O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, reúne-se nesta terça (28) e quarta-feira (29) pela primeira vez sob a presidência de Gabriel Galípolo, que assumiu o posto no começo do ano, no lugar de Roberto Campos Neto. Pesquisa com 120 instituições financeiras, feita pelo jornal Valor Econômico, aponta que a expectativa do mercado é de alta de um ponto percentual na taxa básica de juros (Selic).
Caso a previsão se confirme, a taxa básica de juros passará de 12,25% ao ano para 13,25%, o que seria a quarta alta consecutiva. A taxa Selic é o principal mecanismo para controlar a inflação, que superou o teto da meta em 2024.
Mesmo com a gestão de Galípolo, homem de confiança do presidente Lula, a expectativa no mercado financeiro é de mais aumentos nos juros nos primeiros meses de 2025. O relatório Focus, pesquisa semanal feita com instituições financeiras pelo Banco Central, sugere que a Selic pode atingir 15% ao ano até o final de 2025. A primeira reunião do Copom no ano se dá em contexto de descumprimento da meta de inflação e aumento dos preços dos alimentos.
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Com a nova presidência, o BC deverá trabalhar para diminuir as incertezas acerca da nova composição da diretoria. O banco já indicou uma possível elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano até março.
Na última reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros de 11,25% para 12,25% ao ano e sinalizou a possibilidade de novos aumentos de 1 ponto percentual nas reuniões programadas para janeiro e março. A avaliação do grupo é de que o cenário se tornou mais adverso e menos incerto, permitindo essa sinalização sobre os passos futuros. Nas últimas semanas o órgão promoveu leilões para conter a alta do dólar. A moeda norte-americana teve valorização de 27% frente ao real ao longo deste ano.
Desde o início de seu atual mandato, o presidente Lula criticou Roberto Campos Neto diversas vezes pela política de juros do Banco Central. E chegou a chamá-lo de “adversário”. “Eu estou há dois anos governando com o presidente do Banco Central indicado pelo Bolsonaro. Ou seja, não é correto isso. O correto é que o presidente entre e indique o presidente do BC. Se não der certo, ele tira. Como o Fernando Henrique tirou três”, disse o presidente em entrevista a uma rádio baiana em julho.
Em 20 de dezembro, ao lado de Galípolo, Lula demonstrou entusiasmo com o novo comandante do BC. “Eu quero que você [Galípolo] saiba que está aqui por uma relação de confiança minha e de toda equipe do governo. E eu quero te dizer que você será, certamente, o mais importante do Banco Central que esse país já teve, porque você vai ser o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”, disse o presidente.
Roberto Campos Neto foi o primeiro presidente do BC a cumprir um mandato à frente da instituição. Pela lei, o mandato é de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República. Antes de iniciar a atual gestão, ele já ocupava o cargo havia dois anos por indicação de Jair Bolsonaro. Chamado de “menino de ouro” por Lula, Galípolo manteve uma boa relação com Campos Neto.
Gabriel Muricca Galípolo tem 42 anos. É o presidente do BC mais jovem no atual século. Com mestrado em Economia Política, foi professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Antes de sua nomeação para a diretoria do Banco Central, atuou como secretário-executivo no Ministério da Fazenda durante a gestão de Fernando Haddad. Seu vínculo próximo com o Executivo suscitou questionamentos no mercado financeiro. A desconfiança, no entanto, arrefeceu durante as participações dele nas reuniões do Copom, quando se alinhou a Campos Neto.
Lula nomeia Galípolo com a expectativa de virar o jogo na economia