Deputados do PT vão pedir a convocação na Câmara do embaixador do Brasil no Uruguai para explicar denúncia de censura a um documentário sobre a vida do cantor e compositor Chico Buarque em um festival de cinema em Montevidéu. Paulo Teixeira (PT-SP) e Henrique Fontana (PT-RS) querem esclarecimentos do embaixador Antonio Simões sobre o episódio.
A organização do 8º Festival de Cinema do Brasil, previsto para outubro, diz que foi orientada pela Embaixada do Brasil no Uruguai a não exibir o documentário “Chico: Artista Brasileiro”. De acordo com notícias publicadas pelo jornal uruguaio El Observador e pelo colunista Ancelmo Góis, do Globo, a JBM Filmes disse ao diretor da obra, Miguel Faria Junior, que foi informada sobre o “pedido” da diplomacia brasileira.
A JBM Filmes considerou o episódio como “censura” e decidiu manter o documentário na mostra no Cine Alfabeta. O cantor e compositor brasileiro é alvo de ataques nas redes sociais promovidos por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro por causa de sua relação histórica com o PT e o ex-presidente Lula.
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“A embaixada brasileira no Uruguai censurou na cara dura um documentário sobre Chico Buarque que seria exibido em Montevidéu. A última vez que Chico Buarque foi censurado o Brasil não ia bem”, reagiu o deputado Paulo Teixeira, ao fazer referência sobre a ditadura militar.
O Itamaraty nega que tenha censurado a obra e alega que fez apenas sugestões à organização do festival. “Esta manhã, recebi com surpresa uma mensagem do exibidor dizendo que ligaram da embaixada para ‘pedir’ que NÃO seja exibido o filme de Chico neste festival. Se é lógico devido à situação política no Brasil, no Uruguai é muito grave que se censure a exibição de um filme, sendo que neste caso a JMB Filmes do Uruguai é distribuidora e esse ato afeta nossos interesses”, informou a produtora.
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou que a entidade organizadora da mostra pediu o apoio da embaixada brasileira e que forneceu uma lista de filmes que gostaria de exibir. Nessa lista, segundo ele, não constava o documentário sobre Chico Buarque.
PublicidadeDe acordo com o Itamaraty, o governo brasileiro entrou apenas como apoiador do festival. “A seleção dos filmes é de responsabilidade dos produtores do evento. Na divisão de tarefas, foi solicitado à embaixada que contribuísse com coquetel de abertura e divulgação do evento no Uruguai.”
A diretora da produtora Inffinito, Adriana Dutra, disse ao UOL que houve um mal-entendido no episódio e que o filme será exibido no festival. “A Embaixada do Brasil no Uruguai não é patrocinadora e sim apoiadora do evento e, assim como outros apoiadores, exibidores e distribuidores locais, opina na seleção dos filmes, mas o crivo final fica a cargo da curadoria”, explicou.
Outros casos apontados como censura ocorreram recentemente no Brasil. Na semana passada o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, determinou a apreensão de todos os exemplares da novela gráfica Vingadores: a Cruzada das Crianças, que trazia a imagem de dois personagens masculinos se beijando, na Bienal Internacional do Livro. A decisão foi revertida pela Justiça.
No primeiro semestre, o presidente Jair Bolsonaro vetou uma proposta do Banco do Brasil que focava na diversidade. Ele alegou que a decisão era em “respeito à população”. Bolsonaro também criticou o uso de dinheiro público na produção do filme Bruna Surfistinha e defendeu a indicação de um evangélico fervoroso para o comando da Agência Nacional de Cinema (Ancine).
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