A posse do novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi sucedida por uma semana de alívio no mercado cambial brasileiro. O preço do dólar, que alcançou uma máxima histórica em dezembro de 2024, entrou em queda, retornando na quinta-feira (23) à faixa inferior a R$ 6,00. De acordo com o economista Marcelo Valle, professor de relações internacionais do Centro Universitário de Brasília (Ceub), essa tendência se mantém no curto prazo, mas deve se reverter na medida em que as políticas tarifárias do chefe de Estado americano tomam forma.
O economista relembra que a própria eleição de Trump foi um dos motivos para a alta do no último mês de dezembro. “Havia uma expectativa de que ele adotaria práticas protecionistas, tal como ele fez no primeiro mandato, no sentido de ampliar a competitividade da economia norte-americana. Isso tende a valorizar o Dólar em relação a outras moedas”, ponderou. Questões internas no Brasil, como a dificuldade do governo de conter o déficit fiscal e os índices de inflação intensificaram a situação, desvalorizando o real.
Ao longo da primeira semana da nova gestão de Donald Trump, Marcelo Valle explica que houve um ajuste de expectativas entre agentes de mercado, que optaram por uma observação mais pragmática a respeito das decisões que possam impactar na economia americana. “Isso tende a fazer com que aquele excesso de especulação pré-posse volte um pouco, retornando ao patamar histórico”, disse. O professor acha pouco provável, porém, que a moeda americana retorne ao patamar do início de 2024, quando estava abaixo de R$ 5,00.
Leia também
Alta a longo prazo
Se no primeiro momento no segundo mandato de Donald Trump o preço do Dólar caminha rumo a uma baixa, o professor antecipa que, caso ele cumpra suas promessas, a maior probabilidade é de aumento em seu preço em relação ao Real. “A tendência é que realmente haja um aumento da tarifa para produtos brasileiros. Isso tende a provocar um efeito inflacionário no Brasil, desvalorizando a nossa moeda e forçando um aumento da taxa de juros”.
Parte desse efeito está condicionado a um elemento fora do controle de Donald Trump: tal como no Brasil, o presidente disputa com a autoridade monetária local, o Federal Reserve System (FED), pela redução na taxa de juros. Seu objetivo é, com isso, atrair os investimentos necessários para alavancar a produção local e possibilitar o abastecimento local para impor tarifas de importação. Com isso, o grau adotado de protecionismo fica condicionado à movimentação do FED.
Outros países também tendem a responder impondo suas próprias tarifas sobre a importação de produtos americanos, o que também pode forçar Donald Trump a distensionar seu próprio protecionismo. Esse fenômeno já começou a tomar forma no relacionamento com a China, com quem explora a possibilidade de regularização das relações comerciais na forma de um acordo.
O economista considera que o cenário no longo prazo deverá ser de valorização do Dólar, mas a níveis inferiores aos desejados por Trump. “O que se espera é que parte da dureza desse argumento norte-americano acabe depois arrefecendo para uma relação diplomática mais pragmática. Porque também não seria interessante pros Estados Unidos se todos os países subissem as tarifas de importação para produtos oriundos dos próprios Estados Unidos”.
Deixe um comentário