Roberto Rodrigues *
Vivemos um tempo de muita polarização em todo o mundo e no interior dos países. Disputas políticas, ideológicas, religiosas se misturam à falta de lideranças globais que busquem o equilíbrio e o bom senso, desaparecem regras e rumos para o entendimento, e o resultado se traduz em guerras absurdas e em miséria e destruição.
A perda de protagonismo das grandes organizações multilaterais que deviam cuidar desse regramento leva à erosão da democracia em muitas regiões, cada governo faz o que quer e vamos entrando numa quadra histórica que já vai sendo apelidada de “era da desordem”, uma possível “desglobalizacão”.
Seja como for, cerca de quatro modernos “cavaleiros do apocalipse” assombram a humanidade: a segurança alimentar, a transição energética, as mudanças climáticas e a tragédia da desigualdade social. É imperioso eliminar esses fantasmas contemporâneos, ou não teremos a Paz que tanto almejamos e que tantos tentam anular.
Boa parte da solução desses problemas passa pela atividade rural mundial. É ela que produz alimentos, constrói uma matriz energética renovável, permite uma ação consistente na mitigação dos extremos climáticos e gera empregos, riqueza e renda, contribuindo para a redução da desigualdade.
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Por outro lado, parece claro que o crescimento da produção agropecuária/energética se dará no cinturão tropical do planeta, que incorpora toda a América Latina, a África subsaariana e boa parte da Ásia, porque é nesse vasto território que ainda existe muita terra para ser incorporada a sistemas produtivos sustentáveis com maior tecnologia e produtividade.
E o Brasil poder liderar essa campanha mundial, pelo simples fato de já termos desenvolvido aqui uma tecnologia tropical sustentável com resultados espetaculares e conhecidos. A história dos grãos é exemplar: desde 1990, a área plantada com eles cresceu 115% enquanto a produção aumentou 457%, 4 vezes mais, graças à tecnologia aqui criada e implementada. Isso permitiu impedir o desmatamento de mais de 120 milhões de hectares. A nossa matriz energética é 49% renovável, e metade disso se deve aos nossos biocombustíveis, à cogeração de energia elétrica nas usinas do setor canavieiro, ao biometano, ao carvão vegetal e assim por diante.
Com base nesses dados, o G20, em sua reunião anual recém realizada no Rio de Janeiro, aprovou, por iniciativa do Governo brasileiro, um importantíssimo programa mundial de Inclusão Social e Combate à Fome e à Pobreza. O Brasil assume assim, finalmente, o protagonismo a que faz jus há muito tempo.
Naturalmente, o ambicioso projeto só dará certo se alguns fatores forem implementados. Entre eles, uma estratégia interna que contemple logística, mais tecnologia, política de renda e cooperativismo. Mas a participação dos países ricos para financiar as medidas necessárias é igualmente essencial, e isso passa por acordos comerciais, entre os quais o entre UE e Mercosul, que vem sendo surpreendentemente bombardeado por governos e empresas europeias.
Também falta acabar com ilegalidades como desmatamento, invasão de terras, incêndios criminosos, garimpos clandestinos. Esses crimes cometidos por aventureiros precisam ser eliminados porque o concorrente os atribui hipocritamente aos produtores rurais.
Mas tudo isso, e o sucesso deste grande empreendimento de interesse do mundo todo, passa pela educação de base no Brasil. Só uma infância bem alfabetizada e uma juventude instruída permitirão o crescimento de uma sociedade educada e capacitada para liderar este ambicioso programa para a Paz mundial.
* Ex-ministro da Agricultura; coordenador do Centro de Agronegócios da FGV e Conselheiro da Associação De Olho no Material Escolar.
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