Júlio Pinto *
A vitória, no primeiro turno das eleições presidenciais francesas, de Emmanuel Macron, de centro, e Marine Le Pen, de extrema-direita, já havia sido prevista pela mídia e pelas empresas que fazem pesquisas de opinião. É o contrário do que ocorreu em 21 de abril de 2002, quando o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, chegou pela primeira vez ao segundo turno (e acabou derrotado pelo então presidente Jacques Chirac, que conseguiu se reeleger com folga). Aquilo, sim, foi uma surpresa e um choque. Desta vez, não.
Nem mesmo o fato de os dois maiores partidos da França terem sido excluídos do segundo turno (o Socialista e o Republicano) foi inteiramente surpreendente. Em 21 de abril de 2002, a esquerda havia sido eliminada do segundo turno pela Frente Nacional (de Le Pen). Agora, em 2017, a esquerda e a direita foram eliminadas.
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Desde a Revolução Mundial de 1968, o discurso centrista liberal (que desde outra revolução mundial, a de 1848, era mantido por conservadores e radicais, e controlava as mentes e os corações das multidões), vem perdendo seu poder de convencimento. A maioria pobre e esquecida do mundo não mais acredita que os sacrifícios do presente venham a resultar num futuro melhor, nem mesmo para seus filhos e netos.
Entrou, pois, em colapso a cultura política que vinha sustentando a representação política e a economia-mundo capitalista.
Um dos resultados mais imediatos do fim dessa hegemonia cultural é a radicalização tanto da direita quanto da esquerda.
Infelizmente, grandes turbulências políticas e econômicas nos esperam… pelo menos até que um novo sistema econômico-político-cultural venha a se constituir e entrar em funcionamento.
* Advogado, doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, pesquisador da Universidade de Oxford (2011- 2012) e da Universidade de Duke (2014-2015), e professor do Mestrado Profissional em Poder Legislativo da Câmara dos Deputados.
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