O acordão que reúne pelo menos uma dezena de partidos em torno de Hugo Motta para a disputa pela presidência da Câmara parece tornar inviáveis as candidaturas de Elmar Nascimento e Antonio Brito. O apoio do PT a Motta foi decisivo para, aparentemente, mudar o jogo. Lula aceitou o acerto, que, se bem sucedido, vai fortalecer a direita às vésperas da eleição presidencial de 2026.
O PT saiu massacrado das eleições municipais. Alguns de seus dirigentes, como o ex-ministro José Dirceu, agora reabilitado pelo STF e dedicado à “reconstrução” do partido, pregam a ampliação do diálogo com o centro e a centro-direita para chegar a 2026 com alianças mais fortes. Lula preferiu endossar o candidato do direitista Republicanos, em vez das opções mais centristas, os baianos Brito e Elmar.
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O partido está sem rumo e imerso em uma luta interna. A presidente, Gleisi Hoffmann, e o ministro Alexandre Padilha discutem em público, atiçando as torcidas. Eles têm dois anos para se acertar e renovar o discurso. É tarefa difícil, como mostrou o deputado mineiro Reginaldo Lopes, num duro diagnóstico, em entrevista a Julia Duailibi: “O governo perdeu foco. As políticas públicas que transformaram a vida do povo foram criadas nos governos Lula 1 e 2, e o povo brasileiro já foi muito generoso conosco; ganhamos cinco vezes Presidência da República. Nós temos dificuldades de compreender que aumentamos a renda per capita nos primeiros governos do PT, mas agora, eles se transformaram em empreendedores, e (o governo) não tem nenhuma proposta para aumentar a renda e o sucesso desse trabalhador”, disse, enumerando outros desafios para o partido e o governo, como as igrejas evangélicas e seu papel social e o novo mundo do trabalho.
A aliança em torno de Motta ocorre no momento em que essas questões afrontam o PT e o governo. O deputado é companheiro de partido do governador paulista Tarcísio de Freitas, um dos nomes da direita na lista de presidenciáveis, sob a asa de Jair Bolsonaro.
Em 2023, Lula apoiou a reeleição de Arthur Lira, um fiel aliado do ex-presidente. Retribuiu o esforço que o presidente da Câmara fez ao aprovar, ainda na gestão Bolsonaro, a PEC da transição, que rendeu ao governo que se iniciaria cerca de R$ 170 bilhões para gastar. À época, o senador Renan Calheiros, inimigo de Lira, aconselhou Lula a liderar uma articulação com partidos de centro e ter uma candidatura alternativa. Sem sucesso.
Agora, Lula repete o gesto pragmático. As eleições municipais mostraram que o centro — representado por MDB, PSD e União Brasil — é o campo de disputa entre direita e esquerda. Ao avalizar o compromisso do PT com Motta, ele marca ponto para o adversário. É uma insólita aliança em que o presidente da República e seu partido correm o risco de ficar para trás.
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