Em encontro no Palácio do Planalto, os representantes dos maiores bancos do país deram uma demonstração de apoio ao ministro Fernando Haddad e a uma agenda de ajuste fiscal, com mudanças estruturais no gasto público. Apesar do tom amigável e franco, a conversa colocou o anfitrião na parede. Lula sempre usou retoricamente o “mercado” como um adversário oculto, um vilão nervoso que quer cortar as verbas dos programas voltados aos pobres.
Fernando Haddad e a colega Simone Tebet há tempos defendem essas mudanças no Orçamento federal e, nesta semana, resolveram colocar o assunto em destaque. Anunciaram, sem qualquer detalhamento, o envio ao Congresso de um pacote de medidas. A ministra disse que “chegou a hora de levar a sério a revisão do gasto público”. Haddad afirmou que compartilha com a “Faria Lima” as preocupações com a “dinâmica” do gasto e seus reflexos na dívida pública. Sua maior tarefa hoje é convencer o presidente de que essas inquietações são justas e, sobretudo, estarão na base da disputa eleitoral de 2026.
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Haddad repete de alguma forma o papel de Antonio Palocci no primeiro mandato de Lula. O então ministro, contrariando o discurso petista, deu continuidade à política econômica de Fernando Henrique Cardoso. Comprimiu as despesas e fez um ajuste fiscal. A diferença em relação ao atual governo, é que Lula aceitou que Palocci fizesse isso nos primeiros dois anos do mandato. Agora, o desafio do ministro da Fazenda é convencer o presidente de que é preciso levar adiante, no início da corrida para a eleição de 2026, medidas que podem reduzir o peso de programas sociais.
O ministro acena ao presidente com a possibilidade de um prêmio pelo sacrifício, a volta do grau de investimento. Em 2008, a agência Standard & Poor’s deu ao Brasil o selo de bom pagador. Sete anos depois, com a crise do governo Dilma, rebaixou o país. Em maio, a Moody’s subiu a nota de crédito de estável para positiva. Ter de volta esse “troféu” pode ser um ativo eleitoral para a reeleição, uma prova de que o governo agiu com responsabilidade fiscal. Depende, porém, de muitos fatores, como ressalvaram a Fitch e a Standard & Poor’s, que se recusaram a seguir a Moody’s. Além de um olhar benevolente com as contas públicas e o aumento da dívida, será preciso firme decisão política e apoio parlamentar.
Em junho, esse debate já estava na mesa, e Lula disse que discutiria o assunto com a equipe econômica. No entanto, reagiu às pressões com o discurso dúbio de sempre. “O problema não é que tem que cortar, o problema é saber se precisa efetivamente cortar, ou se a gente precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão”, afirmou à época.
A reunião com os banqueiros parece mostrar algum avanço nas convicções do presidente. A mudança de tom no governo, com a ênfase de Haddad e Simone no ajuste, refletem também, em alguma medida, o mau resultado do PT nas eleições municipais. O cardápio oferecido pela esquerda para resolver os problemas da sociedade perdeu o encanto, e essas forças ainda não foram capazes de oferecer alternativas. Lula tomou um choque de realidade. Vai ser preciso colocar em ação a “metamorfose ambulante” que diz ser.
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