O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) dá início nesta terça-feira (28) à sua primeira reunião sob a nova presidência, de Gabriel Galípolo. Esta também será a primeira reunião do Copom com a participação majoritária de diretores indicados pelo presidente Lula. Apenas dois dos nove participantes da decisão que poderá elevar a taxa básica de juros, a Selic, foram indicados no governo Jair Bolsonaro. Os demais chegaram aos cargos por indicação do atual presidente.
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Participarão pela primeira vez da reunião de dois dias Gilney Vivan, diretor de Regulação; Izabela Correia, diretora de Relacionamento Institucional, Cidadania e Supervisão de Conduta; e
Nilton José David, diretor de Política Monetária. Esse último cargo era ocupado por Galípolo no BC antes de ele ser indicado à presidência do banco por Lula.
Veja quem são os integrantes do Copom nesta primeira reunião de 2025:
Indicados por Lula
- Gabriel Galípolo (presidente)
- Paulo Picchetti (diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos)
- Rodrigo Alves Teixeira (Administração)
- Ailton Aquino (Fiscalização)
- Gilney Vivan (Regulação)
- Izabela Correia (Relacionamento Institucional, Cidadania e Supervisão de Conduta)
- Nilton José David (diretor de Política Monetária)
Indicados por Bolsonaro
- Diogo Abry Guillén (diretor de Política Econômica)
- Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro e de Resolução)
Previsão do mercado
Pesquisa com 120 instituições financeiras, feita pelo jornal Valor Econômico, aponta que a expectativa do mercado é de alta de um ponto percentual na Selic. Caso a previsão se confirme, a taxa básica de juros passará de 12,25% ao ano para 13,25%, o que seria a quarta alta consecutiva. A taxa Selic é o principal mecanismo para controlar a inflação, que superou o teto da meta em 2024.
O cenário atual é marcado pela valorização do dólar e pelo aumento dos preços dos alimentos, ponto que tem pressionado o governo a formular medidas para baratear o preço dos produtos nas gôndolas. O Copom se reúne a cada 45 dias para decidir a taxa básica de juros. Na declaração emitida após a última reunião em dezembro, o comitê já havia sinalizado sua intenção de aumentar a taxa em 1 ponto percentual nas reuniões de janeiro e março. Essa decisão foi fundamentada pelas crescentes incertezas externas e pelas controvérsias em torno do pacote fiscal do governo no final do ano passado.
Após chegar a 10,5% ao ano entre junho e agosto do ano passado, a Selic começou a ser elevada em setembro, primeiro com um aumento de 0,25 ponto, seguido de um acréscimo de 0,5 ponto e, posteriormente, 1 ponto percentual. Na última ata, o Copom ressaltou a continuidade do ciclo de alta da Taxa Selic. O comitê indicou que a situação econômica atual requer uma política monetária mais restritiva, reafirmando sua intenção de implementar duas elevações de 1 ponto. O Banco Central também destacou a recente valorização do dólar e o aumento da inflação como fatores que justificam essa abordagem.
O boletim Focus mais recente aponta que a previsão de inflação para 2025 subiu de 4,96% para 5,5% em um intervalo de quatro semanas. Esse índice excede o teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), fixada em 3% para este ano, podendo alcançar 4,5% devido ao intervalo de tolerância de 1,5 ponto.
Efeitos da Selic
A Selic serve como referência para as transações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), influenciando outras taxas no sistema econômico. Ela é uma ferramenta central do Banco Central para controlar a inflação, e a instituição realiza operações de mercado aberto diariamente, comprando e vendendo títulos públicos para manter a taxa de juros alinhada com os valores definidos nas reuniões.
Quando o Copom decide elevar a taxa Selic, o objetivo é conter uma demanda aquecida, o que, por sua vez, afeta os preços, uma vez que taxas mais altas dificultam o acesso ao crédito e promovem a poupança. Essas decisões podem ter um efeito negativo sobre o crescimento econômico. Além disso, os bancos consideram outros elementos ao determinar as taxas para os consumidores, como o risco de inadimplência e os custos operacionais.
Reduzir a Selic pode tornar o crédito mais acessível, incentivando a produção e o consumo, o que por sua vez ajuda a controlar a inflação e a estimular o crescimento da atividade econômica. As reuniões normalmente ocorrem em dois dias seguidos e o calendário de reuniões de um determinado ano é divulgado até o mês de junho do ano anterior.
“Menino de ouro” e autonomia
Desde o início de seu terceiro mandato, o presidente Lula criticou o então presidente do BC, Roberto Campos Neto, diversas vezes pela política de juros do Banco Central. “Eu estou há dois anos governando com o presidente do Banco Central indicado pelo Bolsonaro. Ou seja, não é correto isso. O correto é que o presidente entre e indique o presidente do BC. Se não der certo, ele tira. Como o Fernando Henrique tirou três”, disse o presidente em entrevista a uma rádio baiana em julho.
Em 20 de dezembro, ao lado de Galípolo, Lula demonstrou entusiasmo com o novo comandante do BC. “Eu quero que você [Galípolo] saiba que está aqui por uma relação de confiança minha e de toda equipe do governo. E eu quero te dizer que você será, certamente, o mais importante do Banco Central que esse país já teve, porque você vai ser o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”, disse o presidente.
Roberto Campos Neto foi o primeiro presidente do BC a cumprir um mandato à frente da instituição. Pela lei, o mandato é de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República. Antes de iniciar a atual gestão, ele já ocupava o cargo havia dois anos por indicação de Jair Bolsonaro. Chamado de “menino de ouro” por Lula, Galípolo manteve uma boa relação com Campos Neto.
Gabriel Muricca Galípolo tem 42 anos. É o presidente do BC mais jovem no atual século. Com mestrado em Economia Política, foi professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Antes de sua nomeação para a diretoria do Banco Central, atuou como secretário-executivo no Ministério da Fazenda durante a gestão de Fernando Haddad. Seu vínculo próximo com o Executivo suscitou questionamentos no mercado financeiro. A desconfiança, no entanto, arrefeceu durante as participações dele nas reuniões do Copom, quando se alinhou a Campos Neto.
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