Foram publicados na edição desta terça-feira (31) do Diário Oficial da União os decretos do presidente Lula que nomeiam os novos diretores e o novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. O economista exercerá seu mandato até 31 de dezembro de 2028. A posse oficial será realizada nesta quarta-feira (1º), já que o mandato de Roberto Campos Neto se encerra hoje.
Também assumirão:
- Nilton David, que atuava na tesouraria do Bradesco, assumirá a diretoria de Política Monetária, sucedendo Galípolo, com um mandato até 28 de fevereiro de 2027.
- Gilneu Vivan e Izabela Correa, que ocuparão as diretorias de Regulação e de Supervisão de Conduta, respectivamente, com mandatos até 31 de dezembro de 2028. Eles assumem os cargos deixados por Otávio Damaso e Carolina de Assis Barros.
Com a nova presidência, o BC deverá trabalhar para diminuir as incertezas acerca da nova composição da diretoria. O banco já indicou uma possível elevação da taxa Selic para 14,25% ao ano até março.
Na última reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa básica de juros de 11,25% para 12,25% ao ano e sinalizou a possibilidade de novos aumentos de 1 ponto percentual nas reuniões programadas para janeiro e março. A avaliação do grupo é de que o cenário se tornou mais adverso e menos incerto, permitindo essa sinalização sobre os passos futuros. Nas últimas semanas o órgão promoveu leilões para conter a alta do dólar. A moeda norte-americana teve valorização de 27% frente ao real ao longo deste ano.
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Entusiasmo
Desde o início de seu atual mandato, o presidente Lula criticou Roberto Campos Neto diversas vezes pela política de juros do Banco Central. E chegou a chamá-lo de “adversário”. “Eu estou há dois anos governando com o presidente do Banco Central indicado pelo Bolsonaro. Ou seja, não é correto isso. O correto é que o presidente entre e indique o presidente do BC. Se não der certo, ele tira. Como o Fernando Henrique tirou três”, disse o presidente em entrevista a uma rádio baiana em julho.
No último dia 20, ao lado de Galípolo, Lula demonstrou entusiasmo com o novo comandante do BC. “Eu quero que você [Galípolo] saiba que está aqui por uma relação de confiança minha e de toda equipe do governo. E eu quero te dizer que você será, certamente, o mais importante do Banco Central que esse país já teve, porque você vai ser o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”, disse o presidente.
Lula atribui à política de juros de Roberto Campos Neto as dificuldades que tem enfrentado para alavancar a aprovação popular de seu governo. Na avaliação do petista, a elevada taxa básica de juros atrapalha a percepção dos indicadores positivos alcançados pela economia no atual governo. A confiança do mercado na política fiscal do governo piorou ao longo do ano, resultando em impactos negativos nos indicadores econômicos.
Mesmo assim, a economia permaneceu aquecida, o que gerou reflexos positivos em diversos índices de atividade, especialmente no que diz respeito ao mercado de trabalho, com a criação contínua de vagas formais, o aumento da população ocupada e a queda na taxa de desocupação no país.
Passagem de bastão
Roberto Campos Neto foi o primeiro presidente do BC a cumprir um mandato à frente da instituição. Pela lei, o mandato é de quatro anos, não coincidentes com o do presidente da República. Antes de iniciar a atual gestão, ele já ocupava o cargo havia dois anos por indicação de Jair Bolsonaro. Chamado de “menino de ouro” por Lula, Galípolo manteve uma boa relação com Campos Neto. Os dois trocaram afagos e elogios durante entrevista coletiva no último dia 19.
Na ocasião, Campos Neto afirmou que, durante a transição de mandato, buscou “dar cada vez mais importância às opiniões dos sucessores na diretoria”.
“Essa foi a tônica das últimas duas reuniões, com peso maior obviamente na última reunião. O que eu quero dizer é que o peso deles [indicados por Lula] foi cada vez sendo maior que o meu, até culminar na última reunião. Nós entendíamos que isso facilitava a passagem do bastão. Tenho certeza que o BC esta bem preparado”, disse.
Histórico
Gabriel Muricca Galípolo tem 42 anos. É o presidente do BC mais jovem no atual século. Com mestrado em Economia Política, foi professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Antes de sua nomeação para a diretoria do Banco Central, atuou como secretário-executivo no Ministério da Fazenda durante a gestão de Fernando Haddad. Seu vínculo próximo com o Executivo suscitou questionamentos no mercado financeiro.
Em 2009, fundou a Galípolo Consultoria, da qual foi sócio-diretor até 2022. Foi presidente do Banco Fator entre 2017 e 2021. Nesse mesmo ano, aproximou-se do presidente Lula após participar de uma live com o petista e outros integrantes do mercado financeiro. Lula ficou satisfeito em saber, por meio de Galípolo, que nem todo o mercado se opunha à sua volta ao Planalto, e que havia profissionais dispostos a realizar negócios, independentemente da linha política do então presidente, Jair Bolsonaro.
Antes de Galípolo, o mais jovem a estar no comando do BC foi Armínio Fraga, que assumiu a presidência do banco em março de 1999, aos 41 anos.
Indicado por Lula, o nome dele foi aprovado pelo Senado em outubro por ampla maioria: 66 votos a 5.
Senado aprova Gabriel Galípolo para comando do Banco Central a partir de 2025
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