A demografia do voto está mudando significativamente em todo o mundo, refletindo transformações nas estruturas econômicas, sociais e culturais. Países como Reino Unido, França e Estados Unidos mostram tendências de eleitores com maior nível educacional e renda mais alta votarem em partidos de esquerda, enquanto aqueles com menor escolaridade e renda mais baixa tendem a apoiar a direita. Este fenômeno reflete uma transição de uma economia industrial para uma baseada no conhecimento.
No Reino Unido, a recente vitória trabalhista foi impulsionada por eleitores com ensino superior, enquanto os de menor escolaridade apoiaram a extrema direita. Na França, eleitores de maior renda votaram no bloco de esquerda, e os de menor renda, na extrema direita de Marine Le Pen. Nos Estados Unidos, eleitores ricos e educados migraram para os democratas, enquanto os republicanos mantiveram o apoio dos grupos de renda e educacional mais baixas.
No Brasil, as pesquisas indicam que eleitores de menor renda e escolaridade, bem como aqueles de orientação religiosa conservadora, tendem a apoiar candidatos de direita como o prefeito Ricardo Nunes. Eleitores mais ricos e educados preferem candidatos de esquerda como Guilherme Boulos. Para as eleições de 2024 e 2026, espera-se que essas tendências se intensifiquem, com polarização política e fragmentação do eleitorado.
Leia também
E por que essa mudança na demografia do voto? Com o fim da Era Industrial, a educação tornou-se fator para o sucesso econômico, e aqueles com maior nível educacional passaram a possuir maior segurança financeira. Isso permite que votem de forma menos prática e mais idealista, focando em questões sociais e progressistas. Em contraste, aqueles com menor escolaridade e renda enfrentam mais insegurança econômica e tendem a buscar mudanças que prometam melhorar sua situação econômica e social imediata, mesmo que essas mudanças venham de partidos de direita que se posicionam contra o establishment. Além disso, a alienação da elite educada das preocupações cotidianas da classe trabalhadora reforça esse descompasso entre os interesses dos dois grupos.
As mudanças na demografia do voto exigem uma reorientação nas abordagens dos partidos políticos. A esquerda precisa se reconectar com a base trabalhadora, abordando suas preocupações econômicas. A experiência dos partidos na França e no Reino Unido mostram que é possível atrair eleitores com uma agenda econômica forte. A direita, por sua vez, capitaliza na insegurança econômica e no desejo de mudanças rápidas e tangíveis entre os eleitores mais vulneráveis.
Essas mudanças sociais levam a um novo racional nas escolhas eleitorais, com impactos para as eleições municipais no Brasil. Os partidos precisam recalcular rota e rever suas estratégias para alcançar diferentes segmentos da população, aproveitando essa oportunidade para se conectar de forma mais profunda com seus eleitores.
PublicidadeO texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Isso não reflete o caso brasileiro se lembrarmos que nas eleições de 2018 a maior concentração de votos de Lula veio do nordeste, onde os índices de pobreza são maiores e de escolaridade menores.