Mesmo após a sua repentina troca de legenda para o União Brasil, o ex-juiz Sergio Moro permanece contando com o apoio de partidários do Podemos. Em conversa com o Congresso em Foco, o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) afirmou que o até então candidato à presidência já conversava com parlamentares sobre a possibilidade de mudança de sigla antes das eleições, bem como sobre os riscos envolvidos.
“Desde o ano passado já havia entendimento com o União Brasil da parte dele. Ele percebeu que o enfrentamento seria desproporcional. (…) Desde o ano passado, todos se lembram que em dezembro houve convite do União Brasil, e nós chegamos a liberar o Sergio Moro para que ele pudesse buscar uma estrutura maior”, relembra o senador, que complementa: “nós não nos consideramos traídos”.
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A declaração de Dias contraria a nota divulgada pelo Podemos, assinada pela presidente do partido, Renata Abreu, na última quinta-feira (31) que afirmava que a legenda não havia sido comunicada pelo ex-juiz da Lava Jato da troca de partido e que a informação chegou pela imprensa
Segundo o parlamentar, a mudança de partido “foi um movimento para buscar uma estrutura mais consistente, que pudesse viabilizar, nos entendimentos do centro democrático, a sua candidatura em razão da posição nas pesquisas. Ele concluiu que no Podemos ele teria menos forças nas negociações. (…) Isso o motivou a fazer essa mudança, mas sempre conversando conosco”.
Essa mudança, ao seu ver, não mudou a visão do Podemos sobre o ex-juiz da Operação Lava-Jato. “Nós temos que considerar a importância do papel que ele desempenhou para o país nos últimos anos. (…) Foi um momento crucial para o futuro do país, (…) nós não esquecemos desse patrimônio que ele adquiriu na magistratura”, afirmou.
Álvaro Dias não acha realista a possibilidade de Moro tentar retornar ao Podemos, mas caso ocorra, não acha que vá enfrentar resistência. “Eu não teria dificuldade em recebê-lo, e imagino que o partido também não. (…) Ele só valorizaria o partido se ele retornasse. Mas creio que não é esse o propósito, e não vejo a possibilidade disso ocorrer, uma vez que ele tomou uma decisão pessoal. Foi uma opção que fez, e certamente não pretende retornar”, declarou.
PublicidadeConfira a fala completa sobre a visão do Podemos sobre Moro:
As acusações de fraude em seus julgamentos na Lava-Jato, em especial no julgamento do ex-presidente Lula, são vistos por Álvaro Dias como uma tentativa de parte dos agentes políticos no Brasil de conseguir vingança após a operação. “Para essa vingança, capturam uma versão distorcida da realidade. Se na Itália, na Operação Mãos Limpas, eles conseguiram condenar a justiça, fazendo prevalecer a corrupção, aqui eles querem mais”, disse.
Impacto no Podemos
A busca pela inclusão de Moro em seus quadros foi uma campanha antiga do Podemos, que propôs a sua indicação para o cargo de ministro da justiça durante a campanha presidencial de Álvaro Dias em 2018. Com sua saída, o Podemos precisou mudar seus planos para o período eleitoral, mas Alvaro Dias considera que o impacto não chegou a comprometer a campanha.
“As peças já estavam postas. Não há alteração de estrutura. As chapas já estavam organizadas na realidade. Em relação a isso, não houve comprometimento. Não há prejuízo em relação a eleição proporcional. O que nós perdemos foi o porta-voz maior do partido que, na condição de candidato à presidência, colocava em destaque a nossa sigla”, explicou o senador.
Na disputa presidencial, porém, o Podemos terá que fazer uma nova escolha, devendo ainda debater se lança um novo candidato ou se passa a apoiar um candidato de terceira via de outro partido. Álvaro Dias inclusive não descarta a possibilidade de apoio à candidatura de Ciro Gomes, apesar de considerar este como um nome pouco provável, tendo em vista a dificuldade deste em articular com outros partidos.
Causa sistêmica
Álvaro Dias atribui à forma de organização da distribuição de verbas de campanha como principal responsável pela saída de Sergio Moro, e defende que sua mudança de partido seja um dos motivos pela qual o Podemos deverá permanecer combativo com relação ao fundo eleitoral. No atual sistema, estabelecido com base no resultado das eleições anteriores, o União leva vantagem, contando hoje com a maior parcela do fundo para investimento em campanha.
“O fundo eleitoral se sobrepõe hoje às ideias, às propostas, às causas, às bandeiras que eventualmente os partidos possam sustentar. O fundo eleitoral colocou no lugar da política um grande fundão de negócios, isso é o que tem prevalecido. Nós precisamos acabar com esse modelo de financiamento de campanha, que é absurdamente desproporcional”, apontou.
O União Brasil, nesse cenário, ganha um poder considerável de atração de candidatos com maior capital político. “Ele passou a ser a atração fatal. Quem é que resiste ao União Brasil e ao seu caixa enorme? (…) Esse modelo político está condenado. Não temos mais partidos, temos siglas. A mudança de partidos é a coisa mais espontânea e natural, não pode ser assim”.
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