O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal (DF) Anderson Torres prestou depoimento na audiência de custódia após ser preso pela Polícia Federal (PF) no dia 14 de janeiro. Torres foi preso a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de omissão das forças de segurança do DF durante os atos golpistas no dia 8 de janeiro. Na ocasião, ele era secretário de Segurança do DF.
No depoimento, o ex-ministro afirmou que “jamais questionou o resultado das eleições” e que não faz parte da “guerra ideológica” instalada no Brasil.
A PF encontrou uma minuta com teor golpista na casa de Anderson Torres. O texto tinha como objetivo instaurar estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mudar o resultado das eleições presidenciais realizadas no ano passado. Na ocasião, a PF cumpria um mandado de busca e apreensão determinado pelo STF.
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“Do jeito que saí, o que deixei assinado, eu deixei tranquilo, porque nem se caísse uma bomba em Brasília teria ocorrido o que ocorreu”, disse Torres no depoimento. “Fora daqui, se a gente tiver oportunidade… vários ministros do Supremo Tribunal Federal são testemunhas de que eu fui na casa de vários deles para buscar o equilíbrio. Eu não estou mentindo, eu não sou maluco”, completou.
O ex-secretário iria prestar um novo depoimento nessa segunda-feira (23), mas foi adiado para o dia 2 de fevereiro. Essa foi a segunda vez que a Justiça tentou ouvir Torres, em depoimento na semana passada, o ex-ministro ficou em silêncio diante dos agentes da Polícia Federal. Na ocasião, os advogados afirmaram não ter acesso a todos os autos dos inquéritos
Confira a íntegra do depoimento:
“Eu quero só dizer que eu sou profissional da segurança pública há 23 (vinte e três) anos, sempre fiz meu trabalho com profissionalismo, nunca fui filiado a partido, ocupei posição política em razão do resultado do meu trabalho e, realmente, essa prisão e essa acusação me pegaram muito de surpresa, a audiência de custódia não é o local de falar nada sobre isso, mas quero dizer que não tenho nada a ver com os fatos, isso foi um tiro de canhão no meu peito, eu estava de férias, umas férias sonhadas por mim e pela minha família, isso foi um tiro de canhão no meu peito, no segundo dia de férias, acontece esse crime horrendo em Brasília e esse atentado contra o país e eu fui responsabilizado por isso.
Eu jamais daria condições de isso ocorrer, eu sou profissional, sou técnico e jamais faria isso.
O maior projeto de Segurança Pública do Distrito Federal é de minha responsabilidade, DF Mais Seguro, nós temos o menor índice de homicídios da história do Distrito Federal, que é medido há 45 (quarenta e cinco) anos, latrocínio, feminicídio, conseguimos reduzir todos os crimes. Acredito que por isso fui convidado a ser o Ministro da Justiça, cargo que ocupei com muita honra e muita técnica, conseguimos reduzir os homicídios a nível nacional, fizemos a maior quantidade de apreensão de drogas da história do país.
Cheguei num momento delicado no Ministério da Justiça, em um momento delicado entre os Poderes, tentei acalmar isso, visitei todos os Ministros do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, inclusive o Ministro Relator…
Estou num momento em que eu, realmente, vendo ali os tipos penais que estão sendo imputados a mim, são coisas inimagináveis para uma pessoa como eu, então é muito difícil.
Peço desculpas, o senhor é o primeiro que está me ouvindo, eu estava nos Estados Unidos e tive essa notícia, tive que vir rápido depois da notícia da minha prisão e da busca e apreensão na minha casa, comprei uma passagem caríssima, tirada do meu salário, não tenho outra renda, e preciso de oportunidade para falar isso, para me defender, para falar que não dei causa aos fatos.
Do jeito que eu saí, o que eu deixei assinado, eu deixei tranquilo, porque nem se caísse uma bomba em Brasília teria ocorrido o que ocorreu
Eu saio todo dia de casa às 7 (sete) da manhã e chego meia-noite, desculpe o desabafo, mas sendo acusado de terrorismo, golpe de Estado?! Pelo amor de Deus, o que está acontecendo?!
Eu não sei… Essa guerra que se criou no país, essa confusão entre os Poderes, essa guerra ideológica, eu não pertenço a isso, eu sou um cidadão equilibrado e essa conta eu não devo. Eu peço que essas imagens não saiam daqui. E isso, doutor, não é fraqueza não. Não é não. Isso é o que eu estou sentindo na alma.
Eu nunca senti isso, eu nunca fui assim, eu não conseguiria falar como eu cheguei aqui, como eu juntei minha família, em uma coisa que sonhamos anos, mas temos que ir embora porque eu vou ser preso, explodiram tudo lá…
Pelo amor de Deus, eu sou Delegado de Polícia Federal, eu sou um cara sério, eu jamais concordaria com esse tipo de coisa. Fora daqui, se a gente tiver oportunidade… vários Ministros do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL são testemunhas de que eu fui na casa de vários deles para buscar o equilíbrio.
Eu não estou mentindo, eu não sou maluco. Eu lutei para o equilíbrio.
O Ministério de Justiça e Segurança Pública foi o primeiro Ministério a entregar os relatórios da transição, eu jamais questionei resultado de Eleição, não tem uma manifestação minha nesse sentido, eu fui o primeiro Ministro a entregar os relatórios.
Está aqui o Dr. Rodrigo Roca, que trabalhou comigo, como Secretário Nacional do Consumidor. Imagine que se ele não estivesse comigo, quem estaria?
Eu nem tinha previsão de precisar de advogado, de contar com advogado.
Eu honrei o cargo de Ministro da Justiça. Não tem um brasileiro no Brasil que não tenha ouvido um monte de loucuras após a Eleição, e eu sempre no equilíbrio. Eu franqueei a Polícia Federal para acesso da nova gestão, inclusive para oficiar em nome da Polícia Federal.
Fiz tudo com gentileza, dentro da lei, tudo certo. Eu peço desculpas pelo desabafo, estou falando tudo isso porque eu estou, porque eu não sei como eu estou, há 4 (quatro) dias eu não sei como eu estou…. não sei como consegui juntar minha família e dizer o que eu tive que dizer.
Deus está me carregando. Meus familiares ficaram lá. Graças a Deus eu consegui chegar aqui nesse Batalhão sem maiores estardalhaços. Até 15 (quinze) dias atrás eu era Ministro da Justiça, hoje estou preso.
Foi um suplício chegar no Brasil sem problemas, escondido, escondendo a cabeça, foi um negócio horroroso, que nem em pesadelo… Estou em segurança, contei com a gentileza dos Coronéis que me receberam.
A minha prisão ocorreu normalmente, não tenho nada do que reclamar. Situação difícil pra eles, eu via no rosto deles, mas eu também deixei tudo transcorrer numa boa. Era isso que eu queria dizer, estou à disposição dos senhores.
Fiz o exame de corpo de delito, sem problema nenhum. Eu vim bem no avião, cheguei direto pra cá, não teve outro caminho e estou à disposição dos senhores e do Ministério Público, se os senhores quiserem vir aqui.
Eu nunca na minha vida deixei de honrar com minhas obrigações profissionais, seja de forma direta ou de forma indireta. Eu saio de casa 7 (sete) da manhã e volto meia-noite todos os dias. Isso é muito forte dentro de mim.
Eu sou uma pessoa correta e isso dói demais. Nós que temos amor pelas nossas coisas, pelo certo, isso dói demais na gente”.
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