Fui aos dicionários. Num, oligarca é definido como “empresário ou industrial (há diferença entre eles?) milionário e politicamente influente”. Noutro, há a ideia de que pessoas se tornam oligarcas mediante alguns, ou muitos, desrespeitos às leis vigentes. A ideia deriva de oligarquia, governo de poucos, que definem as políticas em benefício de poucos: eles mesmos.
Após o ato criminoso de Putin na Ucrânia, cresceram as menções aos oligarcas russos que o apoiam e sustentam. Já os nossos milionários politicamente influentes – isto é, oligarcas – recebem outros títulos.
Na maioria das democracias ocidentais é difícil negar que também ali tente a prevalecer, com variações, o “governo de poucos, que definem as políticas em benefício deles mesmos“. Eles, aqueles que sustentam os mandatários.
Se um bilionário ocidental – muitos dos quais têm larga folha corrida – é bilionário, e não oligarca, que diferença isso faz?
Muita! Ganhar mais e mais dinheiro é o sonho vendido por poucos e comprado por muitos. Bilionário é sucesso, oligarca é condenação! Isso, embora as muitas definições, nas várias fontes, atribuam a uns e outros as mesmas características de serem poucos, muito ricos, terem influência e comando sobre a coisa pública. Acordado este ponto, que diferença resta?
Leia também
É possível e até provável que, no pequeno grupo de “milionários politicamente influentes”, muitos sejam honestos. Mas muitos não o são. As diferenças de linguagem não são irrelevantes. Sugerem que os oligarcas deles são maus, os nossos bilionários são bons!!! Será?
PublicidadeAs palavras escolhidas para designar uns e outros ofuscam as semelhanças que, se não são plenas, são abundantes, e continuamos sem democracia, com as decisões de governos voltadas para os interesses de poucos!
Lá e cá!
Os riscos que todos nós – até mesmo os oligarcas – vivemos neste século 21 são de enorme poder destruidor; ainda assim, persistem políticas públicas que os favorecem; governo de poucos para poucos, que parecem esperar a duvidosa glória de serem os últimos a morrer, de seca ou enchente ou queimados em mais uma onda de calor.
Não se pode, por outro lado, esquecer as diferenças. As leis vigentes facilitam, ou dificultam, o predomínio dos oligarcas ou milionários. Não por outra razão há países com elevada qualidade de vida para a maioria da sua população, assim como o oposto. Entre estes últimos, nos quais se inclui o Brasil, não apenas as leis eleitorais, mas também as tributárias e as de administração pública, entre outras, facilitam tal predomínio, em detrimento da maioria.
Quando se fala da urgente necessidade de reformas, no Brasil, raramente se diz que um dos objetivos fundamentais de tais mudanças deveria ser inverter a inclinação do campo de jogo, favorecendo os hoje menos favorecidos pelo nascimento e riqueza.
Infelizmente, nesse início de campanha eleitoral, praticamente nada se ouve nesse sentido. O que nos condena a continuar por mais alguns anos no atoleiro em nos encontramos, não todos nós, mas todos que não somos oligarcas, ou milionários.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário