Débora Álvares
O aumento da tensão na fronteira com a Venezuela e o envio de ajuda humanitária ao país vizinho são assuntos vistos com preocupação por parlamentares de Roraima. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, mandou fechar a fronteira com o Brasil na quinta (21). O governo nega qualquer chance de confronto, mas parlamentares destacam o clima de apreensão que toma conta da população na região.
Em Boa Vista desde cedo, o senador Telmário Mota (Pros-RR) vê a insistência do governo brasileiro em enviar alimentos e remédios à Venezuela como uma “interferência na política externa” do país vizinho que faz crescer o clima de “tensão” na população. “Pode haver um confronto direto e a população de Roraima é que vai estar na mira”, afirmou o senador.
“Se o Brasil quer fazer uma ajuda humanitária, que faça a partir da ONU [Organização das Nações Unidas]. De repente o Brasil vai ser escudo de uma guerra que só interessa aos Estados Unidos. É um ato de irresponsabilidade nesse momento. O Brasil está interferindo na política externa da Venezuela e fazendo uma escolha partidária”, disse o parlamentar.
O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) estará neste sábado (23) com o general Teixeira, que comanda a Operação Acolhida na fronteira, que já existe na região para acompanhar emissão de documentos, permissão de entradas, acompanhamento dos venezuelanos que atravessam a fronteira.
“A diplomacia precisa estar atenta e alerta. Na questão da Colômbia virou um caldeirão de pólvora. Mas do lado brasileiro é menos grave. Como o Exército disciplinou a entrada [dos venezuelanos], acho que a chance de ter conflito é menor. Não é nula. Mas é menor”, disse Rodrigues.
PublicidadeOs senadores contam ainda que a crise com a Venezuela tem impactado a vida da população de Roraima. O fornecimento de energia elétrica já tem sido afetado. “Cerca de 50% da rede elétrica do estado é dependente da Venezuela. No máximo cinco dias vamos entrar em recessão”, destacou o senador Telmário.
>> Chanceler vai à Colômbia para apoiar ajuda humanitária à Venezuela
Na base aérea de Boa Vista, há pelo menos 23 toneladas de leite em pó e mais de 500 kits de primeiros socorros. Até o fechamento da fronteira, apenas um caminhão venezuelano havia conseguido atravessar para o Brasil. Para levar os suprimentos para a Venezuela, avalia-se que seriam necessários pelo menos 20 caminhões.
Em pronunciamento após reunião no fim da tarde desta sexta-feira (22), o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, explicou que os suprimentos serão mandados à medida que os caminhões consigam passar pelo bloqueio na faixa de fronteira.
Entenda
O presidente Jair Bolsonaro ofereceu apoio logístico ao aliado Juan Guaidó, que se autodeclara presidente interino, para que caminhões venezuelanos busquem suprimentos em Pacaraima e Boa Vista, em Roraima.
Mesmo com o anúncio de fechamento da fronteira por Nicolás Maduro, Bolsonaro manteve a operação. Embora Guaidó tenha sido reconhecido por vários países como presidente legítimo da Venezuela, ele não conta com respaldo de parcela expressiva das Forças Armadas. Maduro foi reeleito presidente em uma eleição questionada.
Com a entrega de ajuda humanitária, que ainda deve ocorrer pela Colômbia, os militares precisarão decidir se permanecem ao lado de Maduro ou se desrespeitam suas ordens e permitem a passagem de comida e medicamentos. Em Cútuca, no lado colombiano, é realizado um show beneficente além da caravana humanitária.
Maduro foi eleito e reeleito democraticamente, em eleições com 200 observadores internacionais, das quais participou a oposição de direita. Mas parte dessa oposição boicotou o pleito por saber que perderia, e seu negócio é o golpe Made in USA. Golpe que está em processo, com um “presidente” autonomeado indicado pela CIA.