A revelação de um plano para assassinar o então eleito presidente Lula, seu vice, Geraldo Alckmin, e o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, no cargo em 2022, consolida o isolamento de Jair Bolsonaro. A Polícia Federal indiciou Jair Bolsonaro, generais, oficiais e policiais que conspiraram. Levar o ex-presidente à prisão exigirá que a denúncia da PGR comprove sua associação com os golpistas, a partir dos indícios — fartos — levantados no inquérito policial.
Bolsonaro já está inelegível até 2030, e a hipótese da aprovação de um anistia pelo Congresso se dissolveu com a publicação das provas obtidas pela PF. Nos últimos dias, não se ouvem as vozes de seus habituais defensores. Valdemar Costa Neto, por exemplo, está mais preocupado com o futuro do PL. Semanas atrás, Valdemar ainda dizia que Bolsonaro seria capaz de eleger um poste. Não foi o que se viu nas eleições municipais. A centro-direita foi bem sucedida; Bolsonaro amargou derrotas importantes.
Lula pode tirar o bolsonarismo do caminho e fidelizar o Centrão no governo, com uma reforma ministerial que dê mais poder ao PP e ao Republicanos, isolando o PL como representante da extrema direita. O fortalecimento dessa base passa também pelo apoio que o PT deu a Hugo Motta (Republicanos-PB), agora candidato único à presidência da Câmara. Lula quer ser o comandante de fato do Centrão. Esse arranjo ajuda, mas não garante sua reeleição ou a de outro nome que o represente.
O presidente tem dois anos difíceis pela frente. Há mais de um mês está na pauta o anúncio de medidas para adequar o gasto público às regras do arcabouço fiscal, criadas pelo próprio governo. Parte do ministério e o próprio Lula resistem, mas há consenso entre economistas e agentes financeiros de que o ajuste é essencial para dar credibilidade à capacidade do governo de honrar compromissos, sobretudo contendo o crescimento de despesas obrigatórias, destino de mais de 90% do Orçamento federal. A essas incertezas, soma-se o enigma que ainda representa o futuro governo Donald Trump, capaz de produzir mudanças profundas na economia mundial.
Não será fácil reorientar as despesas públicas, cortar benefícios sociais e, sobretudo, mexer em gastos tributários, como gostaria de fazer o ministro Fernando Haddad. Segundo o economista Felipe Salto, estão previstos mais de R$ 540 bilhões em renúncias tributárias em 2025. A Constituição determina que haja um plano para reduzi-las, mas isso exigiria muita vontade política e embates com o Centrão, representante de lobbies de setores beneficiados.
O Banco Central, mesmo sob Gabriel Galípolo, seguirá essa cartilha, e os juros ficarão em alta enquanto não houver um horizonte mais definido. A inflação é uma barreira importante que joga contra o governo, especialmente a dos alimentos, aquela que o eleitor sente no bolso diariamente. Só em outubro, as carnes subiram 5,81% — o acém, um corte de segunda, teve alta de 9,09%.
O caminho à reeleição também passa por oferecer respostas à crise de segurança pública que o país enfrenta. Vai do assassinato de um mafioso à luz do dia num aeroporto ao homem-bomba que se explodiu em frente ao STF e passa pela brutalidade de um policial que atira num estudante de medicina à queima-roupa. Projetos estão paralisados no Congresso, que preferiu se ocupar da aprovação de regras que mantêm seu controle sobre as emendas orçamentárias — sem assegurar a transparência exigida.
A derrocada de Bolsonaro fortalece Lula, mas manter-se na dianteira até 2026 poderá exigir uma reorientação das prioridades do governo e um aperto financeiro que, pelo menos até agora, nem Lula nem o Congresso demonstram disposição para levar adiante.
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