Lula está preocupado com a sucessão presidencial. Além deixar ministros e aliados em dúvida sobre a disposição de disputar mais um mandato, alertou-os e pediu providências sobre a alta do custo de vida, especialmente dos preços dos alimentos. Comida cara não dá votos. A alimentação em casa chegou ao final de 2024 com aumento acumulado de 8,23%. As carnes tiveram o maior peso nesse índice, uma elevação de 15% no período. Carnes, como a maior parte dos produtos agrícolas, são commodities, ou seja, têm seus preços afetados pelo câmbio. O real teve uma desvalorização no ano passado de de 21,82%, com reflexos na inflação.
Economistas afirmam que mudar esse cenário depende de reformas econômicas para estabilizar a dívida pública — hoje em mais de 70% do PIB, e crescendo rapidamente. Reverter a crise de credibilidade é o desafio do governo para baixar a inflação. Lula tem dito que neste mandato não haverá mudanças na área fiscal, além do pacote aprovado em dezembro. O presidente não quer apertar o cinto e não teria apoio político para, por exemplo, promover hoje uma nova reforma da Previdência. O governo se restringe a contar com a sorte e com a efetividade de medidas de menor alcance, além da política monetária rígida, com juros que devem continuar subindo.
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Como não é possível ficar de braços cruzados diante da perda de popularidade, o governo tentou mostrar serviço. O ministro Rui Costa disse em entrevista que haveria “intervenções” para tentar baixar os preços dos alimentos. Num país que viveu a hiperinflação e recorreu a congelamentos de preços, a afirmação caiu muito mal. Costa recuou e mudou o termo para “medidas”. Mais uma vez, a comunicação do governo falhou. Para piorar, ideias como flexibilizar o prazo de validade de alguns produtos, divulgadas por setores do próprio governo, chegaram às redes e fizeram a festa de perfis oposicionistas.
Lula ainda tem uma aprovação razoável, e a oposição está fragmentada no debate sobre a disputa de 2026. Mas a percepção de que situação econômica deve piorar pode reduzir essa vantagem do governo. Pesquisa do Ipespe para a Febraban, em dezembro, mostrou que 68% da população acreditam que a inflação e o custo de vida vão subir. Em dezembro de 2023, essa era a opinião de 46% — alta de 22 pontos. Para 65%, o endividamento vai piorar; 64% preevem alta nos impostos. Quase metade dos entrevistados (44%) disseram que o poder de compra será reduzido, dez pontos percentuais acima do verificado um ano antes pelo instituto.
Lula tem razão ao afirmar que 2026 já começou. Se realmente desistir do quarto mandato, terá de preparar o sucessor, fechar alianças e reverter a sensação de pessimismo com o futuro. Afinal, eleições são uma disputa pelo otimismo.
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