Altamir Tojal*
Os dias seguintes à reeleição de Dilma estão sendo difíceis para o governo e tudo indica que isso vai piorar, deixando os petistas cada vez mais estressados. O aceno ao diálogo, no discurso da vitória, não convence. A presidente anunciou mais do mesmo e priorizou o projeto de reforma política que o partido quer para seguir no poder para sempre. Mesmo suada, a vitória parece ter embriagado a cúpula do partido e atiçado a tropa de choque, que seguiu com as provocações, deboches e agressões ao candidato derrotado e a seus eleitores, como se a campanha eleitoral não tivesse terminado.
A Câmara de Deputados não esperou a poeira assentar e rejeitou o decreto de criação dos chamados conselhos populares, projeto estratégico para controlar o que resta de autonomia na administração pública e para anular qualquer possibilidade de atuação independente do Congresso Nacional. Logo em seguida, Dilma teve de recuar (pela segunda vez) da ideia de um plebiscito para impor a sua reforma política. E o escândalo do “Petrolão Lava a Jato” envolveu mais personagens do governo, do partido e aliados.
Sucessão de desgostos
Na economia, o Banco Central teve de aumentar os juros já estratosféricos, uma medida que a candidata Dilma atribuía ao repertório de maldades da oposição. Para piorar, o governo teve de divulgar o rombo recorde de R$ 25 bilhões nas contas públicas e vai ter de pedir ao Congresso para mudar a Lei Orçamentária para se salvar do descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. A única vitória do PT na semana foi impedir a votação do processo de cassação do deputado André Vargas na Comissão de Constituição e Justiça. Vargas é aquele amigo do Youssef que abriu as portas do Ministério da Saúde para o laboratório da organização criminosa que colabora com o tesoureiro do partido.
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A sucessão de desgostos talvez explique o mau humor dos petistas mesmo depois de vencer a eleição. Muitos estavam assustados no domingo 26 de outubro de 2014. Talvez a maioria. Aécio estava perto de Dilma, podia virar o jogo e ganhar a eleição. Era para a proclamação da vitória de Dilma ter desestressado esse pessoal.
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Mas parece que fica cada vez mais difícil sustentar o discurso de que o PT tem o monopólio da bondade e que não importam a incompetência, a mentira, a roubalheira e a desconstrução da democracia. E tem a ala da intolerância, cuja ferocidade aumenta a cada iniciativa e a cada pronunciamento da oposição, esbravejando acusações de golpismo e atacando a imprensa crítica. Esse pessoal só vai relaxar se puder dar um tiro na nuca do último adversário.
Tudo indica que a temporada de notícias ruins está apenas começando para o PT e o humor petista vai ficar ainda mais azedo. Será que vão ter fôlego para manter o clima de guerra da campanha eleitoral por muito tempo? Ou vão baixar as armas? Comenta-se que entregarão de vez a política econômica aos banqueiros. E vão ter de dar uma fatia maior do bolo do poder ao PMDB e outros partidos da base alugada. A conferir. Cabe lembrar que nessa troca de interesses está em jogo o controle total do poder judiciário, da imprensa e do sistema eleitoral. E os parceiros de hoje são candidatos a bodes expiatórios amanhã. Isso num organismo que depende da corrupção para respirar.
Conta
Nas democracias, a vitória na eleição dá legitimidade, mas não necessariamente sustentação política a quem vence. Pessoas que votam por interesse, medo e enganadas pela propaganda não são do tipo que dão sustentação a governos, a não ser por mais interesse, mais medo e mais mentira. E essa gente também começa a ficar desconfiada e apreensiva com a distância entre a propaganda e o gesto. O que será que o PT vai fazer com o preço da gasolina e as tarifas de energia? E com os investimentos em infraestrutura e mobilidade? Como vai destravar a indústria? Quando a saúde pública vai funcionar?
A metade do Brasil que foi dormir triste no domingo 26 de outubro de 2014 acordou na segunda com disposição para dobrar a aposta na democracia e no Brasil. Iniciativas de ação política estão acontecendo por todo o país, algumas talvez com açodamento e confusão, mas a maioria lúcidas e amadurecidas pela dureza da campanha eleitoral. Os 51 milhões de brasileiros que votaram em Aécio constituem uma multidão heterogênea, motivada por insatisfação e indignação, sem muita identidade política. Mas é inegável que o campo da resistência ao PT aumentou e diversificou. A derrota trouxe também vitórias importantes para a oposição, cuja responsabilidade aumentou. A conta da vitória ficou cara para o PT e parece que a vida vai continuar dura para a presidente por algum tempo.
* Altamir Tojal é jornalista e escritor. Texto originalmente publicado no blog Este mundo possível
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