Após duas semanas de negociações, quase duzentos países firmaram neste sábado (13), em Glasgow, na Escócia, o acordo final da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. O texto sofreu ajustes de última hora e é considerado menos ambicioso do que o necessário para conseguir limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC, na avaliação de organizações e especialistas que monitoram o tema.
Ainda assim, se deram avanços importantes no sentido de conter o avanço do aquecimento global. Um dos pontos comemorados pelas organizações da sociedade civil foi a regulamentação do mercado de carbono, previsto no artigo 6 do Acordo de Paris. Autor de projeto de lei que regulamenta o mercado no Brasil, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) cobrou agilidade no avanço da proposta:
A regulamentação do art 6 (Acordo de Paris) anunciada hoje, é importante passo para o mercado internacional de carbono. O Brasil precisará fazer seu dever para acessá-lo e trazer riquezas para nosso povo. A criação do mercado brasileiro é urgente é inadiável – PL 528 JÁ! #COP26
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Publicidade— Marcelo Ramos (@marceloramosam) November 13, 2021
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O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, avaliou que o resultado da conferência reflete os interesses e contradições da vontade política mundial. Ele frisa: é uma etapa importante, mas não suficiente. Guterres afirmou ser a hora de “entrar em modo de emergência” e que a batalha climática é a luta de nossas vidas, e que essa luta deve ser vencida.
PublicidadeLeia a íntegra do Pacto Climático de Glasgow
Entre os pontos do acordo tidos como fracassos, está a mudança final do texto de que os países signatários se comprometem apenas com a redução gradual da utilização e dos subsídios aos combustíveis fósseis. Versão anterior trazia o compromisso de eliminação da prática, porém, países como China e Índia pressionaram pelo abrandamento do acordo. Ao anunciar essa alteração no pacto, o presidente da COP26, Alok Sharma, assim como outros negociadores, chegaram a chorar.
Um dos destaques da COP26 foi a maior participação nos debates de indígenas, negros e quilombolas na defesa de seus pleito relacionados à questão climática. A conferência também foi marcada pelas manifestações (principalmente do lado de fora do evento) de jovens em defesa de medidas concretas para frear o aquecimento global.
A ativista sueca Greta Thunberg resumiu o acordo como “blah, blah, blah” e enfatizou que o trabalho real e que “nunca, nunca desistirão”. Em tom semelhante, a jovem ativista ugandense Vanessa Nakate criticou que os países ricos claramente não querem pagar pelos custos que estão infringindo às nações mais pobres.
“Não podemos nos adaptar à extinção. Não podemos comer carvão. Não podemos beber óleo. Não vamos desistir [tradução livre]”, afirmou Vanessa nas redes sociais.
Dois Brasis
Na avaliação da WWF Brasil, foi possível ver dois “Brasis” na conferência, mostrando os motivos de estarmos distantes de cumprir o que determina o Acordo de Paris. Para o diretor-executivo da organização, Mauricio Voivodic, as soluções dependerão da capacidade dos governos e do setor privado de elevar sua ambição climática, integrando os saberes tradicionais e o respeito ao ritmo de regeneração da natureza e de respeitarem o direito dos jovens de um planeta saudável para as futuras gerações.
“A sociedade civil deixou claro que está vigilante ao blablablá de quaisquer setores que ofereçam apenas discursos e metas distantes, sem conexão com a ação prática e real, como é o caso do governo federal que assina o Acordo de Florestas em Glasgow, mas apresenta índices recordes de desmatamento no Brasil ano após ano”, complementa.
Em um balanço dos resultados finais do Pacto Climático de Glasgow, a WWF Brasil destaca:
● Acordo de Florestas: Líderes de mais de 100 países do mundo, representando cerca de 85% das florestas do mundo, prometeram parar o desmatamento até 2030.
● Acordo de Metano: Um esquema para cortar 30% das emissões atuais de metano até 2030 foi acordado por mais de 100 países.
● Acordo de Carvão: Mais de 40 países – incluindo grandes usuários de carvão, como Polônia, Vietnã e Chile – concordaram em abandonar o carvão.
● Anúncio do setor financeiro (GFANZ): cerca de 450 organizações financeiras, que controlam US$ 130 trilhões, concordaram em apoiar a tecnologia “limpa”, como energia renovável, e direcionar o financiamento das indústrias de queima de combustíveis fósseis.
● Anúncio de energia solar: Green Grids Initiative, visando construir uma infraestrutura de energia solar interconectada em escala global.
● Iniciativas empresariais: Coalizão First Movers, que visa tornar as cadeias de abastecimento do setor privado mais verdes até 2030. Inicialmente, terá como foco quatro setores: aviação, transporte marítimo, aço e transporte rodoviário. Juntos, eles representam atualmente pelo menos 20% das emissões globais.
● Manifesto da Soja do Reino Unido: Um total de 27 empresas assinaram o compromisso para garantir que os embarques físicos de soja para o país não sejam cultivados em áreas onde árvores foram cortadas ou a vegetação nativa convertida em terras agrícolas após janeiro de 2020.
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