Maquiavel de Minas a ser vitorioso no colégio eleitoral.
Quando se discute a existência ou não de Deus, vem-me sempre à mente um excelente motivo para responder afirmativamente: o fato de Tancredo Neves ter ganhado, mas não levado, em 1985. Seríamos outro país se houvéssemos saído da ditadura pela porta da frente.
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Mas, ter ancestral respeitável não significa que Campos vá seguir-lhe os passos. Hoje não boto a mão no fogo por personagem nenhum da política oficial.
No terreno das possibilidades, assim como fui dos primeiros a perceber que Fernando Collor era mais do que um azarão em 1989, tenho a mesma intuição no caso de Campos.
Porque aquela campanha e a próxima coincidem num aspecto: o profundo desencanto popular com a estagnação dominante e com os políticos mais associados às mazelas amplamente repudiadas. Quando o povo está saturado das feias caras de sempre, tende a voltar-se para os outsiders, ou os que aparentam sê-lo.
Collor não era, só enganava bem.
Campos também fica convincente no papel. A incógnita é se, em algum ponto do trajeto, vai honrar o legado familiar e a orientação socialista do seu partido, ou optará por ser apenas mais do mesmo: outro esquerdista que endireita para tornar-se palatável aos poderosos. Seu empenho em seduzir o grande empresariado aponta na última direção.
Há espaço para ele ocupar, se tiver o beneplácito dos donos do Brasil; afinal, a safra de presidenciáveis é das mais chinfrins.
O sempre previsível Aécio Neves não está decolando e salta aos olhos que o desnorteado José Serra jamais decolará. O PSDB parece fadado a apoiar candidato de outro partido, caso haja 2º turno.
Marina Silva também não leva jeito de repetir 2010. Foi a outsider daquele pleito e o bom desempenho a levou a fazer planos mirabolantes, sem perceber que tais situações são únicas na vida e em quatro anos tudo muda.
Passado o atrativo da novidade, sobra-lhe quase nada, até porque sustentabilidade nunca foi uma grande preocupação dos brasileiros. A Marina agora está mais para enésima reprise na sessão da tarde ou sobras requentadas servidas no jantar: não empolga ninguém.
Dilma, com seu governo opaco e sem imaginação num momento que clama por estratégias ousadas, bem fará se não considerar a reeleição como favas contadas; o meu palpite é que vá ganhar no 1º turno ou perder no 2º.
Lula seria a bola de segurança do PT, praticamente imbatível mesmo numa campanha que promete ser marcada por surpresas e intempéries, ao contrário das últimas. Resta saber se conseguirá tirar a batata da indicação do fogo sem queimar os dedos.
Na minha avaliação, sua relutância em assumir-se candidato se deve ao fato de a pupila querer ardentemente a reeleição; não é do feitio de Lula entrar em divididas.
Mas, se a permanência petista no poder correr sério risco, não tenho dúvidas de que ele prazerosamente aceitará a missão de ser o salvador da pátria.
As apostas estão abertas.
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