O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco (SP), é uma das 37 pessoas indiciadas pela Polícia Federal, suspeitas de tramar um golpe de Estado. Segundo a PF, ele participou de reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro – principal indiciado – para discutir propostas como a decretação do estado de sítio e a prisão de autoridades. A presença do padre em encontros sobre o plano golpista foi citada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou acordo de delação premiada.
De acordo com as investigações, a reunião ocorreu no dia 19 de novembro de 2022 e contou ainda com a presença do ex-assessor para Assuntos Internacionais Filipe Martins e do advogado Amauri Feres Saad. Os dois também estão na lista dos indiciados nesta quinta-feira (21).
O padre da Diocese de Osasco nega ter participado da reunião e alega que dava apoio espiritual a Bolsonaro desde 2018, quando o então candidato à Presidência foi esfaqueado durante a campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG).
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Padre José Eduardo é conhecido no meio católico e influente nas redes sociais. No Instagram, seus dois perfis somam 440 mil seguidores. As páginas também remetem para o site pessoal dele, no qual são vendidos cursos onlines de apoio espiritual. Por lá, é possível comprar os vídeos por preços que variam de R$ 379 a R$ 897, à vista. Esse último também dá direito a participar de uma comunidade do religioso. É possível parcelar os valores em até 12 vezes, com juros.
Entre os títulos da série “Batalha espiritual”, estão “Aprenda a combater o mal” e “Aprenda a combater os demônios”. No alto da sua página, ele destaca uma passagem bíblica: “Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. (Efésios 6,11)”. “Nesse curso você aprenderá a se blindar das forças demoníacas e treinar para a batalha espiritual”, acrescenta.
O religioso incentiva a compra dos cursos:
“São Paulo nos diz que não há comunhão entre a luz e as trevas e enquanto não chegarmos no final dos tempos nós viveremos dia após dia o agravamento desse combate espiritual, quer aceitemos ou não.
Muitas pessoas percebendo a presença dessa atmosfera demoníaca me perguntam qual a melhor forma de se posicionar nessa batalha diária contra o inimigo.
Pensando nisso, desenvolvi esse curso cuidadosamente, para fornecer a você um conhecimento aprofundado sobre a importância de se preparar espiritualmente, equipando-se de ferramentas eficazes para enfrentar os desafios espirituais que possa encontrar no seu cotidiano e te inserir da maneira correta nas trincheiras desse campo de batalha.”
Celular apreendido
O pároco foi alvo de mandado de busca e apreensão pela PF em 8 de fevereiro de 2024, suspeito de integrar o “núcleo jurídico” que daria apoio ao movimento para impedir a posse de Lula.
Após o indiciamento desta quinta-feira, a defesa do religioso criticou a divulgação dos nomes envolvidos pela PF. “A nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do ministro de sigilo absoluto”, afirmou o advogado Miguel Vidigal em nota. A PF justifica a divulgação dos nomes dos indiciados com o intuito de evitar a disseminação de informações incorretas.
No início do mês, José Eduardo prestou depoimento de duas horas à PF. Na ocasião, a defesa também criticou o acesso dos investigadores ao celular do padre, alegando violação do sigilo sarcerdotal, por terem acessado conversas dele com fiéis.
Indiciamentos
O indiciamento de Bolsonaro e outras 36 pessoas, entre elas, ex-ministros militares como Braga Netto e Augusto Heleno, está no âmbito da investigação de uma trama para manter o então presidente no comando do país após a vitória de Lula nas urnas. O relatório foi concluído na tarde desta quinta, tem mais de 800 páginas e será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A Procuradoria-Geral da República (PGR) decidirá se irá denunciar os indiciados ao STF e, se a Corte aceitar a denúncia, eles se tornarão réus e serão julgados. As penas previstas para os crimes de golpe de Estado vai de quatro a 12 anos de prisão; de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, de quatro a oito anos de prisão; e de integrar organização criminosa, de três a quatro anos de prisão.
Veja quem são os indiciados pela PF
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