Apesar de criticar constantemente as relações econômicas e diplomáticas das gestões de Lula e Dilma Rousseff com países governados pela esquerda, como Venezuela e Cuba, onde há restrições às liberdades civis e denúncias de violação aos direitos humanos, o presidente Jair Bolsonaro coleciona amizades com líderes mundiais ditatoriais e autocráticos. Defensor declarado do golpe militar de 1964, Bolsonaro tem protagonizado alianças políticas e econômicas com ditadores de direita, ao mesmo tempo em que acusa o seu adversário, o ex-presidente Lula (PT), de planejar acabar com as liberdades individuais em um eventual novo governo.
Ao contrário das gestões petistas, que adotaram uma política de cooperação com repúblicas socialistas como Angola, Moçambique, Cuba, Nicarágua e Venezuela, Bolsonaro demonstra interesse por países de duas regiões específicas: os do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita e Bahrein, e os do Leste Europeu, em especial a Rússia e a Hungria.
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Ditaduras e ditaduras
Os ditadores com os quais Bolsonaro mantém bom relacionamento seguem sua mesma orientação política, compartilham da postura conservadora defendida pelo presidente. Essa relação é explicada em outra reportagem do Congresso em Foco.
No debate do último domingo (16), promovido pela Band, pelo UOL, pela TV Cultura e pela Folha de S.Paulo, depois de questionar Lula por sua relação com governos autoritários de esquerda, Bolsonaro fez uma defesa da democracia: “Eu quero um país livre, um país onde seja respeitada a liberdade de expressão”.
PublicidadeUm discurso que nada lembra a defesa exaltada feita por ele da ditadura no Brasil. “O erro da ditadura foi torturar e não matar”, disse ele, em julho de 2016, em participação no programa Pânico. “No período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique”, afirmou em 1999 ao defender o fechamento do Congresso.
Bolsonaro demonstra admiração por líderes de direita, enquanto expressa ojeriza pelos presidentes Nicolás Maduro, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua, entre outros.
Irmão e solidariedade
Na Hungria, o presidente Viktor Orbán, já chamado de “irmão” por Bolsonaro, governa desde 2010 em um regime classificado pelo parlamento europeu como uma “autocracia eletiva”. Em audiência pública no Senado sobre ataques à imprensa, o jornalista brasileiro Jamil Chade chegou a relatar uma tentativa de assassinato de jornalistas que presenciou no país.
A Rússia, onde Bolsonaro se reuniu com o presidente Vladimir Putin e ao qual declarou solidariedade às vésperas do início da guerra com a Ucrânia, também vive sob um regime autocrata de extrema direita. A imprensa local é submetida a um órgão oficial de fiscalização, a homofobia é institucionalizada, prisões e atentados contra opositores são uma constante. No próprio Congresso Nacional russo, a Duma, não há espaço para atividade de partidos de oposição.
A situação é ainda pior no Golfo Pérsico, para onde viajaram o Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado reeleito Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Eduardo tentou fazer propaganda de sua relação com as lideranças dessas nações. Países como Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Bahrein possuem regimes monárquicos em que todas as principais instituições são controladas direta ou indiretamente pelas famílias reais. No índice de democracias da revista The Economist de 2021, esses países compartilham com Cuba, Venezuela e Nicarágua a categoria de regimes autoritários.
Jornalista esquartejado
Bolsonaro se encontrou em outubro de 2019 com o príncipe saudita Mohamed Bin Salman durante reunião do G20 no Japão. O presidente brasileiro disse ter “certa afinidade” com Salman. O príncipe é acusado internacionalmente de ter ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018, no consulado da Arábia Saudita em Istambul. Crítico do regime saudita, o jornalista foi torturado, morto e esquartejado. De acordo com relatório dos Estados Unidos, o príncipe foi o principal responsável pelo assassinato do jornalista.
“Desde 2017, o príncipe herdeiro tem controle absoluto sobre as organizações de segurança e inteligência do reino”, diz relatório de inteligência do governo dos Estados Unidos divulgado em 2021. “O príncipe herdeiro via Khashoggi como uma ameaça ao país e apoiava de modo geral o uso de medidas violentas, se necessário, para silenciá-lo”, afirma o texto.