Tic tac é relógio avançando, tempo da campanha eleitoral escorrendo.
Em março o senador e já então ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, divulgou o calendário da vitória de Bolsonaro. Empataria com Lula em intenções de voto em maio, tomaria a dianteira em final de julho e início de agosto – momento das convenções partidárias – e em final de setembro a dúvida seria se Bolsonaro venceria logo no primeiro turno.
Estamos em meados de maio e Bolsonaro mantém-se em média dez pontos percentuais atrás de Lula nas intenções de voto para primeiro turno, e cerca de uns 14 a 15 pontos atrás no segundo turno.
Ciro Nogueira é político experimentado, hábil. Quanto de verdade e quanto de jogo de cena houve na declaração do calendário nunca saberemos, mas há dois elementos interessantes a revisitar.
O primeiro refere-se à ideia de crescimento escalonado, gradativo, que Ciro Nogueira projetou para Bolsonaro. Tal movimento faz sentido quando se acredita que ações governamentais, políticas públicas, iriam gradativamente gerar efeitos que modificassem a vida das pessoas para melhor. Nesse sentido, o calendário de Ciro Nogueira dialogava com o voto econômico, na crença que ações governamentais pudessem reverter a vantagem de Lula, a qual é calcada na mensagem de bonança que o ex-presidente produziu para o povo brasileiro em sua gestão.
Na medida em que Bolsonaro não avança, pode-se concluir que a porta do voto econômico fecha-se gradativamente para o presidente.
PublicidadeO segundo elemento refere-se ao efeito “processo” que o tempo impõe às campanhas. O passar do tempo gera, para o candidato atrás nas pesquisas, um efeito negativo que se retroalimenta no sentido da derrota. O tic tac do relógio corrói a força da campanha do presidente. Ele precisa mostrar a seus aliados que suas chances crescem, e não diminuem, a cada dia.
Aliado é aquele que pede voto, que trabalha pela chapa. No caso de candidatos a deputado, senador e governador, à medida que seu candidato a presidente ganha uma imagem de perdedor, que sua impopularidade aumenta, pedir voto para ele passa a ser desgaste.
Ressalte-se que o tamanho do desgaste sofrido pelo apoiador de Bolsonaro, à medida que uma imagem de derrota se construa, será tanto maior quanto mais oposicionista ao presidente seja a região. Daí que para o Centrão, hoje formalmente sólido ao lado do presidente, a questão toque profundamente. Boa parte dessa bancada vem do Nordeste, região dominada por Lula. Por exemplo, das bancadas eleitas em 2018, 36,8% dos deputados do PP vieram do Nordeste, 33,3% no caso do PL; 23,3% no do Republicanos e 24,1% do DEM – hoje compondo o União Brasil.
À medida em que a oportunidade do voto econômico se fecha para Bolsonaro e a campanha não embala, pode-se prever maior isolamento e um presidente cada vez mais radical, que busca mudar o foco para o discurso que lhe interessa mais, o dos costumes.
Fico curioso em saber o que Ciro Nogueira acha dessa estratégia.
PS: a radicalização pode não servir a uma vitória eleitoral, mas tanto alimenta ideias de golpe como mantém uma base ativa para constituir uma oposição caso Lula eleja-se em outubro.
O texto acima expressa a visão de quem o assina, não necessariamente do Congresso em Foco. Se você quer publicar algo sobre o mesmo tema, mas com um diferente ponto de vista, envie sua sugestão de texto para redacao@congressoemfoco.com.br.
Deixe um comentário