O levantamento feito pela Polícia Militar indicou a presença de sete mil pessoas no domingo (27) no ato “Filia Brasil” do PL. Um número que chegou a provocar dúvidas até mesmo em alguns dos organizadores do evento. Na área fechada do Centro Internacional de Convenções, cabem quatro mil pessoas sentadas. Os militantes estavam em pé, e não havia cadeiras. Portanto, poderia caber mais de quatro mil. Mas eles ocupavam a parte mais próxima do palco, onde estava o presidente Jair Bolsonaro e as demais autoridades. O restante do salão ficou vazio.
Com sete mil pessoas ou não, o fato é que o evento ficou longe de ser um ato de filiação partidária, como acabou sendo oficialmente anunciado. Ficou mesmo mais com cara de comício de Bolsonaro. De lançamento da sua pré-candidatura à reeleição, como ele mesmo admitiu na véspera. Os advogados mudaram o caráter oficial do ato com medo de uma interpretação da Justiça Eleitoral de que fosse campanha antecipada, mas em tudo acabou sendo assim a percepção.
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E, com cara de comício, o evento deixou claro qual deverá ser a estratégia eleitoral de Bolsonaro. O presidente claramente pretende transformar a sua tentativa de reeleição numa trajetória de herói com pegada bíblica. Apresentar-se como uma espécie de predestinado, de escolhido.
O locutor de rodeios Cuiabano Lima tratou por diversas vezes Bolsonaro por seu nome do meio, “Messias”, para pontuar ainda mais o caráter bíblico. Chamou o adversário de Bolsonaro na disputa de “Barrabás”, o ladrão que foi libertado da crucificação no lugar de Jesus Cristo. E disse que a Justiça, “os tribunais”, fizeram com Lula o que Pôncio Pilatos fez com Barrabás, “lavaram as mãos”. Está dado o tom da campanha. Como disse o próprio Bolsonaro, uma “luta do bem contra o mal”.
Em um canto do auditório, dando pulinhos emocionados com uma Bíblia nas mãos, Marilena dos Santos, evangélica da Igreja Mundial do Poder de Deus, representava bem o público que Bolsonaro pretende conquistar com esse discurso. E, para além dos votos, como o presidente pode cogitar valer-se desse público mais fiel e entusiasmado: como um “exército”.
PublicidadeEssa foi a parte perigosa do discurso de Bolsonaro. Ao dizer que ele faria de tudo para “defender a democracia”, “contra quem seja”, Bolsonaro referiu-se a um “exército”. Talvez sua militância desarmada. Talvez sua militância armada, vinda dos apoios militares e de polícias que ele tem.
Bolsonaro diz que são os demais poderes que insistiriam em agir “fora das quatro linhas da Constituição”. Mas não foi nenhum outro chefe de poder quem admitiu, em discurso público, como ele no domingo, que agir dentro dessas tais “quatro linhas” lhe “embrulha o estômago”.
É, portanto, para Bolsonaro, alguém que admite saudades da ditadura militar, aquela que Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, dizia ter “ódio e nojo”, que a Constituição parece ser indigesta.
O tom maniqueísta dado por Bolsonaro ao ato de domingo não é nada bom. É preocupante.
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