Fred Trump, pai de Donald Trump, esteve envolvido em práticas discriminatórias no setor imobiliário, chamadas de redlining, onde áreas com altas populações de não-brancos eram consideradas de alto risco, portanto com menor valor imobiliário. Em 1973, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos processou Fred Trump, Donald Trump e a Trump Management Inc. por violarem a Lei de Habitação Justa de 1968. A acusação alegava que a empresa discriminava sistematicamente candidatos negros, recusando-lhes apartamentos disponíveis e direcionando-os para complexos com maior proporção de minorias raciais. Além disso, documentos do FBI revelam que funcionários da Trump Management foram instruídos a marcar candidaturas com códigos para indicar a raça dos candidatos, além de mostrarem contratos de arrendamento falsos a candidatos negros para convencê-los de que os apartamentos já estavam alugados, uma tática que reforça a discriminação habitacional de cunho racial.
Trump se diz contra o politicamente correto, mas usou uma expressão intrigante ao anunciar seu novo governo. Segundo Trump, seu novo governo forjará uma sociedade meritocrática e “colorblind” (um tipo de daltonismo racial) …. interessante, pois aquele que se nega a enxergar as desigualdades raciais óbvias na sociedade é também um racista.
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O mundo está se tornando cada vez mais multicultural, e os Estados Unidos enfrentam mudanças demográficas rápidas e significativas. Equidade e inclusão não são meramente uma questão “politicamente correta”, mas um imperativo de justiça social. No entanto, essas mudanças esbarram em resistências históricas e contemporâneas, exemplificadas pela retórica e pelas políticas da MAGA [Make America great again].
O racismo nos Estados Unidos está profundamente enraizado na fundação de sua economia. A escravidão moldou as práticas capitalistas e a riqueza nacional, representando 20% da economia norte-americana em 1860. O algodão, cultivado por escravizados, foi o principal produto de exportação americano entre 1805 e 1860, alimentando não apenas a economia doméstica, mas também a indústria têxtil britânica, coração da Revolução Industrial. Além disso, o mercado de seguros de escravos impulsionou o capital financeiro de Nova York, enquanto as fazendas escravocratas combinavam práticas de violência e brutalidade com práticas sofisticadas para maximizar o lucro e a exploração dos escravos Afro-Americanos.
Thomas Jefferson aconselhou pessoas enfrentando dificuldades financeiras a investirem em escravos, destacando o valor econômico atribuído à “prática”. Além disso, havia um “lucro silencioso” derivado da reprodução dos escravos, já que seus descendentes eram contabilizados como parte do “inventário”. Essa história difícil e brutal, e os registros associados a esta época são essenciais para que possamos entender e reparar os danos causados pelo legado da escravidão.
Durante as décadas de 1960 e 1970, após a abolição da escravidão, acreditava-se que democratizar o acesso ao crédito poderia eliminar desigualdades como racismo e sexismo. A suposição era de que as desigualdades eram exclusivamente econômicas e que o mercado resolveria essas disparidades. Contudo, práticas como a especulação imobiliária e o redlining continuaram nos Estados Unidos, e essa mesma discriminação se refletia no acesso ao crédito.
A perpetuação destas práticas também impediu que famílias negras construíssem riqueza geracional. A especulação imobiliária, exemplificada pelo blockbusting, explorava a segregação racial ao inflacionar preços de imóveis vendidos para famílias negras em bairros brancos, perpetuando o ciclo de exclusão econômica. Afro-americanos tinham frequentemente negados empréstimos habitacionais pelo governo federal em certas regiões, assim como enfrentavam discriminação no mercado de trabalho. Durante as Leis de Jim Crow e antes do Movimento pelos Direitos Civis, bairros e escolas brancas tinham o direito legal de negar acesso a negros, mexicanos e asiáticos. O resultado era que comunidades negras se aglomeravam em áreas superlotadas, com as piores escolas e recursos limitados, perpetuando o ciclo de desigualdade. Compreender esse histórico é essencial para desmantelar as estruturas de opressão e corrigir as injustiças que continuam a impactar a sociedade americana.
De acordo com Omi e Winant, em Formação racial dos Estados Unidos, o país estava em uma transição de uma ditadura racial para uma democracia racial. Ditadura racial em que as pessoas negras eram vistas como não-humanas, sub-humanas, desprovidas de direitos e relegadas e uma posição inferior com práticas institucionais racistas: como escravidão e Leis como Jim Crow. As relações de poder eram baseadas em hierarquias raciais rígidas, com controle quase total das elites ricas brancas sobre os grupos minoritários. Eram???
As políticas que Trump anunciou até agora caminham na contramão de conquistas como a Lei dos Direitos de Voto de 1965, que marcou um marco histórico ao proibir a discriminação racial no voto ou a abolição dos testes de alfabetização nos Estados Unidos. Em vez de avançar, Trump adotou medidas que desmontam programas de diversidade, equidade, inclusão e acessibilidade (DEIA), suspendem investigações de direitos civis, reduzem a supervisão sobre má conduta policial e revogam proteções fundamentais contra discriminação e acessibilidade, como as garantidas pela Lei dos Americanos com Deficiências (ADA). Além disso, funcionários federais serão pressionados a denunciar colegas que apoiem iniciativas DEIA, iniciando em período de cultura de intimidação e punição.
A única diferença entre Trump e a KKK é que o capuz branco, que foi trocado por um chapéu vermelho. Membros da KKK ao menos entendiam que deveriam esconder seus rostos; os racistas do MAGA estão “à vista de todos e orgulhosos disso”.
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