Num dos salões do Copacabana Palace, no Rio, ministros e autoridades do governo Lula exibiam ontem a executivos e investidores, o potencial do Brasil como porto seguro para seu dinheiro — energia limpa, segurança institucional, grande produtor de alimentos. O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse à plateia que o único risco que os estrangeiros corriam ao investir no Brasil seria o de não querer sair mais daqui. O esforço aconteceu no FII Priority Summit, conhecido como “Davos do Deserto”, organizado por um fundo soberano ligado ao governo da Arábia Saudita que administra US$ 1 trilhão.
O presidente Lula gravou um vídeo para o evento. Para convencer os donos do dinheiro, disse que o aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros vão reduzir o déficit sem afetar o investimento público. Do lado de fora, a fala do presidente, defendendo um ajuste com base em aumento de receita, e sem falar em cortes de gastos, produziu nos mercados o efeito contrário ao desejado e somou-se à sucessão de problemas que o governo enfrenta no Congresso. No fim do dia, a percepção de risco afastava a chance de grandes negócios.
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As derrotas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como a devolução da medida provisória que restringia o uso de créditos tributários, e as falhas na articulação política estão corroendo a ideia de que o governo tem compromisso com o equilíbrio fiscal. Haddad vem sendo o fiador desse compromisso, mas não encontra no governo e no PT — ou no Planalto — apoio a suas ideias. Lula mandou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, agradecer a Rodrigo Pacheco pela devolução da MP. Em nenhum momento brigou pela ideia ou ao menos disse que era preciso encontrar fonte de recursos para bancar a desoneração da folha de pagamentos de 17 setores da economia e dos pequenos municípios. Haddad falou sozinho e, derrotado, disse que não tinha plano B.
Logo em seguida, passou a circular no Congresso um conjunto de propostas para aumentar o caixa do governo, como a mudança nos pisos constitucionais de gasto em saúde e educação, equiparando-os aos limites do arcabouço fiscal. O assunto é delicado para os partidos da esquerda, que não querem apoiar uma medida aparentemente impopular, em ano eleitoral.
A Câmara mostrou que está alheia a essas questões e prefere investir em outra pauta — com larga vantagem para a oposição. Arthur Lira comandou uma sessão que, em 24 segundos, aprovou urgência para votação de um projeto que equipara aborto a homicídio quando realizado após 22 semanas de gestação, mesmo quando a mulher for vítima de estupro. Um retrocesso. Também avançou a PEC que, contratando decisões do STF, criminaliza o porte e posse de drogas. Os deputados ainda decidiram acelerar a análise do projeto que limita delações premiadas de quem estiver preso — segundo Lira, um consenso entre parlamentares.
Lula está no encontro do G7, na Itália. Mais um palco para vender o Brasil como paraíso dos investimentos e exercitar a diplomacia presidencial, atividade que parece ter sua preferência absoluta nesse terceiro mandato. Na volta para a casa, porém, o presidente terá de decidir o rumo de seu governo na economia e evitar a quebra de confiança — e a fuga de investimentos. O avanço da direita nas eleições para o Parlamento Europeu é um alerta para o que pode estar por vir também no Brasil, nas disputas municipais de outubro. O comportamento do Congresso é uma boa pista.
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