O processo de repatriação dos turistas brasileiros que se encontram retidos em território peruano começa nesta sexta-feira (20). Contudo, brasileiros que aguardam o retorno ao Brasil relatam dificuldades na comunicação com a embaixada, o consulado e companhias aéreas responsáveis pela viagem, além da falta de assistência por parte do governo brasileiro. O Peru está em Estado de Emergência e possui 86 casos de pessoas infectados pelo covid-19, segundo o boletim mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado na última quarta (18).
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Após negociações entre o Brasil e outros países, o governo do Peru cedeu e autorizou, na última terça (17), a repatriação de estrangeiros. O regresso dos brasileiros que estão em Lima está sendo administrado pela embaixada do Brasil, instalada na capital peruana, e será realizado pelas empresas aéreas Latam e Gol. Estão previstos dois voos, sendo um de cada empresa, com destino ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Entretanto, até a publicação desta reportagem não havia uma lista definida dos passageiros e nem o horário de partida, segundo informações do Itamaraty.
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Desamparados e sem assistência
O paulistano Guilherme Ferreira, 27, está a passeio em Lima, desde o último domingo (15). Ele e um parente tomam remédio controlado para a saúde e relatam estarem apreensivos sobre a possibilidade de extensão do prazo de repatriamento. “Não sei até quando vamos ficar aqui. O remédio de minha tia só dura até domingo e não estamos tendo respostas concretas do que vai acontecer e estamos preocupados. Não estamos recebendo muito apoio aqui”, conta.
O turista brasileiro Alexandre relata a rotina na capital peruana. “Aqui no Peru está em estado de emergência. Proibido sair de casa entre 20h e 5h da manhã. Fora desse período só pode sair para mercado, farmácia e banco. As coisas no mercado estão acabando”, diz o paulistano, que prefere se identificar apenas pelo primeiro nome: “Estamos sendo hostilizados no Brasil”, justifica.
Alexandre descreve dificuldades que outros turistas brasileiros estão passando enquanto aguardam a repatriação. “Estamos ficando sem dinheiro. Muitos não tem onde ficar”, compartilha. Ele e a esposa estão em Lima desde o último sábado (14) e tentaram, sem êxito, antecipar a volta ao Brasil para a última segunda (16), antes do fechamento das fronteiras.
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A companhia aérea enviou uma mensagem informando que “como o Peru tem as fronteiras fechadas todos os voos estão cancelados e ainda não temos como reativá-los”. E que a única alternativa é tentar validar o voo no aeroporto por repatriação. De acordo com ele, esse foi o último contato que teve com a companhia.
Problemas de comunicação com a embaixada brasileira também estão sendo enfrentados. Em Lima, a embaixada está fechada e as redes sociais foram disponibilizados para estabelecer o contato, mas não estão funcionando plenamente. “Só estão atendendo pelo Whatsapp e Facebook . Mas está congestionado”, explica Alexandre.
Os brasileiros estavam impossibilitados de sair do país desde a última segunda (16) quando o presidente do Peru, Martín Vizcarra, determinou o fechamento das fronteiras por 15 dias, como uma forma preventiva do surgimento de novos casos de infectados pelo coronavírus.
Dificuldades de comunicação
A gaúcha Lisiane Ramos, 28, também enfrenta dificuldades de comunicação com os responsáveis pela logística do repatriamento. “A Latam não começou a contatar ninguém e a Gol apenas entrou em contato com as pessoas de Lima. O governo brasileiro foi questionado várias vezes e sempre dá a mesma resposta padrão: ‘pede para ficar no hotel , diz que o consulado está negociando…'”, fala.
Ela diz que esse tipo de resposta padrão, com poucas informações, abre brecha para golpes. “Tem muita gente recebendo mensagem de pessoas que se dizem de companhia aéreas, pedindo informações sensíveis, pedindo números de documento e dados, cobrando por alteração de passagem. Também tem muita gente se arriscando, tentando ir por terra para voltar ao Brasil pela divisa com o Acre”, alerta.
Lisiane desembarcou em Cusco no dia do anúncio do fechamento de fronteiras . Ela relata que a cidade está abastecida, mas que não é aconselhável caminhar na rua. “A gente tem medo de sair na rua e ser abordado pela polícia. A rotina aqui é basicamente ficar no hotel e sair apenas em situações emergenciais”.
Ela conta que os brasileiros que aguardam o repatriamento se organizaram em grupos de Whatsapp para compartilhar novas atualizações e trocar experiências. “Temos mais ou menos cinco grupos de Whatsapp, então acredito que tenhamos reunidos pelo menos umas 600 pessoas”, estima.
Em nota, o Itamaraty diz que está “trabalhando com total prioridade para viabilizar, em coordenação com outros órgãos, o retorno ao Brasil dos viajantes brasileiros”, e que a lista de passageiros que vão retornar ao país está sendo organizada pelas próprias companhias aéreas.
Outros obstáculos
Ederson Oliveira, 33, aponta possíveis obstáculos para a realização do repatriamento, já que não há meios de transporte para o aeroporto. “Não se pode sair nas ruas, e Uber e táxi não funcionam. Não há ônibus para o aeroporto”, explica.
O paulistano também relata os mesmos problemas de comunicação enfrentados pelos outros brasileiros. “Algumas pessoas estão recebendo contato da Gol. Mas muitas não tem celular que permita receber ligações em outro país. As pessoas com passagem da Latam não foram contactadas. Não sabemos se devemos ir para o aeroporto ou não”, diz.
Confira a íntegra da nota do Itamaraty
“As embaixadas e consulados do Brasil no exterior, assim como o Itamaraty em Brasília, estão trabalhando com total prioridade para viabilizar, em coordenação com outros órgãos, o retorno ao Brasil dos viajantes brasileiros,
Confirmamos que as empresas LATAM e Gol operarão um voo (cada) de Lima para São Paulo (GRU) com turistas brasileiros que se encontram retidos no Peru. A lista de passageiros está sendo organizada pelas próprias companhias aéreas e o número total de passageiros ainda não está consolidado.
A Embaixada do Brasil em Lima continua fazendo gestões junto às companhias aéreas para viabilizar o regresso dos demais brasileiros retidos naquele país, em especial Cusco.”
Confira a íntegra do comunicado emitido pela embaixada do Brasil em Lima:
Confira a íntegra do comunicado emitido pelo Ministério do Turismo:
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