Juliano Bueno de Araújo *
Antes de 2024, se alguém dissesse que Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump teriam algo em comum, é provável que todos os ouvintes caíssem na risada, e alguns até ficassem indignados. De um lado, temos um líder progressista, que sempre incorpora em sua liderança questões em defesa da justiça social e da Amazônia. Do outro, um bilionário americano, que se dedica mais a campos de golfe e discursos duvidosos inflados de “fake news”. No entanto, há um tema capaz de unir até os políticos mais improváveis: petróleo e gás.
Trump, confessadamente um fã incondicional dos combustíveis fósseis, sempre tratou o petróleo como se fosse um hambúrguer gigante: quanto mais, melhor. Durante sua presidência entre 2017 e 2020, ele revogou regulações ambientais e incentivou a perfuração de novas áreas nos EUA, defendendo a autossuficiência energética e a supremacia dos combustíveis fósseis. Para ele, a questão das mudanças climáticas sempre foi, e continua sendo, um mito inventado por lunáticos, talvez apenas um “inconveniente” para suas ambições.
Já Lula, que voltou ao poder com uma agenda verde e promessas de colocar o Brasil na liderança da transição energética, vem dando declarações explícitas na direção da ampliação da fronteira de novas áreas de exploração de petróleo e gás, com a justificativa da segurança energética, e de que a exploração é um maná de maiores receitas para o país. Organizações ambientais e especialistas têm questionado o alinhamento do governo brasileiro com a indústria fóssil, mesmo em um momento em que cresce a pressão internacional por medidas mais firmes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. De fato, enquanto o mundo discute a necessidade de redução de emissões, Lula não quer renunciar a novos leilões, e vem defendendo a necessidade de explorar petróleo na foz do rio Amazonas, uma parte da tão conhecida Margem Equatorial.
Estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Amapá, a região passou a ser considerada uma promissora reserva energética, impulsionada pelas descobertas de grandes campos petrolíferos no Suriname e na Guiana Francesa, países vizinhos ao norte do Brasil. Entretanto, essa faixa litorânea abriga uma rica biodiversidade, incluindo valiosos manguezais e outros ecossistemas essenciais, além de povos e comunidades tradicionais que dependem diretamente desses ecossistemas para sua subsistência. Por sua sensibilidade ambiental, a região demanda rigorosas medidas de conservação para mitigar impactos e preservar seu equilíbrio ecológico.
Mas, voltando aos presidentes, qual é a diferença entre eles? Pelo menos Donald Trump nunca escondeu sua paixão pelo petróleo, mesmo que isso fosse em detrimento de seus próprios eleitores. Já Lula busca equilibrar seu discurso sobre a transição energética com a argumentação de que a exploração de novas fronteiras de petróleo e gás pode gerar recursos para essa transição, além de aumentar os royalties para as áreas próximas. Um age como se o aquecimento global não fosse uma preocupação, enquanto o outro afirma querer salvar o planeta, mas sem abrir mão das crescentes emissões.
No fim das contas, a diferença entre os dois é mais de estilo do que de substância. Trump age como se estivesse em um reality show de negócios (“Drill, Baby, Drill!“), já Lula tenta vender a ideia de que dá para ser um país verde sem abrir mão da expansão da fronteira petrolífera. Qual o sentido disso? As alterações já visíveis no clima, na natureza e nas comunidades impactadas mostram que não. Uma coisa é certa: quando o assunto é petróleo e gás, até os líderes mais divergentes podem acabar remando na mesma direção — embora em barcos bem distintos.
* É diretor técnico do Instituto Internacional ARAYARA, doutor em Riscos e Emergências Ambientais.
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