Aos 40 anos, o brasileiro Rafael Rozenszajn teve, desde o começo da guerra entre Israel e o Hamas, a missão de comunicar aos familiares israelenses sobre a morte de seus entes durante o conflito. Major do Exército de Israel, Rozenszajn integra a Unidade de Porta-Vozes das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) e foi o único brasileiro a integrar a missão. Nascido no Rio de Janeiro e advogado por formação, ele está no Exército de Israel há 20 anos, quando se mudou para o país com a família.
“A maioria das vítimas do Hamas foram mulheres, entre 14 e 20 anos, que foram fuziladas pelo Hamas no festival de música. Os terroristas do Hamas assassinaram a sangue frio essas mulheres e eu fui dar esse aviso aos pais delas”, contou ele em entrevista ao Congresso em Foco em uma conversa gravada por vídeo na última quarta-feira (15).
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A seguir, leia trechos da entrevista
Como foi sua trajetória até chegar a esse momento e ser porta-voz da notícia para a morte para essas famílias israelenses?
Há 40 dias, o grupo terrorista Hamas invadiu o território de Israel, assassinando 1,2 mil pessoas, a grande maioria civis. Invadiu um festival que ocorria no sul do país em um feriado judaico. Os terroristas fuzilaram civis e partiram de lá para diversas comunidades, fazendo coisas terríveis com os moradores, inclusive estuprando mulheres, sequestrando crianças e idosos e queimando casas. Todas essas atrocidades foram registradas pelos terroristas do Hamas, muitas pelos próprios celulares das vítimas. Já na primeira semana dessa guerra eu fui convocado para participar de uma missão muito importante que é dar o aviso às famílias que perderam seus entes queridos neste massacre do Hamas. Aqui em Israel, toda a família que tenha um parente que é assassinado, passa por um atentado, ou famílias de soldados que são mortos em combate passam por um acompanhamento especial. Esse acompanhamento começa pela comunicação que é feita por um oficial, que tenha ao menos a patente de major. Eu fui uma dessas pessoas convocadas e tive de passar na casa de várias pessoas.
Qual delas te marcou mais?
Eu tive de passar na casa onde dois bebês gêmeos, de dez meses, perderam os pais, assassinados na comunidade em que viviam no sul de Israel, e antes de serem assassinados os pais conseguiram esconder as crianças em um bunker e neste bunker os bebês ficaram 10 horas até que chegaram os soldados e conseguiram socorrer esses bebês.
O aviso da morte foi dado aos familiares dos mortos?
Sim. Eu fui até a casa dos avós dos bebês para poder dar a notícia de que os pais foram assassinados. A identificação dos corpos foi muito dolorosa. Parte dos corpos estava queimada, muitos foram queimados vivos, com as mãos acorrentadas. Por isso tivemos de dar esses avisos muitos dias depois do 7 de outubro e até hoje temos famílias que ainda não receberam os avisos, e os parentes são considerados como desaparecidos.
O senhor consegue lembrar quantas famílias receberam a notícia da morte dos seus entes por meio das suas palavras?
Eu passei na casa de cinco famílias, a maioria das vítimas foram mulheres, entre 14 e 20 anos, que foram fuziladas pelo Hamas no festival de música. Os terroristas do Hamas assassinaram a sangue frio essas mulheres e eu fui dar esse aviso aos pais delas.
Esse trabalho já foi suspenso, ou há ainda famílias a serem notificadas?
Minha missão terminou quando uma quantidade de, mais ou menos, 200 corpos não foram identificados, mesmo usando as melhores tecnologias do mundo. Então, infelizmente, foi passado aos oficiais que alguns corpos terão de ser enterrados em valas comuns. Essa é a primeira vez que ocorre com o povo judeu desde o holocausto. O meu avô, que foi sobrevivente, me contava histórias parecidas. Ele chegou no Brasil depois da Segunda Guerra Mundial e ele me contava essas histórias e eu nunca imaginei que essas histórias voltariam a acontecer.
Há inúmeras críticas em relação à atuação de Israel que, em um ataque ao Hamas, está atacando civis em Gaza. Qual posicionamento o senhor traz sobre isso?
Não gosto de falar em narrativas. Eu falo de fatos. E os fatos são os seguintes: o grupo terrorista do Hamas invadiu Israel e começou essa guerra contra o Estado democrático de direito, que é o Estado de Israel. Essa guerra está sendo administrada por um grupo terrorista que desobedece a todas as normas possíveis do direito internacional e um estado democrático de direito que obedece a todas as normas. A necessidade militar dessa guerra é que o exército de Israel possa eliminar qualquer dano, qualquer ameaça que esse grupo terrorista representa ao Estado de Israel. O Hamas tem por objetivo acabar com Israel e não formar um Estado Palestino e o que ele tentou fazer no dia 7 de outubro foi apenas o começo.
Mas aí eu questiono ao senhor: para acabar com o Hamas, como Israel defende, é necessário matar tantos civis em Gaza?
Lógico que não. Nós lamentamos a morte de qualquer civil na guerra. Agora, lamentavelmente, em uma guerra há civis que são feridos. O Hamas lança seus foguetes em direção aos civis israelenses e se defende usando seus civis. Os civis representam escudos humanos para o Hamas. Na visão do Hamas, quanto mais mortes de civis tiverem na Faixa de Gaza, mais haverá pressão internacional para que o Exército de Israel pare com a guerra e tenha o cessar fogo. Mas é preciso estar muito claro. Os civis não são um seguro de vida para o Hamas. Essa guerra só será terminada com os terroristas rendidos ou mortos pelo Exército de Israel.
Nem que para isso Israel acabe com Gaza?
A Faixa de Gaza neste momento é o coração terrorista do mundo. Passou a ser um local onde os terroristas utilizam muitas organizações civis para que de lá sejam lançados mísseis contra o estado israelense, para que sejam guardados armamentos. Então, essas instituições civis deixam de ser civis e passam a ser alvos militares, de acordo com o direito internacional.
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