A decisão do Banco Central de elevar em um ponto percentual a taxa básica de juros, para 12,25%, e de anunciar um aumento de pelo menos mais dois pontos até março projeta um cenário econômico complicado para a reeleição de Lula — ou de um eventual substituto. Sustentar o crescimento econômico com uma taxa real de juro acima de nove pontos percentuais é hipótese difícil. O BC afirmou que a “percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou de forma relevante os preços dos ativos e as expectativas dos agentes”. Ou seja, financiar o governo brasileiro está custando mais caro no mercado, com reflexos para a inflação.
Economistas levantam dúvidas sobre a eficácia do remédio amargo aplicado pelo Banco Central. Temem uma situação chamada de dominância fiscal, quando a política monetária austera deixa de fazer efeito e a inflação segue em alta. Seria o pior dos mundos: crescimento em queda, preços em alta, especialmente em alimentos e bens de consumo, e dólar num patamar acima dos inéditos R$ 6 atuais. Para evitar esse quadro de descontrole, o governo será pressionado a tomar decisões concretas que indiquem maior contenção das contas públicas.
O pacote fiscal apresentado por Fernando Haddad foi mal recebido pelo setor financeiro e ampliou a desvalorização do real, aliado a fatores externos. No Congresso, Arthur Lira antecipou dificuldades para a aprovação, enquanto o Centrão pressiona pela liberação das emendas parlamentares. Com Lula internado para uma cirurgia de emergência, decorrente do tombo de dias atrás, as negociações do governo com o comando do Legislativo perderam uma semana, retrato dos problemas na articulação política e na fragilidade das alianças partidárias do governo.
Os parlamentares, porém, ocuparam-se de outros projetos, em completa dissonância com os objetivos de conter o crescimento das despesas. Por exemplo, subsídios ao setor elétrico estimados em R$ 41 bilhões no ano que vem. Os jabutis na legislação para a energia eólica offshore devem significar uma conta de outros R$ 25 bilhões ao ano. Renegociar as dívidas dos estados custará mais R$ 44 bilhões. Além de retrocessos como o projeto que traz de volta o voto impresso.
Lula, pessoalmente, ainda conta com um bom nível de aprovação, como mostrou a pesquisa Genial-Quaest divulgada ontem: 52% contra 47% de desaprovação. No entanto, há sinais de alerta. O levantamento mostrou perda de apoio fora da margem de erro em Pernambuco, de 73%, em abril, para 65%; em São Paulo, de 5% para 43% no mesmo período; e em Goiás, de 49% para 41%. Desde fevereiro, a avaliação positiva do governo perdeu sete pontos percentuais e está em 33%.
O instituto também mediu as intenções de voto para presidente. Se a disputa fosse hoje, Lula venceria todos os possíveis adversários. Contra Tarcísio de Freitas, 52% x 26%. Ronaldo Caiado perderia por 54% a 20%. E Bolsonaro, caso pudesse concorrer, seria derrotado por 51% a 35%. Se o candidato governista fosse Fernando Haddad, ele venceria com folga tanto Tarcísio tanto Caiado.
O presidente tem esses trunfos, e, oficialmente, ninguém no PT admite outro candidato para 2026 que não seja ele. O eleitor, segundo a Quaest, está dividido: 52% acham que ele não deveria tentar a reeleição — eram 58% em outubro. Nessa hipótese, para 27% o candidato deveria ser Haddad. Outros 17% citam Ciro Gomes (PDT); Alckmin teve 14% das preferências.
A decisão caberá, claro, a Lula, que deverá pesar condições de saúde, idade e o cenário econômico. Se preferir não enfrentar a briga pelo quarto mandato aos 81 anos — e a sétima disputa presidencial —, Lula terá de usar toda a habilidade acumulada em mais de 40 anos para escolher seu substituto e, ao mesmo tempo, não virar um “pato manco” — sem contar a administração da economia. Vai precisar domar as divisões internas do PT, que torce o nariz para o ministro da Fazenda, e montar uma aliança sólida com os partidos de centro. Seja qual for o caminho do presidente, descansar parece fora de cogitação.
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