O mundo ficou pequeno. Pequeno e rápido. Qualquer fato, não importa em que lugar do mundo ocorra, rapidamente se espalha. O que foi notícia no passado pode ser recuperado e divulgado com facilidade, como por exemplo, matérias jornalísticas de 1871. Esses dias li uma entrevista de Karl Marx concedida para R. Landor, do jornal The Word, e publicada em 18 de julho de 1871.
Karl Marx (1818-1883) nasceu na Alemanha e, por perseguição política, foi viver em Londres, onde escreveu O Capital e foi um dos fundadores da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) – a Internacional, simplesmente.
O site revela que a conversa entre Marx e Landor “teve uma testemunha privilegiada: Friedrich Engels, o coautor do Manifesto Comunista…”.
Na introdução da entrevista, R. Landor afirma que lhe foi pedido que descobrisse “algo sobre a Associação Internacional dos Trabalhadores, e eu tentei”. Escreve Landor: “Visitei dois dirigentes, conversei com um deles livremente, e aqui está o resultado dessa conversa. Convenci-me de que a Associação é uma autêntica agremiação de trabalhadores”.
Landor afirma que, na entrevista com Karl Marx, ele foi direto ao assunto: “O mundo, disse eu, parecia não entender a Internacional, odiando-a, mas incapaz de dizer com clareza do que sentia ódio.” (negrito meu) “Alguns declararam ter visto nela uma cabeça de Jano com o sorriso honesto e franco de um trabalhador em um de seus rostos e, no outro, uma carranca assassina e conspiradora. Ele (Karl Marx) poderia esclarecer o mistério em que estava imersa a teoria?”
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Ao que respondeu Marx: “Não há mistério nenhum para solucionar, caro senhor, exceto, talvez, o mistério da ignorância humana…” (negrito meu)
PublicidadeTambém na entrevista o senhor R. Landor procura de Marx a resposta à suposta conspiração da Associação Internacional do Trabalho na luta da Comuna de Paris. Diz o entrevistador: “A polícia francesa declarou estar em condições de provar a cumplicidade da Associação nos últimos acontecimentos (negrito meu), para não falar naqueles que os precederam”.
Karl Marx nega a conspiração e explica os fatos relativos à Comuna de Paris, ao que o jornalista comenta: “Será difícil para a Europa evitar essa impressão (da conspiração), vendo todos os jornais franceses espalharem a notícia (negrito meu)”. Ao que Marx reage e pega um exemplar de um jornal francês e diz: “Veja, aqui está um deles (pegando um exemplar do La Situation) e julgue o senhor mesmo o valor das evidências. Ele lê: ‘O doutor Karl Marx, da Internacional, foi preso na Bélgica, tentando abrir caminho para a França. A polícia de Londres já vem observando a associação a que ele está ligado e, no momento, está tomando providências para acabar com ela’. Duas frases e duas mentiras. O senhor pode comprovar as evidências com os seus próprios olhos. Como vê, ao invés de estar preso na Bélgica, estou em casa, na Inglaterra”. (negrito meu)
Coloquei essas frases em negrito para fazer as seguintes observações.
A primeira é que, mesmo sem conhecer a Internacional, o mundo a odiava, mas era incapaz de dizer com clareza do que sentia ódio.
Essa frase me trouxe ao presente, na eleição recente: muitos e muitas dizem odiar o PT e a Dilma, e perguntados por que, simplesmente respondem de maneira infantil: “Porque sim”.
A segunda mentira: desde que surgiram imprensa e polícia, elas criam conspirações e mentem. Isso não era diferente no século XIX, pelo menos é o que fica claro nessa entrevista quando Marx, de posse do La Situation, “prova” não estar preso.
Sempre parte da imprensa (Veja, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Gazeta do Povo, TV Globo) brasileira desinformou e mentiu, mas, no último período, aproveitou-se demais da ignorância humana. Aproveitou tanto que quase decidiu uma eleição.
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