A conjuntura política e econômica do Brasil, quando analisada sob a ótica dos fatores internos, apresenta um cenário de relativa estabilidade, apesar dos desafios inerentes a um país de dimensões continentais e complexidades sociais e institucionais. No entanto, quando ampliamos a análise para o cenário externo, especialmente no contexto das relações internacionais e da economia global, a instabilidade e a imprevisibilidade emergem como fatores de preocupação. Esta coluna busca explorar essa dualidade, destacando como o controle interno contrasta com a volatilidade externa e como essa dinâmica pode influenciar o futuro do País.
No plano político, o Brasil tem demonstrado uma capacidade notável de manter a estabilidade institucional, mesmo em meio a uma polarização política acentuada e a uma fragmentação partidária no Congresso Nacional. Eventos que poderiam gerar crises, como as eleições municipais, a votação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, e a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, transcorreram dentro da normalidade democrática. A escolha das presidências das Comissões do Congresso e a reforma ministerial também ocorreram sem grandes sobressaltos, indicando que as instituições brasileiras têm conseguido absorver e gerenciar as tensões políticas.
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A atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) tem sido outro fator de estabilidade. Decisões polêmicas, como as relacionadas às emendas parlamentares e a possível condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, não geraram os temidos impactos desestabilizadores. Isso sugere que, apesar dos ruídos políticos, há um entendimento tácito entre os atores institucionais com poder decisório de que a manutenção da ordem democrática é prioritária.
No plano econômico, os desafios são significativos, mas também parecem estar sob controle. A volatilidade do câmbio, a alta da taxa Selic e a inflação de alimentos são problemas que remontam a decisões anteriores, muitas delas tomadas pelo Banco Central e agências reguladoras sob gestões passadas. A especulação com o dólar futuro e o aumento das tarifas de energia elétrica, por exemplo, foram fatores que contribuíram para a pressão inflacionária. No entanto, com a nova gestão econômica, há expectativa de que esses indicadores voltem a patamares mais racionais, sem motivações políticas que possam agravar o cenário.
Enquanto o cenário interno parece estar sob controle, o mesmo não pode ser dito em relação ao contexto externo. A principal fonte de preocupação é a imprevisibilidade das ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cujas decisões frequentemente são tomadas com base em impulsos políticos e ideológicos, sem uma avaliação cuidadosa de seus impactos globais. Essa imprevisibilidade pode ter reflexos diretos na economia e na política brasileira.
Um dos riscos é a possibilidade de Trump tomar partido em favor de aliados de extrema-direita no Brasil, especialmente em reação a uma eventual condenação de Bolsonaro pelo STF. Tal cenário poderia gerar tensões diplomáticas e até mesmo retaliações econômicas, como a imposição de tarifas comerciais injustas sobre produtos brasileiros. Além disso, a regulamentação das big techs no Brasil e sua taxação, ainda que estejam em linha com iniciativas de países da OCDE, pode ser vista como uma ameaça aos interesses norte-americanos, levando a medidas protecionistas que afetariam negativamente as relações bilaterais.
A sensibilidade do mercado a movimentos políticos também é um fator preocupante. Qualquer ruído nas relações entre Brasil e Estados Unidos pode gerar volatilidade nos mercados financeiros, impactando o câmbio, as taxas de juros e a confiança dos investidores. Nesse sentido, a capacidade de negociação política e diplomática dos dois governos será crucial para evitar conflitos que possam colocar em risco a tranquilidade interna do Brasil.
A conjuntura política e econômica do Brasil, portanto, apresenta um cenário paradoxal. Internamente, apesar dos desafios, as instituições têm demonstrado resiliência e capacidade de manter a estabilidade. No entanto, a instabilidade externa, especialmente em relação às ações dos Estados Unidos, representa um risco significativo que não pode ser ignorado.
Para mitigar esses riscos, é essencial que o Brasil fortaleça sua diplomacia e suas relações comerciais com outros parceiros globais, reduzindo a dependência de um único ator internacional. Além disso, a manutenção de políticas econômicas sólidas e previsíveis será fundamental para garantir que o País continue atraindo investimentos e mantendo a confiança dos mercados.
Em última análise, o desafio do Brasil será equilibrar o controle interno com uma gestão externa proativa e estratégica, capaz de navegar pelas incertezas globais sem comprometer a estabilidade conquistada. A capacidade de adaptação e negociação, sem renúncia à soberania do País, será, sem dúvida, um fator determinante para o sucesso nesse cenário complexo e dinâmico.
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