Com a publicação das recentes resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para as eleições de 2024, todos os olhos estavam voltados para as regras que iriam moldar o futuro das campanhas. No entanto, uma reviravolta surgiu com o anúncio do Google sobre a proibição do impulsionamento e da veiculação de anúncios políticos em suas plataformas, a partir de maio deste ano. Essa decisão tem um peso significativo, não apenas para os partidos e candidatos estabelecidos, mas sobretudo para novatos que aspiram a cargos políticos, como é o caso de um candidato a vereador estreante.
Longe de tecer críticas à pertinência das resoluções do TSE, diante de um óbvio cenário de desinformação e fake news que compromete, e muito, a qualidade das informações em uma campanha – e da democracia, no fim das contas – , a medida do Google responde diretamente às normas rigorosas impostas pelo TSE alterando substancialmente a forma contemporânea como as campanhas alcançam seus eleitores. Para candidatos novatos, que ainda estão construindo sua presença e reconhecimento público, a mudança representa um desafio ainda maior.
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O digital, até então, era um campo razoavelmente nivelado, onde ferramentas como o Google Ads e o YouTube permitiam que mensagens personalizadas e direcionadas alcançassem eleitores específicos com custos controláveis. Com a proibição de anúncios políticos por uma gigante como o Google, candidatos novos e com recursos limitados enfrentarão dificuldades maiores para se destacar em um ambiente já saturado e dominado por figuras políticas mais estabelecidas e partidos maiores.
A proibição surge em um momento crítico, onde a necessidade de inovação nas estratégias de campanha se torna mais evidente. Sem poder contar com o alcance direto e segmentado proporcionado pelas plataformas do Google, novos candidatos terão que explorar outros métodos para engajar o eleitorado. Isso pode incluir o aumento da presença em outras redes sociais que ainda permitem o impulsionamento de conteúdo político, maior dependência de campanhas de base e eventos comunitários, e uma ênfase renovada em métodos tradicionais de campanha como panfletagem e reuniões públicas.
A decisão do Google pode reviver discussões sobre a equidade nas campanhas, levantando questões sobre as vantagens que os candidatos mais ricos e os partidos maiores possuem. Isso ilustra um panorama onde o cenário digital, antes visto como um equalizador, agora poderia favorecer aqueles que já têm uma base de apoio estabelecida e ampla visibilidade.
Nesse cenário, onde o impulsionamento de conteúdo pago enfrenta restrições e o combate à desinformação é prioritário, o valor do planejamento estratégico de campanha, bem como o uso eficaz de pesquisas e análise de dados, torna-se ainda mais significativo. Um planejamento de campanha detalhado, que inclua análises de dados demográficos e comportamentais do eleitorado, pode orientar a criação de conteúdo orgânico relevante e engajador.
As pesquisas de opinião e sondagens, por exemplo, oferecem insights valiosos sobre as preocupações e preferências dos eleitores, permitindo que os candidatos alinhem suas mensagens e propostas às expectativas e necessidades reais da população. A utilização de análises preditivas e monitoramento em tempo real das tendências nas redes sociais, por exemplo, pode ajudar a ajustar as estratégias de campanha de forma dinâmica, garantindo que as abordagens se mantenham efetivas e pertinentes ao longo do período eleitoral.
O conteúdo orgânico, que não envolve pagamento para sua promoção, depende fortemente do valor que oferece ao eleitorado. Candidatos podem se beneficiar ao focar em estratégias como a criação de conteúdo informativo e educacional que esclarece políticas e posições, a realização de transmissões ao vivo para responder perguntas dos eleitores em tempo real, e o uso de depoimentos e histórias pessoais que humanizem o candidato e fortaleçam sua conexão com o público. Talvez essas novas resoluções tragam uma oportunidade de resgatarmos o valor de uma comunicação política baseada em informações mais robustas.
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