Uma das figuras mais próximas do ex-presidente Jair Bolsonaro e seu assessor especial para assuntos internacionais, Filipe Martins foi preso nesta manhã em Ponta Grossa (PR), acusado de participar de uma trama golpista para manter o ex-chefe no poder. A Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, também mira Bolsonaro e ex-ministros poderosos do antigo governo, como os generais Braga Netto e Augusto Heleno, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Os 33 mandados de busca e apreensão, as quatro ordens de prisão preventiva e as 48 medidas cautelares diversas da prisão, como a apreensão do passaporte do ex-presidente, cumpridos pela PF, são desdobramento da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Aos 36 anos, Filipe acumula polêmicas e uma ascensão política meteórica. Ligado à extrema-direita norte-americana, também é investigado por fazer gesto de supremacistas brancos em audiência no Senado.
Segundo o tenente-coronel, Filipe Martins entregou em mãos a Bolsonaro a minuta de decreto golpista de convocação de novas eleições, logo após a vitória do presidente Lula.
De acordo com o colunista Talento Aguirre, do UOL, Cid contou à PF que Filipe levou para o encontro com o então presidente um advogado constitucionalista e um padre, cujos nomes não foram revelados. Entre os arquivos encontrados no celular de Cid estavam uma minuta golpista e um roteiro para o golpe de Estado, além de um parecer emitido pelo jurista e advogado Ives Gandra Martins para embasar juridicamente a empreitada criminosa.
Conforme as investigações, a minuta previa a prisão de adversários. Segundo Mauro Cid, após receber o documento, Bolsonaro consultou militares de alta patente sobre viabilidade de um golpe de Estado. A PF investiga se a minuta é a mesma encontrada na residência do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, também alvo da operação da PF.
Ascensão meteórica
Bacharel em Relações Internacionais, Filipe Martins virou assessor especial da Presidência para assuntos internacionais no início de 2019, aos 31 anos, após ter trabalhado com o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, no governo de transição.
PublicidadeAmbos são seguidores do escritor Olavo de Carvalho, falecido em 2022. Filipe Martins foi incluído no inquérito das fake news, no Supremo Tribunal Federal, suspeito de participar do chamado “gabinete do ódio”, grupo baseado no Planalto para difundir mentiras e ataques a adversários políticos de Bolsonaro.
O nome dele foi incluído nas investigações após a publicação de um comentário a respeito de um vídeo divulgado por Bolsonaro em suas redes sociais. “O establishment não gosta de se ver retratado, mas ele é o que ele é: um punhado de hienas que ataca qualquer um que ameace o esquema de poder que lhe garante benefícios e privilégios às custas do povo brasileiro. Isso só mudará quando o Brasil se tornar uma nação de leões”, tuitou.
O vídeo trazia Bolsonaro como um leão cercado de hienas representando várias instituições e movimentos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) ao próprio STF. No fim da montagem, surgem leão, identificado como “conservador patriota”, que chega para ajudar o “presidente”, a lutar contra as hienas. Depois da reação do Supremo, Bolsonaro apagou o vídeo e classificou sua sua publicação como um “erro”.
Filipe Martins informou, em seu perfil no Linkedin, que trabalhou na Embaixada dos Estados Unidos em Brasília entre fevereiro de 2015 e julho de 2016. Antes, atuou na assessoria internacional do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e também deu aulas em cursos preparatórias para carreiras diplomáticas.
Extrema-direita
Ligado à extrema-direita dos Estados Unidos, ele e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) apresentaram Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, a Jair Bolsonaro em 2018. Bannon foi condenado a quatro meses de prisão por não colaborar na investigação sobre a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, em Washington. O ex-assessor do Planalto já exibiu fotos na Casa Branca em reunião com Trump, o seu então secretário de Estado, Mike Pompeu, o ex-ministro Ernesto Araújo e Eduardo.
Filipe responde a processo por crime de racismo. Em sessão do Senado em março de 2021, ele fez um gesto considerado supremacista branco. Ele foi absolvido por um juiz da 11ª Vara Criminal do Distrito Federal. Mas o caso foi reaberto pelo desembargador Ney Bello. “O que temos são indícios. Fortes indícios, diria eu. Por serem fortes indícios, não é cabível a manutenção da absolvição sumária do apelado”, alegou o magistrado.
O gesto foi feito numa sessão remota do Senado na qual Filipe acompanhava o então ministro Ernesto Araújo na discussão de temas relativos à pandemia de covid-19. O ex-assessor uniu os dedos polegar e indicador, mantidos abertos e esticados os dedos médio, anular e mínimo, de forma a caracterizar a formação das letras “WP”, como sigla para o lema racista White Power (“Poder Branco”). Na ocasião, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) identificou o gesto e alertou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. A Polícia do Senado abriu inquérito na ocasião.
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