Liderança histórica do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) saiu com adesivo do PT às ruas, em Fortaleza, para pedir voto para o então candidato Lula (PT) no segundo turno da campanha eleitoral. Um dos líderes da oposição no Senado durante os dois governos anteriores de Lula, Tasso defende que os tucanos não ocupem cargos ou integrem a base aliada do petista neste terceiro mandato.
Em entrevista ao Globo, o ex-presidente do PSDB afirmou que o PSDB deve se manter independente. “Na minha opinião, nós devemos fazer uma oposição não sistemática, como fizemos no primeiro governo do Lula, aprovando vários projetos de interesse dele. O presidente Lula está se propondo a fazer um governo de coalizão que conjugue várias tendências e pensamentos. Então, vamos esperar para ver até que ponto vai a nossa oposição. Na minha opinião, o partido não deve ter cargos nem integrar a base de governo; tem que ficar independente”, afirmou.
Tasso, que não concorreu à reeleição este ano, teve uma “demorada conversa” com Lula, em São Paulo, logo após a vitória do petista. “Ele me chamou e eu fui conversar com ele no hotel em que estava em São Paulo. Ele falou dessa disposição de fazer um governo aberto, da preocupação extrema em acertar e que o governo não seria pautado apenas pelas agendas do PT. Lógico que o PT terá um papel forte, mas ele entendeu que o resultado foi de uma conjugação de esforços de vários partidos e tendências”, declarou o senador aos repórteres Eduardo Gonçalves e Fernanda Trisotto.
O senador também reforçou a relação entre o PSDB e Geraldo Alckmin, que deixou o partido após mais de 30 anos para se candidatar como vice Lula pelo PSB. “O Geraldo pode mudar de partido, mas ele tem jeito de tucano, cara de tucano e mente de tucano. Não tem jeito! Todo mundo olha para ele e acha que é um tucano. E nós ainda temos uma ligação e uma interlocução muito forte com ele”, explicou.
O tucano também lembrou que nem sempre PSDB e PT foram inimigos. Recordou que os dois partidos estiveram próximos na campanha pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992, e ensaiaram uma candidatura conjunta no governo Itamar Franco, abortada pelos petistas em meio à candidatura de Fernando Henrique Cardoso, em 1994.
Ainda na entrevista, o senador responsabilizou o PT pela ascensão de Jair Bolsonaro. Segundo ele, foi a política do “nós contra eles”, atribuída pelo senador aos petistas, foi decisiva para a divisão do país.
Publicidade“Acontece que quando o Fernando Henrique assumiu, o PT mais radical veio à tona e cometeu o grande erro, a meu ver, que gerou o Bolsonaro: nos transformar em inimigo número 1 e até nos demonizar. E aí dividiu o país, quando o PT fez o “nós contra eles”. Esse tipo de posicionamento levou ao surgimento de Bolsonaro, que trouxe à tona no país o que não existia — uma extrema-direita organizada. Agora, nós formamos uma frente e declaramos apoio ao Lula — todos os ex-presidentes do PSDB —, porque este é um governo com características fascistas que está muito longe de nós”, declarou.
De acordo com Tasso, o PSDB deve se renovar com a eleição dos governadores Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS). O senador entende que o partido deve passar por uma renovação radical. “Os três governadores, junto com o Pedro Cunha Lima (candidato derrotado na Paraíba) e o Ricardo Ferraço (vice-governador eleito do Espírito Santo). A cara e a cabeça do partido devem ser essas.” As eleições trouxeram saldo negativo para o PSDB, que perdeu o estado de São Paulo, após uma hegemonia de mais de 20 anos, e viu sua bancada na Câmara cair de 29 para 13 deputados.
Deixe um comentário