Nesta segunda-feira (13), o PT realizou a cerimônia de comemoração de seu aniversário de 43 anos desde a fundação. Na comemoração, discursaram algumas das principais lideranças do partido. Entre eles, o presidente Lula. Tanto ele quanto as oradoras que o antecederam relembraram o movimento de vigília organizada em frente à sede da Polícia Federal, em que militantes acamparam para cobrar sua libertação durante os 580 dias em que esteve preso, entre 2018 e 2019.
Os discursos também foram acompanhados de visões sobre os principais desafios enfrentados pelo partido nos últimos anos, em especial após o impeachment de Dilma Rousseff e o governo de Jair Bolsonaro. Também ressaltaram a defesa dos valores que deram origem ao partido, em 1980. Apesar da celebração ser realizada no dia 13, o dia oficial da fundação foi em 10 de fevereiro.
Confira a cerimônia:
Encerramento com Lula
O presidente Lula foi o último a se pronunciar. Antes de falar, assinou um documento de doação de recursos próprios para o PT. “Eu vou tocar em um assunto que muitas vezes não parece muito agradável: a questão do nosso partido não ficar dependente de verbas e fundos do Estado brasileiro. (…) É importante a gente aprender a contribuir para o nosso partido não depender eternamente de fiscalização do Tribunal de Contas da União”, declarou, defendendo a independência da sigla em relação ao fundo partidário e ao fundo eleitoral.
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Lula também criticou os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, afirmando que “nós recebemos um Brasil em 2023 muito pior do que o que nós recebemos em 2003. Muito mais incivilizada a sua máquina pública, [com] muito mais gente que não tem direitos”. O presidente também defendeu um “processo de limpeza” para isolar socialmente pessoas que praticam discursos de ódio no dia-a-dia.
PublicidadeSobre o PT, defendeu também o fortalecimento do diálogo do partido com a sociedade civil, ressaltando a importância da abertura para críticas e paciência na explicação de suas pautas. “Quanto tempo não passamos explicando o porquê da nossa bandeira ser vermelha?”, exemplificou. Reforçou em seguida a defesa das pautas de combate à fome e fortalecimento da participação feminina na política. “Esse país não será construído se o PT não cumprir o que é a razão de seu nascimento”, ressaltou.
Lula também prestou homenagem aos militantes que participaram da vigília na sede da Polícia Federal. “Eu quero agradecer a cada um de vocês. (…) Se não fosse aquela vigília, eu, quem sabe, não estaria aqui hoje”. Em berros, gritou “bom dia, Brasil, boa tarde, Brasil, boa noite, Brasil”, em referência aos gritos dos acampados.
“Nós recebemos um Brasil em 2023 muito pior do que o que nós recebemos em 2003. Muito mais incivilizada a sua máquina pública, [com] muito mais gente que não tem direitos. e nós vamos levar um tempo para fazer um processo de limpeza e fazer com que aquelas pessoas que pregam o ódio, que xingam as pessoas na rua, ofendem as pessoas na rua, que sejam isoladas da sociedade brasileira, porque a sociedade brasileira não pensa assim, não é assim e não quer isso”
Discurso de Gleisi Hoffmann
A primeira a falar na cerimônia foi a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR). Gleisi abriu sua fala relembrando a proposta que deu origem ao partido, na década de 1980. “O PT é fruto da consciência política da classe trabalhadora brasileira, e daqueles que sempre foram excluídos ao longo da história (…) pelo direito de participar livremente das grandes discussões nacionais. (…) Nasceu para dar voz à imensa maioria silenciada na miséria”.
A dirigente partidária relembrou a trajetória do partido desde então, chegando à vitória eleitoral de Jair Bolsonaro em 2018, mesmo ano da prisão de Lula. “Não foi uma caminhada fácil, nunca foi, especialmente nos anos recentes, em que um modelo excludente, submisso a poderosos interesses externos e internos, voltou a oprimir os trabalhadores, e fez o Brasil regredir em todos os sentidos”.
Gleisi também apontou para o círculo de alianças criadas para as eleições de 2022, trazendo como vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), antigo rival de Lula nas eleições de 2006 e do PT em 2018. “Nós do PT temos orgulho do papel que desempenhamos na construção desse movimento, reunindo aliados de sempre e adversários de ontem para defender a democracia, com os olhos no presente e no futuro do país”
Trouxe à tona também os atos golpistas de 8 de janeiro. “A própria realização das eleições foi ameaçada. Tentaram desacreditar a urna eletrônica e a justiça eleitoral, que cumpriram com destemor o seu dever. Reconhecida a vontade das urnas dentro e fora do país, com o presidente já governando, os revoltados tentaram um golpe de força. Uma selvageria contida graças à reação enérgica do presidente Lula e seu governo, e ao repúdio do legislativo, do judiciário, da sociedade brasileira e da comunidade internacional”, declarou.
A presidente do PT também defendeu os projetos econômicos propostos pelo partido. “Se a prioridade do país é o crescimento, a geração de empregos e oportunidades, então esse é o caminho da nossa política econômica”, afirmando que o partido dará abertura a críticas ao seu modelo econômico, mas não deixará de fazer a defesa de seus caminhos para o desenvolvimento nacional fora do que chama de uma lógica “mercadocrata”.
Discurso de Dilma Rousseff
A ex-presidente Dilma Rousseff, que governou entre 2011 e 2016, falou em seguida. Seu discurso começou tratando de sua deposição em decorrência de um projeto de impeachment, considerado por seu partido como um golpe. “Nós, uma vez, pensamos que as coisas estavam muito difíceis. Mas nós sabíamos de uma coisa: que nós voltaríamos. Ao sair do Palácio e da Alvorada, eu disse ‘nós voltaremos’. Isso, nós devemos à força de várias organizações e vários partidos. Mas devemos, sobretudo, à força, determinação e coragem do PT”.
Em seguida, agradeceu as entidades e militantes que permaneceram ao lado do partido desde então, em especial na vigília de Lula. “Nós sabemos que, em alguns momentos da vida, é preciso ter coragem. Nós tivemos coragem. Cada um de nós aqui, em vários momentos, se sentiram ameaçados, oprimidos, e resistiram ao temor. Eu quero saudar toda essa militância aqui presente. Aquele companheiro, lá do interior do Brasil, que quando a gente chega na campanha eleitoral, carrega uma bandeira e aparece para receber a gente”.
Por fim, apontou para a situação das democracias no resto do mundo, ainda em momento de crise. “Quero dizer a vocês que a democracia, no mundo, passa por uma crise. E a crise na democracia afeta todas as instituições, inclusive os partidos políticos. E os partidos vêm sendo as entidades mais afetadas pela crise de representatividade”.
Nesse cenário, ela avalia que o PT se fortificou, por considerar que a sigla não se afastou de suas pautas centrais desde a fundação. Esse fortalecimento, porém, veio acompanhado de novos desafios na economia local e mundial, com o crescimento da desigualdade social e retomada do autoritarismo. “Nosso desafio é ser capaz de dar sustentação às nossas mudanças”, alertando para o cenário hostil ao partido no Congresso Nacional, de maioria conservadora.
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