Dizem os historiadores que por volta do ano 200 a.C. surgiu uma certa “Rota da Seda”, conectando a China à Europa. Dir-se-ia tratar-se de uma mera via comercial. Nada mais falso. Naqueles distantes dias por ela sacolejavam, sobre o lombo dos camelos, muito mais que mercadorias – ia, antes e acima de tudo, o embrião do que hoje denominamos “aldeia global”.
Uns bons dois mil anos se passaram – mas a visão daqueles intrépidos mercadores cruzando desertos e montanhas geladas permanece viva, inspirando um mundo cujo potencial ainda fascina a realidade.
Fiquei a pensar nisso há poucos dias, quando do lançamento de um serviço ferroviário ligando Yiwu, na China, a Londres, no Reino Unido – ao fim do cabo, a atualização de uma ideia milenar.
Economizando metade do tempo, quando comparado com o transporte marítimo, e custando a metade do preço do frete aéreo, os trens percorrem 12.000 km, atravessando sete países em 18 dias – Casaquistão, Rússia, Belarus, Polônia, Alemanha, Bélgica e França. Calculou-se que o volume de mercadorias transportados por esta rota alcance a fabulosa cifra de US$ 2,5 trilhões ao longo da próxima década.
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Registre-se, ainda, que este serviço complementa dois outros, já em plena operação, que ligam a China à Alemanha e à Espanha.
PublicidadeAnunciou-se, paralelamente, a expansão da parte chinesa deste fabuloso sistema ferroviário. Serão US$ 503 bilhões investidos até 2020, de forma a que 80% das maiores cidades da China sejam interligadas por uns 30 mil km de ferrovias de alta velocidade.
Enquanto isso, em um vergonhoso contraste, 70% de nossas cargas são transportadas em sangrentos matadouros, digo, rodovias caríssimas, no lombo de milhares de caminhões adquiridos a peso de ouro de empresas transnacionais aqui instaladas. Dos 29.798 km de ferrovias que o Brasil tem, uns 10 mil foram construídos por Dom Pedro II. Para completar, 7 mil km de nossas ferrovias estão desativados, e uns 40% do restante em péssimo estado. Por conta de tal estado de coisas, a velocidade média dos nossos trens gira em torno de 20 km/h. Quem ganha com isso? Aliás, por qual motivo este gravíssimo problema nacional é tão pouco discutido?
Pois é. Do outro lado do mundo, uma pujante e moderna Rota da Seda. E aqui, em um país infinitamente mais rico, a humilhante “Rota da Lesma”…
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