A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) encaminhou nesta terça-feira (23) à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido de investigação contra o coronel da reserva Carlos Alves, que veiculou no YouTube um vídeo (veja abaixo) com fortes críticas e até xingamentos contra a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, e outros ministros do próprio STF. O episódio provocou comoção durante a sessão de deliberações do colegiado.
Em quase meia hora de fala, Carlos sai em defesa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) em relação à denúncia de que sua campanha foi beneficiada por uma rede de disseminação de conteúdo negativo, paga por empresários, contra o adversário no segundo turno, Fernando Haddad (PT). Segundo a legislação eleitoral, trata-se de crime, pois configura doação de campanha não contabilizada.
O vídeo revoltou os membros do colegiado. Entre os impropérios contra Rosa Weber, o coronel da reserva usa os temos “salafrária e corrupta”. As críticas são igualmente ofensivas contra os demais integrantes do STF.
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“Olha aqui, ô Rosa Weber, vou te falar uma coisa que vai para o TSE e o STF. Não se atreva a ousar aceitar essa afronta contra o povo brasileiro, essa proposta indecente do PT de querer tirar Bolsonaro do pleito eleitoral acusando-o de desonestidade, acusando-o de ser cúmplice de uma campanha violenta no WhatsApp para promover notícias falsas”, ameaça o coronel da reserva.
“Nós sabemos pelas pesquisas, seus canalhas, que Bolsonaro hoje vence não com 61%, como vocês dizem, mas com quase 80%, quiçá 90%. Se você aceitar essa denúncia ridícula e tentar tirar Bolsonaro por crime eleitoral nós vamos derrubar vocês, e aí acabou! Lembre-se bem, povo brasileiro: em 1964 foi exatamente por causa da corja da esquerda. STF, STF de canalhas, STF de corruptos, de vagabundos!”, acrescenta Carlos, referindo-se ao golpe militar que se estendeu até 1985.
Veja o vídeo:
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Na abertura da sessão da Segunda Turma do STF nesta terça-feira (23), o ministro Celso de Mello deu início à reação contra as palavras de Carlos Alves – para o decano da Corte, “ataques imundos e sórdidos”. Celso prestou solidariedade aos colegas citados no vídeo, como os colegas ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, presidente do Supremo.
“O primarismo vociferante desse ofensor da honra alheia fez-me lembrar daqueles personagens patéticos que, privados da capacidade de pensar com inteligência, optam por manifestar ódio visceral e demonstram intolerância radical contra os que consideram seus inimigos. Todo esse quadro imundo que resulta do vídeo, que longe de traduzir expressão legítima da liberdade de palavras, constitui verdadeiro corpo de delito comprobatório da infâmia perpetrada pelo autor”, declarou o ministro veterano.
Gilmar Mendes reforçou a defesa de Celso de Mello e pediu serenidade diante do quadro eleitoral conflagrado. O ministro também rebateu as críticas feitas pelo investigado sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas.
“É preciso encerrar [a discussão sobre as urnas], porque se trata de vilipêndio, um crime contra a democracia no Brasil”, reclamou Gilmar, reiterando as repetidas declarações de Rosa Weber sobre a segurança do sistema eletrônico de votação. Gilmar disse ainda que não se deve tumultuar o processo eleitoral com episódios de tal ordem.
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Antecessora de Toffoli na presidência do STF, Cármen Lúcia se aliou a Gilmar e Celso de Mello na defesa dos colegas. “Tudo que atinge um de nós, atinge todo o tribunal como instituição, que é muito mais importante do que cada um, mas, principalmente, preserva pela atuação ética, correta e honesta e séria de cada juiz desta Casa.”
Nota do Exército
A identidade do agressor foi questionada pelo site Nocaute junto ao comando do Exército. Em resposta ao veículo online, a corporação confirmou em nota (imagem abaixo) que é mesmo o coronel da reserva quem aparece no vídeo lançando ofensas aos magistrados.
“A pessoa que aparece no vídeo, conforme link encaminhado, é o Coronel da reserva Carlos Alves, que é responsável pelas declarações emitidas, as quais não representam o pensamento do Exército brasileiro”, diz trecho da nota.
Em uma das declarações, o militar da reserva diz estar autorizado pelas Forças Armadas a fazer advertências ao STF. “Se Haddad for eleito presidente da República, eu, como intervencionista, e milhões de brasileiros ficaremos com duvida e só temos uma forma de tirar essa dúvida: é no pau! E mesmo com brasileiros desarmados nós temos faca, foice, martelo, temos o diabo! Seus vagabundos, seus canalhas!”, vocifera.
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