O epidemiologista Cesar Victora, professor emérito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, anunciou que recusou a medalha de Ordem do Mérito Científico dada pelo governo de Jair Bolsonaro. A recusa ao prêmio conferido ao epidemiologista, referência mundial no estudo do aleitamento materno, se dá pelas posições contra a pesquisa científica do próprio presidente da República.
“A homenagem oferecida por um governo federal que não apenas ignora, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não me parece pertinente”, resumiu o professor, em uma carta enviada ao ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, e tornada pública nesta sexta-feira (5), um dia depois de seu nome ser indicado com a grã-cruz da Ordem, maior nível de honraria dada a pesquisadores científicos pelo governo.
O professor, que indica ter posições contrárias ao governo em relação ao combate da pandemia de covid-19, aprofundou ainda mais suas críticas.
“Mais ainda, enquanto cientista não consigo compactuar com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e em especial os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência têm sido utilizados como ferramentas para retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas”, escreveu.
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A sua carta, argumenta, foi escrita antes de o governo retirar algumas das honrarias dadas a outros cientistas – que seriam destinados a pesquisadores que são críticos ao governo e ajudaram a desbancar algumas das teorias negacionistas do próprio Jair Bolsonaro. “Tal atitude somente reforça minha decisão de não aceitar a distinção a mim oferecida”, concluiu Cesar Victora.
A lista, publicada no Diário Oficial da União nesta quinta-feira (4), acabou por viralizar após o presidente Jair Bolsonaro conceder a medalha de Grão-Cruz a si mesmo – o ato, no entanto, é considerado praxe e tem base em um decreto de 2002. A lista antecede uma cerimônia que, com os nomes indicados ali ou com novos nomes indicados por Bolsonaro, deve ser realizada até o final deste ano. A última deste tipo, com cerca de 70 agraciados, ocorreu ainda no governo Temer.
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