Embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine tem uma certeza e uma esperança nos últimos dias. A certeza é que a guerra travada contra o Hamas está longe do fim. A esperança é que o Brasil, que comanda de forma temporária o Conselho de Segurança da ONU, apoie publicamente as ações de Israel contra o grupo extremista que atacou o país.
“Neste momento estamos numa situação que o Hamas está vencendo”, afirmou o embaixador, em entrevista exclusiva concedida ao Congresso em Foco na manhã dessa terça-feira (17) – antes, portanto, da escalada provocada por um ataque a um hospital em Gaza que deixou 500 mortos *. Para o diplomata, as negociações para a retirada de brasileiros da região de guerra estão todas atreladas a posicionamentos que dependem não apenas de Israel, mas de diversos países e entidades internacionais, o que inviabiliza um resgate imediato.
O Congresso em Foco também entrevistou o embaixador da Palestina no Brasil: “Estamos condenados a uma limpeza étnica”
Assista à íntegra da entrevista dada pelo embaixador israelense ao Congresso em Foco:
Leia trechos da entrevista abaixo:
PublicidadeCongresso em Foco – Como é que o senhor acompanha essa guerra à distância, tendo pessoas tão próximas do senhor, vítimas dessa barbárie que ocorre desde o último dia 7?
Daniel Zohar Zonshine – Realmente foi um choque. Um choque ouvir o que aconteceu lá em Israel do ponto de vista do tamanho da surpresa, da brutalidade, do medo das famílias com o Hamas. Levou dois, três, quatro dias para entender que tínhamos uma coisa tipo Isis (sigla em inglês para Estado Islâmico), que é matar crianças, decapitar pessoas, estuprar mulheres. Isso é terrorismo por terrorismo. Não há nenhuma outra razão. São mais de 1 mil israelenses assassinados, que estavam perto da Faixa de Gaza e dentro do kibutzim. Há cidades que estão lá perto que foram atacadas do mesmo jeito e com lançamento de foguetes. Para nós isso foi uma surpresa, um choque. Leva tempo para entender. É uma guerra que foi iniciada contra Israel pela organização terrorista Hamas. É uma guerra que não temos outra opção do que vencer, porque não podemos viver junto com o Hamas, que a meta deles é matar nós israelenses.
O senhor se refere especificamente a uma guerra contra o Hamas ou a uma guerra contra os palestinos? Porque nesse momento, com os ataques que ocorrem em Gaza, muitos civis palestinos estão morrendo, sobretudo crianças e mulheres. Essa guerra que Israel trava hoje é contra os palestinos ou é contra o Hamas?
É contra o Hamas. Tem de diferenciar entre o Hamas e o povo palestino. O Hamas com os métodos dele, terroristas, não representa o povo palestino. A maioria do povo palestino quer viver em paz, viver e ter vida normal, da maneira que a vida possa ser possível nesta zona. O Hamas é uma organização terrorista que não tem nenhuma intenção de melhorar a vida dos palestinos que moram na Faixa de Gaza. Todos esses recursos que chegaram para a Faixa de Gaza durante os últimos 15, 20 anos, desde a saída de Israel de lá, não foram investidos em criar uma vida melhor para os palestinos. Foram investidos para criar condições para atacar Israel, incluindo o dinheiro que chegou do trabalho em Israel. Cerca de 20 mil pessoas por dia saem da Faixa de Gaza para trabalhar em Israel e o dinheiro deles foi para viver. Já todo o dinheiro de apoio internacional foi para formação e para educação de ódio ou para fortalecer os túneis subterrâneos para fazer base para atacar Israel. Nossa guerra é contra o Hamas. Não é contra o povo palestino, que numa certa maneira está sequestrado pelo Hamas. Eles são usados como escudo humano. Israel está reagindo contra estas alvos militares do Hamas, mas infelizmente eles estão tão perto do coração da Palestina que a população também sofre com isso.
Nesse caso, o senhor diz que para combater o Hamas é necessário atacar a região da Palestina, Gaza e com isso também vitimar palestinos?
O Hamas está atuando de dentro de Gaza e então nós lutamos contra o Hamas. O fato de que o Hamas luta por trás de palestinos, de civis, isso é uma coisa muito triste, mas não é uma realidade que nós construímos. Isso faz parte do método de atuação deles: chegar, matar civis e depois chegar para ficar atrás dos civis palestinos e chorar que Israel está atacando. Neste momento estamos numa situação que o Hamas está vencendo. Depois dos mais de 1 mil israelenses que foram assassinados por eles, mais de 300 pessoas das Forças Armadas morreram nas batalhas contra eles, tentando defender os civis israelenses, o Hamas não pode sair vencendo porque, na próxima, ele tenta fazer isso por oportunidade. Temos uma obrigação com nossas pessoas, nossos cidadãos israelenses, que isso não vai acontecer mais.
Israel não irá parar essa guerra enquanto não acabar com o Hamas?
Não sei se podemos acabar com o Hamas, mas pelo menos acabar com as habilidades militares deles para não termos mais uma ameaça sobre as pessoas que moram lá. Isso é uma coisa que não é aceitável depois que o que vimos lá, este ataque cruel, de surpresa. O Hamas não pode mais ameaçar a vida das pessoas, porque isso não é aceitável. Você não pode aceitar um vizinho que você não sabe se um dia ele vai atacar e entrar na sua casa e vai tentar matar.
