A senadora Simone Tebet (MDB-MS) fará na tarde desta quarta-feira (14) seu discurso de despedida no plenário. Simone foi candidata à Presidência da República. Seu mandato está terminando. Ela não retorna no ano que vem.
Simone provavelmente gostaria que ao fazer esse discurso ela já tivesse mais definido o seu futuro. Não terá. Depois de disputar o primeiro turno e ter um desempenho que surpreendeu – terminou a eleição em terceiro lugar, à frente de Ciro Gomes, do PDT –, a senadora atirou-se de cabeça no segundo turno na defesa de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Viajou o país inteiro no esforço de fazer com que seus eleitores no primeiro turno compreendessem que agora Lula era a opção de manutenção da democracia no país, o único caminho possível para que o Brasil não corresse o risco de vir a experimentar a ascensão autoritária de um autocrata. Ao lado do próprio Lula, aparecia junto a Marina Silva, da Rede, como uma fiel escudeira. Simone tem o direito de perguntar agora a Lula algo como os versos da famosa canção de Carlos Gomes: “Tão longe de mim distante, onde irá, onde irá teu pensamento?” E só lembrando os versos seguintes: “Quisera saber agora, se esqueceste, se esqueceste o juramento?”
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Nos primeiros momentos após a eleição, Lula pareceu demonstrar que era devedor do esforço de Simone Tebet. Parecia certo que ela viria a ocupar um ministério. E consolidou-se a impressão de que seria o Ministério do Desenvolvimento Social. A partir de então, porém, começaram os problemas que adiam esse anúncio.
A redistribuição de renda a partir da criação do programa Bolsa Família é a principal característica dos governos anteriores do PT. Estima-se que 36 milhões de brasileiros saíram da extrema pobreza nos governos petistas. E 42 milhões ascenderam à classe C. Por conta disso, o PT resiste a abrir mão da sua menina dos olhos.
Por mais próxima que Simone Tebet tenha ficado de Lula no segundo turno, ela não pertence ao PT. E tem seus próprios projetos. Certamente, pretende se projetar a partir do seu desempenho na eleição presidencial deste ano para se apresentar novamente como candidata em 2026. Uma eleição na qual, muito provavelmente, Lula, hoje com 77 anos, não será candidato. Uma eleição, portanto, com grande chance de marcar uma renovação nos nomes na disputa. O PT terá que achar um substituto para Lula. Mas certamente não deseja que esse substituto seja alguém de outro partido. E com perfil mais conservador.
À frente do Desenvolvimento Social, Simone Tebet teria as condições de alavancar as suas pretensões. Em algum momento, acabaria virando concorrente do PT. E esse é o receio.
Esse é, digamos, o lado petista do raciocínio. Mas há o outro lado. Se Lula tivesse ganho a eleição no primeiro turno, ele talvez agora pudesse montar um governo apenas com o PT e com os seus aliados tradicionais. A verdade é que no primeiro turno, para além do arranjo que levou Geraldo Alckmin para o PSB e da adesão de André Janones e do Avante, Lula ampliou pouco suas alianças para além dos seus parceiros tradicionais. Mas Lula não venceu a eleição no primeiro turno. E ganhou por muito pouco no segundo turno.
Lula venceu a eleição mais disputada da história brasileira. Com as consequências de um país dividido. Os atos de terrorismo na noite de segunda-feira (12), dia da sua diplomação, mostram como tais consequências ainda são muito graves. No Congresso, Lula conseguiu aprovar com folga no Senado a PEC da Transição, mas não vai conseguir aprová-la como queria esta semana na Câmara. Tudo é complicado. Tudo é bem difícil, dado esse cenário.
Ainda que possa haver algum sentido em alguns argumentos do PT sobre a área social e Simone Tebet, por outro lado os gestos até agora de Lula na montagem do seu governo não têm dado muito os sinais de que ele e o PT compreenderam que não venceram sozinhos a eleição mais disputada da história. Que há grupos terroristas nas ruas prontos para agir agora e especialmente ao primeiro sinal de fracasso. Lula não pode errar. Nem pode abrir mão do apoio de quem se uniu a ele no segundo turno.
Até o momento, os nomes anunciados por Lula para seu futuro governo são todos da sua própria turma. Ou do PT ou aliados bem próximos, como Flávio Dino, do PSB, na Justiça. O mercado financeiro inicialmente imaginava que ele poderia colocar um nome mais conservador na economia. Animou-se com a adesão dos pais do Real. Lula colocou na Fazenda o companheiro Fernando Haddad. Mal ou bem, o mercado precificou Haddad imaginando que, depois da martelada no cravo, viria uma martelada na ferradura. Lula, então, nomeou o companheiro Aloizio Mercadante para o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Foram duas marteladas no cravo, nenhuma ainda na ferradura.
Se a ferradura não estiver ajustada, não adianta martelar o cravo. O cavalo não irá cavalgar direito…
Concordo plenamente. Imaginava-se que o ministério de Lula represtaria a frente que lhe deu apoio. Não é. Imaginava-se que Tebet receberia um ministério de peso. Não recebeu. Nomeações apenas proximas ao PT enfraquecem politicamente o novo governo.