Em plena campanha eleitoral de 2022, estruturas armadas com dinheiro público e financiamento privado funcionaram como cenário e palanque político a serviço de uma única candidatura. Candidatura essa, em vias de desespero, pois a menos de um mês das eleições, já não há mais dúvidas, salvo uma hecatombe, de que Bolsonaro será derrotado nas urnas eletrônicas.
Em boa parte do Brasil, são bandeirolas, estruturas metálicas de camarotes, quilômetros de gradeados de proteção, mobilização de funcionários públicos de todos os ministérios e secretarias de governos e prefeituras, aviões da FAB, paraquedistas, blindados, navios e todo o arsenal ideológico e simbólico das forças armadas à serviço da campanha à reeleição do presidente, de modo claro, inequívoco e cristalino, à luz do dia e às barbas da Justiça eleitoral.
Válido mencionar igualmente, além do abuso de autoridade, do uso da máquina pública e dos crimes eleitorais citados acima, o caixa dois e a propaganda eleitoral cruzada, onde empresários patrocinam outdoors, faixas, panfletos, carros, caminhões, adesivos e pessoal para mobilização. Será que tudo isso consta na prestação de contas do candidato? Aliás, dos candidatos, pois o cenário acabou se replicando em várias partes do país, servindo de palco para candidatos alinhados ao presidente.
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Patrocinado com dinheiro público, todo esse circo armado para o espetáculo eleitoral, que começou com o passeio turístico do coração de Dom Pedro I, manteve em evidência os flertes com o golpismo: o presidente da República discursou como de praxe, fazendo ameaças veladas à democracia e declarando que a história poderia se repetir, referindo-se a golpes de Estado anteriores, diante de apoiadores alienados que carregavam faixas em favor de intervenção militar.
Em seu discurso no comício do marido, a primeira-dama Michelle Bolsonaro aproveitou para dar uma aula de antidemocracia, destilando mais uma vez o veneno do fascismo: “O inimigo não vai vencer”, disse Michelle. Para quem não sabe, na democracia, trata-se o oponente como adversário e não como inimigo ou um “mal” a ser combatido. O contrário é emblema do fascismo e do nazismo. Quando digo mais uma vez, é que recentemente, a atual esposa do presidente atacou às religiões de matriz africana, por diferentes da sua; Hitler, fazia o mesmo contra os judeus. No mais, Bolsonaro e sua esposa falaram mais uma vez em defesa da “família”; vale perguntar a quais famílias eles estavam se referindo, pois, enquanto a família Bolsonaro possui 101 imóveis, sendo 51 comprados em dinheiro vivo e sem explicação da origem do dinheiro, há milhares de brasileiros sem teto para abrigar suas famílias.
PublicidadeA data do 7 de setembro deveria ser lembrada não apenas como a data da fundação de nosso chão, enquanto país do ponto de vista formal. Uma “independência” não se dá do dia para a noite, mas em um processo, que, inclusive, ainda não concluímos. Esta data deveria ser marcada não por desfiles militares que em nada têm a ver com a cidadania efetiva de nosso povo, mas por reflexões entre civis, na tentativa de discutirmos os rumos a serem tomados para garantir aos brasileiros uma independência verdadeira, a caminho da construção de uma nação, com garantia real de direitos, redução das nossas escandalosas desigualdades sociais, econômicas, raciais e de gênero e como nos lembra Leonardo Boff, conclusão da nossa refundação ao invés de prolongamento da nossa dependência em relação a outras nações.
Neste dia 7 de setembro de 2022, a nação brasileira deveria ter prestado contas aos seus compatriotas sobre o que fez e o que fará para resolver o problema da fome de milhares de nossos irmãos que neste exato momento não têm o que comer. O Brasil só será independente quando concluir seu processo de descolonização e funcionar para todos, dando ouvidos a um grito que continua ecoando forte no coração dos que têm coração: o Grito dos Excluídos.
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