Temos hoje brasileiros na fronteira de Gaza querendo sair para o Egito. E não só brasileiros, obviamente, como também pessoas de outras nacionalidades. Mas essa fronteira até agora não foi aberta e a todo dia se cria uma expectativa. Qual é a real possibilidade de haver a realização de um corredor humanitário para a retirada dessas pessoas?
Primeiro eu tenho que mencionar que quem está responsável por Gaza nos últimos 17 anos é o Hamas. Eles são responsáveis pela realidade lá. Ainda agora, sobre os brasileiros e pessoas de outras nacionalidades que estão lá, tem um trabalho de coordenação para coordenar a saída deles da Faixa de Gaza e esta coordenação ainda não chegou para o estágio final. Então isso ainda tem negociações e considerações. E outra coisa. No momento tem ainda mais de 200 israelenses reféns que devem ser liberados sem nenhuma condição e o mais rápido que possível.
Ou seja, é quase que uma condicional isso, embaixador? O senhor acredita que não haverá liberação na fronteira enquanto não houver a libertação dos reféns?
Eu acho que não é nenhuma condição nesta natureza, mas o que acontece lá não é absolutamente só nas mãos de Israel, tem outras entidades de países envolvidos. E não é só uma coisa que depende de Israel.
Neste momento não conseguimos ter uma previsão de quando vai haver a abertura dessa fronteira para retirada das civis que estão aguardando essa questão?
É verdade, não sabemos quando isso vai ser completo para eles saírem.
Algumas nações têm cobrado um posicionamento do Brasil a respeito do Hamas, mas o Brasil não classifica o Hamas como um grupo terrorista e alega que essa classificação cabe ser feita à ONU. Como que Israel, como uma nação que está aqui no Brasil, recebe esse posicionamento da diplomacia brasileira?
Temos diferenças de opiniões nesse sentido, nessas definições. Pensamos que estuprar mulheres, matar bebês, matar famílias inteiras nas casas deles, nas camas deles e atacar os civis, etc. Pensamos que não tem outra definição fora do terror. É terrorismo puro. O governo brasileiro oficial pensa diferente. Então, como eu disse, temos diferenças de opiniões nesse sentido e vamos manter esta diferença por enquanto. Agora, se falarmos sobre o Conselho de Segurança, a chamada para cessar fogo neste momento, quando ainda temos 1,3 mortos em frente de nós, do lado israelense, e o Hamas ainda está lá, com habilidades militares e que pode ameaçar mais de uma vez Israel, para nós é uma coisa inaceitável e nós precisamos tempo para eliminar esta habilidade militar do Hamas. Então quem apoia a paz no Oriente Médio deve condenar e repudiar estas ações do Hamas, que não está aproximando a paz no Oriente Médio, mas atuando contra isso com a orquestração do Irã.
Na segunda-feira, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores de Israel, Lior Haiat, afirmou a um pequeno grupo de jornalistas sul-americanos que, no entendimento do governo israelense, países e organizações que não classificam o Hamas como organização terrorista, como é o caso do Brasil, apoiam o grupo extremista. Esse é o entendimento geral?
Sim. Se você recebe o Hamas como um jogador legítimo e como um elemento que temos que negociar com ele, isso é um problema. Um problema também porque o Hamas, na carta fundamental deles, está escrito que a meta deles é destruir Israel. Agora, é um pouco difícil receber esta organização como um jogador ou um parceiro para este tipo de diálogo. Sobre o que podemos falar com o Hamas? Sobre de que maneira queremos que eles vão nos matar. Essa é a razão principal da existência desta organização: matar israelenses, matar israelenses, destruir Israel. Então é um pouco difícil receber eles como legítimo ou para negociações de paz.
De que forma o senhor acredita que isso pode trazer algum impacto negativo para a nação brasileira quando ela se divide entre defesa de Israel ou defesa dos palestinos? É ruim isso para o Brasil, para a população brasileira, que às vezes não entende de fato o que está acontecendo.
Estou dizendo mais uma vez que você pode apoiar a causa palestina, mas apoiar a ações do Hamas como parte de apoio da Palestina, acho que isso é uma coisa que é demais. Quem está apoiando o Hamas legitima a luta deles. Que luta? Luta para promover a causa palestina é terrorismo puro. Então, eu vi falando que tem entidades respeitáveis no Brasil que apoiam o Hamas, mas acho que isso é falta de entendimento de com quem estamos lutando.
O senhor espera um apoio do governo brasileiro à causa de Israel, ao governo de Israel?
Sim, essa é expectativa que temos, que o governo brasileiro vai apoiar Israel na luta contra estas forças terroristas do Hamas.
Por enquanto ainda não houve esse apoio, embaixador. O senhor acha que vai demorar para acontecer, se vai acontecer?
Ainda temos esperança que o governo brasileiro vai nos apoiar na luta contra o Hamas.
* NR: após a gravação desta entrevista, uma bomba disparada contra um hospital na Faixa de Gaza deixou mais de 500 pessoas mortas. Israel atribui a autoria do ataque ao grupo extremista Jihad Islâmica. O grupo, no entanto, alega não ter feito o atentado.
Edição de imagens: Thiago Freitas
Com tantas especializações e privilegiada inteligência, a jornalista Iara Lemos só está precisando adquirir uma nova convicção, que ainda lhe falta: Existe, sim, um Justo e Verdadeiro perante o qual todos haveremos de prestar contas dos nossos atos. Nesse dia, infelizmente, haverá muito choro e ranger de dentes.