O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, tornou-se um problema para a imagem do governo, que recém completou dois meses. Acusado de esconder patrimônio em sua declaração de bens e também de patrocinar um voo e hospedagem com verba pública para comparecer a um leilão de cavalos, sua permanência trouxe dúvidas quanto à idoneidade do governo. Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, da Band News FM, o presidente Lula anunciou nessa quinta-feira (2) que pretende se reunir com o ministro para cobrar explicações.
“Eu tentei essa semana conversar com o Juscelino. (…) Eu já pedi para o ministro Rui Costa [Casa Civil] convocar ele para segunda-feira (2) a gente ter uma conversa”, contou o presidente. Caso Juscelino não consiga se explicar sobre as acusações recentes, Lula já considera que “ele não pode ficar no governo”. Por outro lado, afirma que levará a presunção de inocência em consideração.
Juscelino é um dos ministros vindos do União Brasil, mesmo partido da ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Além do partido em comum, ela também trouxe problemas à imagem do governo. Ela é esposa de Waguinho, prefeito do município fluminense de Belford Roxo, acusado de envolvimento com milícias locais. Em sua campanha para deputada federal, Daniela Carneiro foi fotografada e filmada junto a moradores suspeitos de fazer parte de milícias.
Sobre ela, Lula já se pronunciou em sua defesa. “A Daniela é diferente. (…) Você não pode condenar uma pessoa por estar em cima do palanque com alguém indesejável”, declarou. O presidente comparou com um caso pessoal seu, nas eleições de 2006, em que seu partido apoiou a candidatura de Newton Cardoso ao Senado por Minas Gerais, e Lula era fotografado junto a ele mesmo não o enxergando como aliado.
Mesmo avaliando que as suspeitas contra sua ministra do Turismo não sejam verídicas, Lula também não exclui a possibilidade de sua demissão caso fique comprovado seu envolvimento em atividades criminosas. “Aparecendo a evidência que seja, sairá do governo”, garantiu.
Críticas a Campos Neto
Além de se pronunciar sobre os problemas de imagem provocados por seus dois ministros, Lula também voltou a tecer críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “Por quê esse cidadão que não foi eleito para nada acha que tem o poder de decidir as coisas e ainda dizer que vai pensar em como ajudar o Brasil? Você [Campos Neto] não tem que pensar em como ajudar o Brasil, só tem que pensar em como reduzir a taxa de juros para que esse país volte a ter crédito, para que a economia volte a funcionar”, exclamou.
Tanto Lula quanto demais membros de seu governo defendem a redução da taxa real de juros (Selic), cuja margem atual é de 13,75%. Sua definição fica a cargo do BC, cuja resistência em abaixar a taxa resultou em um relacionamento hostil com parte do governo. Apesar de manter um bom relacionamento com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Campos Neto já é malvisto pela ala ideológica do PT, e sua presidente, Gleisi Hoffmann (PR) já manifestou posição contrária à própria independência do banco.
Lula disse que não tem interesse em manter “bravata” com Campos Neto, e também disse que “não liga muito para essa coisa de BC independente ou não independente, autônomo ou não autônomo”. Sua crítica, conforme disse na entrevista, não é à gestão do BC como um todo, mas especificamente à taxa Selic, vista por ele como um impeditivo para o crescimento econômico.
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