A organização não-governamental B’Tselem divulgou uma nota condenando os ataques do grupo Hamas a Israel, mas também a resposta militar do governo israelense. Segundo a ONG, “uma injustiça não justifica outra e um crime não autoriza outro”: a nota diz que “nada pode justificar” os crimes do Hamas, mas estes “não transformam os crimes de Israel – atuais e futuros – em legais ou justificáveis”.
A B’Tselem é uma ONG baseada em Jerusalém, com o objetivo de documentar e registrar violações de direitos humanos cometidas pelo governo de Israel. A entidade, que em seu site se apresenta como “centro israelense de informação para direitos humanos nos territórios ocupados”, descreve a situação entre Israel e Palestina como um “apartheid”, “indissociável das violações aos direitos humanos”. Segundo a nota, “o B’Tselem defende o fim desse regime como único caminho para um futuro no qual os direitos humanos, a democracia, a liberdade e a igualdade sejam garantidos para ambos os povos; palestinos e israelenses, vivendo entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo”.
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“Precisamos dizer o óbvio: conclamar Israel a deter a vingança não significa, de maneira alguma, mitigar o horror das ações do Hamas”, diz o documento. “Criticar tanto o Hamas como Israel não representa uma simetria ou permite comparações. Não se trata de um jogo com soma zero; o volume de dor e trauma no mundo não é finito.”
Leia abaixo a íntegra da nota do B’Tselem.
“Sofrimento não justifica sofrimento; uma injustiça não justifica outra e um crime não autoriza outro
Declaração do B’Tselem
PublicidadeIsrael está preparando o ingresso de milhares de soldados na Faixa de Gaza a qualquer momento, lançando uma invasão por terra de proporções ainda desconhecidas. Na semana passada, dirigentes políticos e comandantes militares israelenses conclamaram à vingança, prometendo arrasar Gaza e causar danos inimagináveis a centenas de milhares de civis. Precisamos pôr um fim a isso agora.
No dia 7 de outubro, membros do Hamas cometeram crimes horríveis no Sul de Israel. Mataram mais de 1.300 pessoas, sequestraram mais de cem e deixaram milhares de feridos. Dezenas de pessoas ainda estão desaparecidas.
A cada dia são revelados novos e horríveis detalhes. A cada dia, mais e mais famílias enterram seus entes queridos – e as histórias de sobrevivência –, assim como o temor pelo que acontecerá com os sequestrados são trágicas e dolorosas demais para serem traduzidas em simples palavras. Nada pode justificar esses crimes.
No entanto, outra campanha cruel de vingança contra os dois milhões de moradores de Gaza – atualmente em seu nono dia – com ministros e comandantes prometendo que há mais por vir, é absurda. Os crimes do Hamas não transformam os crimes de Israel – atuais e futuros – em legais ou justificáveis.
Israel vem bombardeando Gaza indiscriminadamente há mais de uma semana. Os ataques mataram mais de 2.000 palestinos, incluindo mais de 700 crianças e dezenas de famílias inteiras. Bairros foram totalmente destruídos, as pessoas estão vivendo sem água e energia elétrica e há centenas de milhares de deslocados dentro de Gaza. Tudo isso é completamente proibido. E uma invasão por terra irá amplificar o horror a um grau inimaginável. Isso não deve ser permitido.
Precisamos dizer o óbvio: conclamar Israel a deter a vingança não significa, de maneira alguma, mitigar o horror das ações do Hamas. Criticar tanto o Hamas como Israel não representa uma simetria ou permite comparações. Não se trata de um jogo com soma zero; o volume de dor e trauma no mundo não é finito.
Sofrimento não justifica sofrimento, uma injustiça não justifica outra e um crime não autoriza outro. A vingança não pode ser um plano de Estado. Podemos – e devemos – exigir outras soluções que não sejam baseadas em mais mortes, destruição e perdas. Mas, sim, na compreensão essencial de que todos os seres humanos são iguais e têm direito à vida. Todos e cada um.
O regime de apartheid e ocupação exercido por Israel é indissociável das violações aos direitos humanos. B’Tselem defende o fim desse regime como único caminho para um futuro no qual os direitos humanos, a democracia, a liberdade e a igualdade sejam garantidos para ambos os povos; palestinos e israelenses, vivendo entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo.
O B’Tselem é uma organização não-governamental criada em 1989, cujo objetivo é luta contra as violações dos direitos humanos praticadas nos territórios ocupados por Israel.”
Por Carlos Lins.
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