A repentina vantagem de Jair Bolsonaro (PL) em relação a Lula (PT) na região Sudeste, contrariando as projeções das pesquisas, bem como a grande distorção em favor do atual presidente no resultado das pesquisas para governadores e senadores, foi um dos temas abordados pelos analistas convidados a participar do Congresso em Foco Talk desta segunda-feira (3). No debate, um detalhe foi consenso entre os participantes: os institutos de pesquisa carecem no atual momento de mecanismos que permitam acompanhar a evolução de grupos de extrema-direita no Brasil.
Ricardo Cappelli, atual secretário de Comunicação Social do Maranhão, conta que o grau de distorção das pesquisas com relação aos resultados nos estados foi elevado demais para se considerar uma falha pontual. “É um fenômeno estrutural que vem desde 2018. (…) 2022 repete a reta final de 2018, demonstrando que a força da extrema-direita no Brasil é mais real e poderosa do que as pesquisas têm conseguido demonstrar”, declarou.
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Confira a conversa:
A professora Luciana Veiga, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), avalia que os institutos de pesquisa terão que renovar seus instrumentos e métodos de análise para a nova realidade eleitoral. “É preciso aprimorar um instrumento que seja capaz de detectar a possibilidade de volatilidade. Outro ponto que vamos ter que olhar é até que ponto as pessoas estão falando a verdade, até que ponto as pessoas estão falando o que realmente sentem”, apontou.
Ultramobilização
Essa nova realidade eleitoral, de acordo com Capelli, é de um cenário de imprevisibilidade por parte da militância de aplicativos de mensagens privadas, como Whatsapp e Telegram, constantemente subestimados nas análises de tráfego. “Você não consegue fazer o monitoramento de forma precisa do que acontece nesses aplicativos. E você tem o histórico de operação de fora para dentro do Brasil pesada no Whatsapp. (…) E ainda tem outro detalhe que as pesquisas não conseguem captar porque há muitas redes em setores estruturados da sociedade que são redes fechadas: coletivos de bolhas fechadas ultramobilizadas”, explicou.
Essa ultramobilização é, na avaliação de Luciana Veiga, o principal fator de peso na dificuldade em monitorar o crescimento da extrema-direita. “A esquerda aprendeu a montar sua estrutura, mas a estrutura da direita tem uma capacidade maior de ser mais reativa e organizada, ainda que a gente pudesse achar, até muito pouco tempo atrás, que nada superaria a mobilização do PT. (…) Isso faz uma mobilização rápida e silenciosa, e as pesquisas precisam encontrar uma maneira de captar isso, porque a gente não pode ficar a toda eleição vulnerável a essa questão de última hora”, alertou.
Também participou o sociólogo Arilton Freres, diretor do Instituto Opinião, que chamou atenção para alguns detalhes metodológicos que já poderiam ser estudados por institutos de pesquisa. “Deveríamos também fazer uma ponderação por religião. (…) Talvez o voto evangélico muito organizado possa estar exercendo uma influência direta nessas viradas de última hora. Esse pode ser um caminho”, ponderou. O especialista também chama atenção para o fato da base de dados dos institutos estar desatualizada com a falta de censos demográficos, não sendo possível obter um retrato preciso de qual é de fato o perfil do eleitor médio.
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