David Emanuel de Souza Coelho *
Nada mais simbólico da situação atual de atraso do Brasil que o domínio do futebol e da política por dois personagens de ideais jurássicos.
Bolsonaro e Felipão compartilham uma personalidade truculenta e visões desatualizadas sobre o mundo. Enquanto o futuro presidente é um político nulo, sendo mais conhecido por suas declarações de ódio, o técnico do Palmeiras será eternamente lembrado pelo maior vexame da história do futebol brasileiro. Sobre o primeiro, eu já falei o suficiente em artigo anterior, falo agora do futebolista.
Justiça seja feita, Felipão já foi um técnico de relevância, mas foi superado pela história.
Após seu exílio no Uzbequistão perdeu complemente qualquer gancho com a dinâmica do futebol de vanguarda praticado na Europa ocidental. Fossificado em concepções há muito não mais praticadas no velho continente, foi alçado ao posto de liderança do time da CBF por figura patética – José Marin – e após um fiasco em sua passagem pelo Palmeiras em 2012.
Com práticas caducas e um esquema tático engessado, foi tratorado pela moderna seleção alemã, em pleno estádio do Mineirão. Em resposta ao massacre, apenas pode atacar e responder de forma arrogante aos questionamentos.
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Em outros lugares e épocas, Felipão teria sido ostracizado e uma profunda reformulação do futebol nacional teria sido levada a cabo. Não no Brasil. Como se não fosse o bastante a humilhação da goleada, o ex-técnico da CBF ganhou de prêmio o comando do Grêmio, sendo logo também demitido, após vexames contínuos.
Retorna agora para ser campeão brasileiro no mesmo Palmeiras que afundara seis anos atrás. Seria, então, caso para se pensar em uma possível melhora de Felipão, agora alçado ao lugar mais alto do futebol brasileiro.
Longe disso, porém.
Assim como no caso de Bolsonaro, penso que a grande questão sobre Felipão também é entender como, afinal de contas, foi possível a um sujeito medíocre e historicamente superado chegar a um papel de destaque no país. Acredito que a resposta tenha relação a crise insolúvel da estrutura social e institucional brasileira, a qual as forças dominantes do país respondem com soluções de caráter retroativo, elevando personalidades ligadas às mentalidades do passado brasileiro.
O Brasil encontra-se em situação de falência generalizada, falência de um modelo de reprodução social gestado após a ditadura militar e consolidado após o impeachment de Collor. Claramente tal modelo bateu no teto e seria necessário dar um salto adiante, rompendo o imobilismo estrutural e criando formas originais de sociabilidade.
No entanto, forças do atraso brecam tal salto, impondo um custoso imobilismo. Em uma tentativa de contornar o problema, tais forças recriam personagens e mentalidades já historicamente caducas, as trazendo para o centro da sociedade, como se fossem alternativas de mudança. E é isto que explica Bolsonaro presidente e Felipão campeão.
No futebol e na política a crise gera um rebaixamento das perspectivas e lideranças. Embora possuam diferenças particulares, o essencial do problema nos dois âmbitos está no afastamento deles em relação à vida cotidiana do povo brasileiro. Futebol e política não possuem mais contato com interesses e aspirações populares.
No caso da política, houve um profundo sequestro dos poderes institucionais por parte do grande capital, tornando o sistema impenetrável às demandas populares. Tal fato gerou descrédito do regime político e ampliou a sensação do “cada um por si”.
Já no futebol, o processo de elitização e de subordinação colonial – fenômenos símios, cujo centro está na transformação do esporte em puro commodity – conduziu o outrora mais popular esporte nacional a uma situação de decadência,
O Brasil virou mero fornecedor de “pé de obra”, exportando jogadores não apenas para o mercado europeu, mas também para países futebolisticamente inexpressivos, como Arábia Saudita, China, Emirados Árabes, Rússia, etc.
