Francisco Américo Cassano *
O que, inicialmente, parecia uma simples decisão do governo ucraniano – a de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia – vem se transformando em uma série de efeitos colaterais sem previsão de término e que já se aproxima de um possível rompimento de relações dos Estados Unidos/União Europeia com a Rússia.
Após essa decisão ter sido rejeitada pela população ucraniana, o que acarretou a deposição daquele governo e a eleição de novo governante, surge o primeiro efeito colateral com a Rússia decidindo que deveria intervir para manter a Ucrânia sob controle próximo (e, com isso, garantir o seu status europeu).
Ato contínuo, a Rússia estimulou a integração da Crimeia (até então república autônoma da Ucrânia) à Federação Russa, situação que se confirmou através de referendo do parlamento regional da Crimeia. O governo ucraniano, por seu lado, não reconheceu poder ao parlamento de Crimeia para a secessão.
Tem início assim, um novo efeito colateral que se caracterizou por manifestações de uma parte da população ucraniana contra a interferência do governo russo e que foi agravado pelas manifestações de outra parte dos ucranianos – denominada de pró-Rússia – com o acirramento de conflitos separatistas.
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Com o acirramento dos conflitos separatistas, surge outro efeito colateral – de maior amplitude – que foi a retomada das práticas utilizadas no período da Guerra Fria: a Ucrânia – com apoio do Ocidente – acusa a Rússia de patrocinar os rebeldes ucranianos, e, por seu lado, a Rússia acusa o governo ucraniano de punição indevida aos separatistas. Dessa situação complexa, os Estados Unidos e a União Europeia impõem sanções ao governo russo como forma de garantir os princípios do direito internacional e da Carta das Nações Unidas.
PublicidadeNesse intrincado cenário, no qual os interesses econômicos se sobressaem, surge então um grave e inesperado acidente: o abatimento de um avião comercial malaio com o uso de míssil que, provavelmente, tenha sido lançado por separatistas ucranianos apoiados pela Rússia (embora ainda não haja confirmação oficial, o serviço de inteligência da Ucrânia informou dispor de gravações com conversas entre separatistas, que comentaram a derrubada de avião no mesmo horário do ocorrido com o avião malaio).
Este, sem dúvida, pode ser o pior efeito colateral dos que até aqui foram relatados. A possibilidade de ampliação de sanções à Rússia, e a reação do país a às tais sanções, poderia implicar – sem se levar em consideração a possibilidade de conflitos bélicos – entrave na economia global, com repercussão nos preços internacionais de três importantes commodities: gás, trigo e milho.
Assim, esta série de efeitos colaterais pode ocasionar outra série de efeitos a serem sentidos por toda a população mundial: aumento generalizado de preços (alta dos índices de inflação); perda de poder aquisitivo; diminuição do comércio internacional; diminuição da demanda e da oferta de bens de consumo durável e não durável. É melhor pensar em solução para os primeiros efeitos colaterais!
* É doutor em Ciências Sociais voltado para Relações Internacionais, mestre em Economia Política e bacharel em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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