Logo no seu primeiro dia de governo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a saída do país do Acordo do Paris, principal iniciativa mundial de enfrentamento à crise climática. A decisão foi tomada com base no discurso de que políticas de transição à economia verde teriam ferido a economia americana, que retornará a um modelo voltado ao uso de combustíveis fósseis.
Em passagem por Brasília para tratar da COP30, o embaixador do clima da Suécia, Mattias Frumerie, expressou a jornalistas a leitura de que, ao sair do pacto, Donald Trump na prática enfraquece as oportunidades disponíveis ao desenvolvimento dos Estados Unidos.
“Por mais que nós lamentamos a decisão pela saída, nós também não conseguimos enxergar que isso seja em benefício deles. Enquanto o resto do mundo avança na transição climática, ele também colhe os benefícios dessa transição. (…) Eles estão perdendo a oportunidade de fazer parte desse movimento, de garantir com que a transição traga empregos ao seu povo”, disse o embaixador vinculado ao Ministério do Clima no governo sueco.
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Um dos benefícios do desenvolvimento voltado à crise climática, conforme apontou Frumerie, trata exatamente de um dos pontos-chave da nova política econômica de Donald Trump. Em seu discurso de posse, o presidente americano anunciou o plano de expansão da escavação dos poços de petróleo no estado do Alaska, mirando tanto a exportação de combustível quanto a redução do preço interno.
Do outro lado, um dos pontos principais da transição climática é a chamada geração justa, que inclui a adaptação de setores que deixarão de existir diante do esgotamento de determinados recursos naturais para que seus trabalhadores permaneçam inseridos no mercado. Isso inclui a capacitação de petroleiros para após a depleção dos poços onde trabalham.
Mattias Frumiere acrescenta que, mesmo em outros setores, os Estados Unidos terão dificuldades para preservar seu nível de desenvolvimento fora do esforço mundial de transição econômica.
“A transição verde já acontece nos Estados Unidos, onde companhias suecas, brasileiras e de outros países investem e fornecem novas formas de tecnologia, tanto para a transição energética quanto para a indústria em geral. Nós vemos, por exemplo, que os custos com energia renovável já são menores do que os do uso de combustíveis fósseis. A partir de certo ponto, a equação econômica não vai mais se encaixar na [nova] abordagem adotada para a ação climática”, ponderou.
Reação federativa
Esta não é a primeira vez em que os Estados Unidos se afastam da política climática no mundo. Donald Trump adotou a mesma postura em sua primeira gestão, de 2017 até o final de 2020. Nesse período, o governo americano evitou a participação direta nos debates das respectivas edições da COP. Mattias Frumiere imagina que não vá ser diferente na COP30, mas que ainda é cedo para saber as ações concretas que serão adotadas pelo país.
Por outro lado, ele relembra que, nas conferências anteriores, a ausência do governo americano foi compensada pelos entes federados. “Tivemos um número de COPs onde governadores de estados, legisladores e atores da sociedade civil estiveram presentes para destacar o engajamento na transição ecológica. Então esperamos um movimento semelhante”, relembrou. A maior esperança é na Califórnia, estado que lidera a transição ecológica no país.
O engajamento federativo, inclusive, pode ser o principal freio para Donald Trump em sua política de enfrentamento à adaptação climática. “Os investimentos de fundos climáticos já beneficiaram muitos estados republicanos. (…) Pode ser difícil para a nova administração revogar tudo isso, pois podem enfrentar resistência exatamente desses estados que se beneficiaram”, ressaltou o representante sueco.
Por outro lado, ele destaca que esse suporte não é o bastante para suprir completamente um eventual vácuo americano. “Ações individuais de estados americanos não conseguem replicar o que eles poderiam como país. Elas entram como algo complementar”.