O resultado não poderia ser outro: transformado em simples produtor primário de jogadores e afastado do ethos popular, o futebol brasileiro definhou tecnicamente, passando a contar com jogadores de terceira categoria e refugos. A orientação do futebol nacional passou a ser exportar e não mais vencer.
A Copa do Mundo mostra sem sombra de dúvidas a deplorável situação técnica do futebol brasileiro, onde mesmo contando com jogadores nos principais times da Europa, as comissões técnicas brasileiras não conseguem impor um esquema tático à altura dos padrões europeus e capaz de dar unidade aos díspares sistemas jogados por cada atleta em seus clubes, fazendo surgir, no máximo, um amontoado de estrelas e não um time de futebol.
A mídia esportiva brasileira aponta corretamente o caráter tecnicamente inferior do futebol brasileiro, mas erram ao não descer aos níveis mais profundos, apontando o caráter estrutural do atraso técnico. Por estar também ela apegada à lógica colonial do futebol, não consegue perceber a natureza social do atraso brasileiro no esporte.
A saída, então, acaba sendo apegar-se ao passado e partir para romantismos. É justamente o romantismo dos “bons tempos” uma das fontes de que se alimentam Felipão e Bolsonaro. Afinal, se o ponto é voltar-se ao passado, nada melhor que figuras que personificam o historicamente superado em carne e osso.
O baixo nível técnico do futebol brasileiro torna-se passarela para o desfile do jurássico Felipão, mais ou menos como faz Bolsonaro no mundo da política, onde pode gabar-se de não ser corrupto, em um contexto dominado pela roubalheira generalizada. No fim, é o coroamento dos medíocres no império dos insignificantes.
Na verdade, Felipão e Bolsonaro são sintomas simétricos – em suas respectivas áreas – do impasse social brasileiro diante da sua crise: incapaz de avançar para o novo, o país prefere recuar para o velho. O atraso está justamente em perceber o nível de rebaixamento vivenciado na vida política e esportiva, mas buscar sua solução não indo à frente, mas tentando trazer de volta o que já se foi.
Para avançar, seria necessário romper com as forças do atraso, tomando uma decisão firme de modificar profundamente a realidade social brasileira, restaurando o futebol e a política para o povo brasileiro. Mas, isto, contudo, implicaria enfrentar poderosos interesses econômicos.
* Bacharel e mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais, onde atualmente cursa o doutorado. É colunista do site Naufrago da Utopia, de Celso Lungaretti.
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Se você tem uma visão diferente sobre este tema e gostaria de vê-la publicada aqui, mande sua sugestão de artigo para redacao@congressoemfoco.
Que texto mais raivoso e ressentido! Como é gostoso ver a choradeira da esquerda (essa sim jurássica) brasileira.
O Felipão é campeão brasileiro e, para citar Cid Gomes: “O Lula tá preso”. O mimimi é livre dos que não se conformam com a surra que tomaram nas urnas.
Muuuuuito bom, belíssima analise. Na Mosca. Parabéns!
Ah, agora é o país do atraso, mas nos últimos 15 anos era maravilhoso?
A opinião de vocês é tão confiável quanto uma premiação do jogo do bicho.
Exato. Essa gente preferiu votar num preposto de presidiário com 32 processos nas costas, na legenda do petrolão que arruinou nossa economia, e ainda se acham arautos da moralidade.
kkkkkkkkkkk aceita que doí menos! BRASIL A CIMA DE TUDO! *DEUS* A CIMA DE TODOS!!!
O articulista é um bestalhão.
57chevybelair ):
Oh, é claro que quando a ANTA burra corrupta era presidente era um avanço.
Não entendi o título do artigo?!. ” No Brasil do atraso ………..” Afigura-se-me que o articulista entende que o progresso estaria sendo capitaneado pela administração política anterior, do país ?! Não consegui alcançar a mensagem …. Realmente parece que o colunista é “Naufrago da Utopia”.