Em 2011, o herdeiro de Leonel Brizola no comando do PDT, Carlos Lupi, era o ministro do Trabalho de Dilma Rousseff quando foi tolhido por denúncias de cobrança de propina na sua pasta. Era o momento em que Dilma, no seu estilo de baixa tolerância, fazia o que a imprensa chamava de “faxina”: as suspeitas do que ela chamava de “malfeitos” eram prontamente respondidas com o afastamento do malfeitor. Numa primeira reação, Lupi subiu no salto e disse que só sairia do Ministério do Trabalho “abatido a bala”. Em seguida, sua ficha caiu e, ao ser convocado para depor na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, Lupi fez um constrangedor pedido de desculpas à então presidente da República: “Dilma, eu te amo!”, bradou para os deputados. Dilma não se comoveu. Lupi foi demitido.
Antes mesmo do final da primeira semana de governo, Lupi tornou-se o protagonista da primeira saia justa da nova era Lula. Ao tomar posse como ministro da Previdência na terça-feira (3), o presidente do PDT propôs a realização de uma “antirreforma” da Previdência. Seria a retomada de antigas regras previdenciárias derrubadas pela reforma aprovada no primeiro ano do governo Bolsonaro. O problema é que Lupi não combinou “antirreforma” alguma nem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nem com qualquer outro integrante do governo.
O resultado é que Lupi será o motivo principal da primeira reunião ministerial que Lula marcou para a sexta-feira (6). A reunião deverá ter outras pautas. Inclusive, poderá ser esboçado o início da agenda de ações de combate à desigualdade. Mas, principalmente, Lula pretende passar uma ordem unida aos ministros para evitar outro episódio como o de Lupi. Lula dirá a seus ministros que todo anúncio de ação de governo precisa ser previamente combinado, e que ninguém tem autoridade para fazer anúncio nenhum se não for assim.
A história da “antirreforma” da Previdência provocou a imensa irritação de Lula. A declaração de Lupi jogou mais lenha na fogueira acesa pelo mercado financeiro, que desconfia da condução econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A Bolsa de Valores caiu 2% e o dólar teve alta de 1,77%. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, viu-se obrigado a desautorizar Carlos Lupi. “Só para tranquilizar. Eu sei que todo mundo tem direito a opinião, mas neste momento não há nenhuma proposta de reforma da Previdência ou coisa semelhante”, disse Costa na posse do vice-presidente Geraldo Alckmin como ministro da Indústria e Comércio.
Tema que gera desgaste
O tema da Previdência, colocado na forma como fez Lupi, gera desgastes por diversos motivos. No início do primeiro governo Lula, foi uma proposta de reforma da Previdência que provocou o primeiro grande racha. Políticos do PT, como a então senadora Heloisa Helena (AL), foram contrários à reforma. Recusando-se a votar a proposta, Heloisa Helena acabou expulsa do partido. E na sequência fundou, então, o Psol. Mais tarde, ela saiu do partido e filiou-se à Rede, partido pelo qual disputou vaga para deputada federal pelo Rio de Janeiro no ano passado.
Heloisa Helena, que acabou não sendo eleita, nunca se reconciliou com Lula e o PT. Mas tanto o Psol quanto a Rede apoiaram agora sua candidatura à Presidência e fazem parte do governo. Um apoio desde o primeiro turno. Ao contrário do que aconteceu com o PDT de Carlos Lupi.
PublicidadeNo primeiro turno, o PDT teve Ciro Gomes como candidato à Presidência. E Ciro imprimiu à sua candidatura um tom de crítica a Lula quase tão forte quando era a crítica que fazia a Jair Bolsonaro. Um tom que Lupi avalizou. Ciro, que em 2018, foi forte concorrente contra Bolsonaro e o então candidato do PT, Fernando Haddad, acabou tendo desempenho bem menor em 2022. Terminou as eleições em quarto lugar, atrás da agora ministra do Planejamento, Simone Tebet, do MDB.
O PDT declarou apoio a Lula no segundo turno, mas Ciro permaneceu e permanece distante ao novo governo, mesmo estando seu partido dentro dele. O apoio do PDT garantiu a Lupi um ministério. Mas Lula dirá a Lupi e aos demais ministros que a quota de participação não significa autonomia plena. Governo é equipe e unidade. Na Esplanada dos Ministérios, espera-se que outra vez Carlos Lupi abaixe a cabeça. Mas ele está dispensado de dizer “Lula, eu te amo!”.
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