Quando criamos esse projeto denominado Legis-Ativo, o intuito era levar adiante os dois princípios basilares do Movimento Voto Consciente em seus quase quarenta anos de história: fortalecer a democracia a partir de ações de educação política e valorizar os parlamentos como espaços estratégicos da representação plural da sociedade. Juntamos um time extremamente qualificado, estabelecemos parcerias com meios de comunicação e outras organizações, e hoje publicamos semanalmente no Congresso em Foco dois podcasts – um em alinhamento com a Associação Brasileira de Escolas do Legislativo e Contas (ABEL) e outro com o apoio da Fundação Konrad Adenauer do Brasil (KAS). Além disso, dois textos de análise escritos de forma alternada por 20 cientistas políticos. Se olharmos para o nível de quem está envolvido nesses esforços, a percepção é de que somos muito grandes.
Tão grande quanto o desafio de colocarmos a política num local merecido e condizente com o que significa Democracia em nossas vidas. Mas infelizmente, nem tudo é positivo nesse universo. Acentuamos de forma expressiva uma polarização ácida e agressiva em nossa realidade, assim como percebemos que continuamos a produzir apatia e distanciamento. Impressiona como o ódio e o descaso caminham estranhamente juntos e promovem o que há de desafiador para a Democracia prosperar: falta de responsabilidade e ausência de sensação de pertencimento.
Leia também
Mas nem tudo é negativo nessa trajetória. Deixo de lado o projeto Legis-Ativo para observar outras iniciativas, algumas delas extremamente potentes e impactantes. Os dois maiores movimentos de educação política no Brasil hoje são: a Rede Nacional de Educação Cidadã e o Programa de Educação Política da Organização de Cooperativas Brasileiras (OCB) e seus sistemas estaduais integrados, com destaque para o Paraná. Em comum, a crença de ambos os movimentos de que conhecer a política é essencial para os avanços da Democracia em nosso país. A partir disso, a Rede reúne iniciativas públicas e privadas, enquanto as cooperativas percebem o caráter estratégico da ação política para a defesa de agendas e conscientização. Dois universos incríveis a serem conhecidos.
Dito isso, mais um ponto positivo: empresas estão percebendo, a seus modos, o quanto a política é essencial para a nossa realidade, sobretudo nas realidades econômicas. Aqui o cérebro se sobrepõe ao fígado, a inteligência supera a raiva, a ciência supera o ódio. Política impacta negócios, realidades e interesses. Ganha força o universo estruturado das ações de relações governamentais, por um lado, e os programas de responsabilidade social por outro. Isso também demanda educação política, pois atuação exige saberes específicos e técnicos cada dia mais complexos e desafiadores.
Com base em tais afirmações, uma pesquisa da consultoria EY com conselhos de empresas de seis países das Américas mostra algo muito especial para este debate. Ao todo, foram 350 entrevistas em 2024, e a comparação com os resultados de 2023 é muito interessante. O estudo está fortemente concentrado no universo dos negócios, mas algo chama a atenção para o que trato aqui. Diante da “evolução das prioridades do Conselho para 2024 (% dos conselheiros respondentes que classificam o assunto entre os cinco principais)” o termo “riscos políticos” foi aquele que registrou o maior salto em um conjunto de nove itens. Foi de 29% em 2023 para 45% em 2024, ou seja, cresceu cerca de 50%, algo sem paralelos na lista. Em primeiro lugar, para termos uma dimensão: “condições econômicas”, que foi de 80% para 82%. Note: estamos em conselhos de empresas, e parece óbvio que aspectos econômicos liderem prioridades. Mas quem imaginaria esse avanço do universo político? Um segundo passo, assim, começa aqui: o tema cresce, se torna muito mais relevante, e o quanto a educação política pode contribuir para que empresas atuem de forma mais estruturada, consciente e democrática? É sobre isso: a Democracia será respeitada ser for fortalecida. Estratégica a política é, agora basta ser algo conhecido e vivenciado com base em valores. Isso é possível e já é realizado. Fortalecer é fundamental. A Democracia agradece.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br
Publicidade
Deixe um comentário